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Dayane Pimentel (PSL-BA) entrevistada por Felipe Moura Brasil

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transcrição de áudio

A deputada federal Professora Dayane Pimentel (PSL-BA) foi entrevistada por Felipe Moura Brasil, em O Antagonista. Segue transcrição de áudio em estilo acadêmico.

Leia também a entrevista de Júnior Bozzello – https://transcricoes.com.br/junior-bozzella-psb-sp-entrevistado-por-felipe-moura-brasil/

Convenções adotadas na transcrição

  1. palavra… = alongamento vocálico, hesitação ou interrupção de ato de fala.
  2. … palavra = continuação da fala do turno do falante que foi interrompida.
  3. (…) = demonstração de corte de fala considerado não relevante.
  4. [01:46:09] = marcação de tempo [hh:mm:ss](*)
  5. (hipótese) [00:00:00] = hipótese de escuta ou fonográfica (o som que conseguimos entender)
  6. (inint) [00:00:00] = trecho ou palavra que não conseguimos compreender.
  7. ((palavra)) = comentários do transcritor.

(*) A marcação de tempo ocorre uma vez a cada 5 linhas para cima ou para baixo caso ocorram muitos (inint) ou (hipótese) devidamente sinalizada com [hh:mm:ss]. Uma hipótese de escuta é sinalizada apenas uma vez e após sua ocorrência deixa de ser sinalizada como tal.

Identificação de falantes

  • P1: Felipe Moura Brasil
  • F1: Deputada federal Dayane Pimentel (PSL-BA)

((início da transcrição))

Felipe Moura Brasil entrevista a deputada federal Professora Dayane Pimentel (PSL-BA)

Felipe Moura Brasil: Salve, salve, sejam bem-vindos leitores e expectadores de O Antagonista, eu sou Felipe Moura Brasil e recebo mais uma convidada hoje, uma mulher especial à essa minha série de entrevistas aqui durante a quarentena, eu que estou trabalhando de casa em home office, e ela é a deputada federal Professora Dayane Pimentel do PSL da Bahia. Boa tarde, deputada, seja bem-vinda. [00:00:22]

Professora Dayane Pimentel: Boa tarde, Felipe, muito obrigada pela recepção. E é uma satisfação muito grande estar aqui contigo, sou uma grande admiradora do teu trabalho, tá?

Felipe Moura Brasil: Obrigado, deputada. Tenho entrevistado muitos homens aí da política, eles que estão sempre batendo boca aí no debate público, mas há mulheres também, e a senhora representa uma parcela desse eleitorado. E eu quero saber… aliás, primeiro eu quero informar aqui ao público de O Antagonista que a professora Dayane Pimentel, ela estava junto com a turma do Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, e acabou virando uma dissidente do bolsonarismo, uma deputada do PSL, partido pelo qual Jair Bolsonaro se elegeu e do qual depois acabou saindo, houve aquela cisão e ela ficou na turma que tem críticas ao governo, aos comportamentos que o Jair Bolsonaro e as decisões que ele tomou, quando já estava no poder, e que na visão da deputada, pelo que vejo aí da participação dela no Congresso e nas redes sociais, está em desacordo inclusive com várias bandeiras de campanha. Então assim, como eu perguntei para o deputado federal Júnior Bozzella, eu quero saber um pouco do histórico dessa aliança, e depois a gente passa para a fase do rompimento. Então, como é que isso tudo começou? [00:01:42]

Professora Dayane Pimentel: Então, Felipe, na verdade, eu venho de uma família que é toda voltada, militantes mesmo, parentes que são milLitantes da esquerda. Então, toda a minha formação social, estudantil, e até como profissional, já que eu sou uma docente, foi muito através do viés ideológico de esquerda. Eu votei no Lula, eu votei na Dilma, obviamente muito mais naquela época por uma questão do social que eu vivia, das defesas que eu ouvia sobre a esquerda mais em relação ao PT do que necessariamente por ter entendido a política e feito isso de forma mais consciente. E aí, quando foi em 2012, eu me casei. E o meu esposo, Felipe, ele sempre foi direitista, ele já nasceu com esse viés ideológico de direita, centrado no capitalismo. E ele morou muito tempo nos Estados Unidos. Quando ele veio ao Brasil, em uma das suas vindas ao Brasil, ele me conheceu e nós nos casamos. E em pouco tempo, acho que 3-4 meses depois de casados, ele me levou para passar uma temporada nos Estados Unidos, justamente para abrir a minha mente em relação a outros vieses ideológicos, ao viés ideológico que ele tanto defendia que era o de direita. E aí eu comecei a ler, li o seu livro, o seu livro foi o primeiro ((acha graça)), aqueles textos que você orgulho do Professor Olavo de Carvalho, e isso foi despertando em mim. Na verdade o que eu defendia sempre foi uma segurança rígida, aquela questão de a gente ter uma segurança mais eficaz. E participei de muitos movimentos na época da saída da Dilma Rousseff, junto com o meu esposo, e isso me permitiu conhecer essa literatura contrária à literatura que eu até então, votava, e entender que era aquilo que eu gostaria de defender, tendo uma consciência política. Fiquei gravida, então, isso aí aflorou ainda mais, é quando nós estamos gestantes – viu Felipe? – a gente… os nossos hormônios ficam mais aflorados e a gente começa a entender o mundo de uma forma diferente, e eu comecei a me questionar: “qual é o mundo que eu quero construir para o meu filho?”. Então, eu comecei a militar na internet, defendendo o conservadorismo moral e o liberalismo econômico, a retomada de indústrias aqui, abrir para o mercado, sobretudo uma aliança melhor com os Estados Unidos, eu tinha já retornado ao Brasil, tinha voltado dessa temporada, então, estava com a mente muito aberta para essa questão do capitalismo. E comecei a fazer essa militância. E aí, eu saí da sala de aula no período que eu estava gestante, e eu fiquei muito ociosa. Como eu sou professora de linguagens, de português, redação, o meu tempo era todo usado para escrever, para corrigir. Então, eu, muito ociosa, eu fui fazer essa militância na internet. E aí, nesse período, deu tempo de o menino nascer, e aí eu sempre fazendo essa militância, até que um dia eu gravei um vídeo com o meu filho no colo, mas um vídeo assim, para passar para os amigos, para o grupo dos professores das escolas onde eu lecionava, mais para mostrar a minha posição do que por ativismo, já que o meu alcance era nulo. Eu fazia os comentários, militava, mas era muito curto. E esse vídeo chegou ao Bolsonaro e chamou a atenção dele. E aí eu recebi uma ligação dizendo que o meu vídeo estava na página do Bolsonaro. O que é que eu dizia nesse vídeo? Eu dizia que nós precisávamos reestruturar a nossa educação, reestruturar o nosso país e que Bolsonaro era o nome para isso, porque ele trazia essas ideias, eu desconhecia qualquer outro pré-candidato, na época à presidência, que defendia aqueles conceitos que eu defendia. Então, era por isto que eu estava dando o meu apoio ao então, deputado Bolsonaro e caso ele viesse a se candidatar, eu estava disposta a apoiá-lo. E aí, com esse vídeo, a gente se aproximou. Eu liguei para agradecer pela postagem e me apresentar, e foi quando eles disseram: “Bolsonaro estava te procurando. Ele achou muito interessante essa ideia de ter uma mulher mãe de família nordestina ((enfatizou)) e professora, substantivos que geralmente vinham combater aquilo que diziam sobre ele: sulista, avesso à classe intelectual, que… machista”… enfim. E aí a gente se aproximou e ele me fez essa proposta de iniciar um movimento na Bahia, para que a gente pudesse crescer essa onda conservadora. E caso ele não viesse a candidato à presidência, Felipe, porque na época, nesta época as chances eram muito remotas, nem partido ele tinha, mas que pelo menos eu ajudasse a construir um grupo de conservadores, de pessoas de direita que pudessem pleitear e que está hoje no Congresso Nacional fazendo o trabalho que hoje eu faço. Então, o que aconteceu…

Felipe Moura Brasil: Inclusive no Nordeste, a senhora é uma deputada da Bahia, o Nordeste historicamente nos últimos anos, principalmente, é um reduto eleitoral petista. Houve, com a eleição de Jair Bolsonaro, uma diminuição, claro que não foi só a eleição que representou isso, mas todo o desgaste do PT em razão da roubalheira nas estatais, do financiamento de ditaduras, de uma série de imoralidades e ilegalidades cometidos pelos petistas. Então, a sua representatividade num reduto eleitoral do PT também tinha a sua importância para levar uma outra mensagem para a população baiana e do Nordeste como um todo. [00:07:19]

Professora Dayane Pimentel: Exatamente. Era uma questão de realmente combater de forma existencial as ideias. Aqui eu estou falando da Bahia – 80% na época – aqui as pessoas se ligavam à esquerda. Que tem muita gente aqui, Felipe, que vota no PT, vota em partidos de esquerda, mas não sabem fazer essa secção entre esquerda e direita. As pessoas votam porque encontram nos discursos propostas mais próximas à sua realidade. E aqui a gente tem uma Bahia que depende muito do assistencialismo, seja de uma bolsa-família, seja desses discussão mais humanitários ((enfatizou)) que a esquerda gosta muito de atrelar as suas siglas a esses discursos. Então, quando o presidente Bolsonaro me convidou, eu sabia que eu ia ter uma série de obstáculos, mas eu estaria lutando por algo que eu acreditava. E o meu esposo, ele sempre me deu muita força. Porque ainda que nós não tivéssemos sido vitoriosos tanto em relação à cadeira do presidente, quanto à minha cadeira, nós estaríamos abrindo um leque de opção para a população, para que a população conhecesse as nossas ideias. Então, eu deixei isso muito claro para o Bolsonaro, disse para ele que não iria ser fácil para mim. Ele ainda não tinha esses 2% a nível nacional ((enfatizou)), ou seja, na Bahia eu já conversei com pessoas na época, que quando eu falava de Bolsonaro, as pessoas não faziam a menor ideia ((enfatizou)) de quem seria. E obviamente pouquíssimas ((enfatizou)) pessoas já tinham escutado falar alguma coisa sobre ele, sobretudo pessoas que defendem essa questão da segurança mais rígida, encontrava no Bolsonaro um representante. Mas assim, a gente não pode nem falar em porcentagem, em relação a essas pessoas, porque era muito, muito, muito remoto mesmo. E aí eu enfrentei. Enfrentei familiares, enfrentei toda minha classe, enfrentei uma série de alunos que não estavam, mas porque em sala de aula eu nunca politizei, eu não era uma política na sala de aula, então, ninguém sabia se eu era esquerda ou se eu era de direita. Mas quando eu venho apresentar que eu sou de direita, e os alunos sempre ouvindo professores que se rebelavam como esquerda, para eles foi um choque muito grande. Então, eu enfrentei tudo isso, mas com muita seriedade, tentando trazer as ideias que nós defendíamos e mostrar para a população. E aí as pessoas viam em mim uma liderança, e as pessoas me buscavam aqui na Bahia. E eu fui construindo um grupo, eu cheguei a ter mais de 250 integrantes, cada um desses integrantes representando um município, aqui na Bahia são 417, e essas pessoas também faziam outras células, ou seja, eu abri um caminho aqui na Bahia para um movimento muito expressivo para o presidente Bolsonaro, que na época era apenas um pretenso à pré-candidatura. E aí eu fiz todo o possível porque eu acredito nas bandeiras que nós defendíamos, continuo acreditando e votando por elas. E justamente é por isso que hoje eu me coloco como uma crítica do presidente Bolsonaro. Primeiro porque eu tenho legitimidade, eu ajudei a construir o presidente Bolsonaro.

Felipe Moura Brasil: Deixa eu abrir um parênteses por aqui, deputada, só fazer um parênteses para contextualizar para o público, que talvez não esteja associando o nome à pessoa, ou talvez não tenha visto uma postagem de O Antagonista no dia 22 de abril de 2020, com o título – vale a pena vocês procurarem depois que acabarem de assistir a essa entrevista – o título O barraco entre bolsonaristas e a professora dissidente – e aí, lá nessa postagem, está um resumo do que aconteceu de treta nas redes sociais entre representantes do bolsonarismo, como Carlos Bolsonaro e a deputada federal Bia Kicis, e a professora Dayane Pimentel, que havia escrito “não tenho ditador de estimação” depois daquela manifestação pró- golpe, que tinha o pessoal com cartazes do AI5, de intervenção militar e etc. Aí acabou sendo acusada de ter explorado Jair Bolsonaro durante a campanha e de agora chamá-lo de ditador. Então, a senhora, deputada, acabou escrevendo o seguinte: “ele me procurou, ele me convidou, ele se aproveitou de mim e mais, limpa, enquanto a dele bombava de defeitos”. Essa foi a sua declaração que mais atingiu em chio ali esse pessoal, e a Bia Kicis reagiu com um palavrão, eu vou ter que repetir, abro aspas: “E pensar que eu já gostei dessa merdinha” fecho aspas, e o Carlos Bolsonaro tentou uma ironia, aspas: “o desconhecido e irrelevante Jair Bolsonaro usou imagem dessa grandiosíssima para se promover. Sensacional, meu Deus”, fecho aspas. E aí vem todo o embate que se deu em seguida com aquela sua carta-resposta, cujos temas, é claro, a gente vai poder aqui detalhar nessa entrevista também. Então, quer dizer, a senhora acabou sendo acusada de ter surfado na onda Bolsonaro, e como é comum, como tem sido cada vez mais comum, acabar sendo chamada de traidora. E o que a senhora está colocando é que a senhora defendia as bandeiras, os princípios, as ideias, não as pessoas, não o grupo político. É isso? [00:12:35]

Professora Dayane Pimentel: Eu defendi muito o Bolsonaro porque eu enxergava nele a personificação dessas ideias. Eu passei praticamente três anos da minha vida com a camisa do Bolsonaro. Então, mais, por isso mesmo eu me sinto confortável em fazer cobrança. Inclusive, Felipe, eu costumo dizer que se os políticos da esquerda fizessem essa mesma cobrança na época em que a esquerda governou, talvez nós não tivéssemos tanta roubalheira, porque os deputados iriam se manifestar e poderiam estagnar a tempo muito da usurpação que foi feita. Eu acho engraçado…

Felipe Moura Brasil: Sem sombra de dúvida. Eu faço um parênteses só para concordar com esse ponto, e eu já escrevi a respeito disso, não só na área política mas sobre a área cultural e intelectual, de que durante os governos do PT faltou muita crítica ao petismo, por parte da esquerda. E agora a gente está vendo isso acontecer de uma maneira mais rápida e mais sólida por parte de uma ala da direita e de conservadores de fato que não compactuam com certas medidas, certas decisões, comportamentos e declarações dessa turma do bolsonarismo. Então, eu concordo aí ((acha graça)) com essa sua declaração. Vamos lá. [00:13:51]

Professora Dayane Pimentel: Exatamente. E tão sórdido quanto. Então, faltou essa deliberação por parte de muitos parlamentares de esquerda, e eu estou fazendo esse papel agora na direita. O engraçado, Felipe, é que quando falo em oportunismo, as pessoas não refletem, apenas repetem os comandos dos seus generais da internet. Eu apoiei o presidente Bolsonaro, obviamente que eu não sou a responsável pela sua vitória, mas o conjunto de pessoas como Dayane é, sim, responsável pela vitória do presidente. E dentro desse conjunto eu posso citar o Gentili, o Lobão, o Nando Moura, eu posso citar uma série de pessoas que ajudaram a abrir os olhos da Sociedade, de quem era a esquerda, e deslumbrar no presidente Bolsonaro, através das suas ideias, que haveria ali uma esperança e uma possibilidade. Ou seja, a professora Dayane Pimentel ajudou o presidente Bolsonaro quando esse tinha 2% a nível nacional. Então, não há oportunismo nisso. Se eu fosse oportunista, eu estava aqui ajudando, por exemplo, o governador do meu Estado que é petista e detém de 80% da opinião pública e, pelo contrário, quando o presidente Bolsonaro chega ao auge do seu poder, com o Palácio do Planalto, é quando eu paro e digo assim: “Não, peraí, esse Bolsonaro do Palácio do Planalto não é o Bolsonaro para o qual eu fiz campanha. Então, eu não aceito essas deliberações dele”. Então, oportunismo é o contrário, oportunismo é o que o centrão está fazendo agora. Não ajudou em nada, chamava Bolsonaro de louco, eu ouvi muitos deputados falando que o Bolsonaro era louco, na época da campanha, que era saco vazio, que não tinha nada na cabeça, e agora estão lá defendendo Bolsonaro presidente. Ou seja, na época do Bolsonaro, um candidato tido como maluco, as pessoas limpas, como eu, que acreditavam em suas propostas. E, agora que ele faz tudo ao contrário, lhe resta o centrão. Então, o que é que há de oportunismo nisso? Há de oportunismo a relação entre Bolsonaro e hoje os parlamentares que trabalham dentro daquele modus operadi que a gente já conhece do toma-lá-dá-cá. Isso sim, é oportunismo. Mas não tem problema, eu sou professora de português, para mim é até uma satisfação trazer o significado da palavra “oportunismo”. Então, a gente tem uma dessa semântica para ele.

Felipe Moura Brasil: Aliás, isso é um assunto muito importante. Eu faço as minhas ironias, aproveito ((acha graça)) até aqui para falar para o público de O Antagonista nas redes sociais que eu falo da novilíngua bolsonarista, o pessoal pesquisa aí o que seja novilíngua, mas é uma linguagem nova ((acha graça)) aí, que eles estão fazendo, em que o sentido das palavras vão se perdendo. Toda militância política tenta esvaziar certas palavras de sentido, ou distorcer o seu significado original para tentar ativar ali um sentimento, para tentar desencadear determinadas ações com a base emocional, sendo que aquelas palavras não estão correspondendo à realidade, não estão correspondendo obviamente ao seu sentido original da linguagem. E é um dever ((enfatizou)) intelectual fazer esse trabalho de restauração ((enfatizou)) da linguagem em nome do saneamento do ambiente cultural. Então, a senhora citou aí o caso do oportunismo, e eu até estava preparado aqui para brincar de que o pessoal do centrão é o pessoal leal agora? Eles são a representação da lealdade? Será que é isso? ((acha graça)) Porque muitas vezes a gente vê na política a palavra lealdade, e isso não se restringe, é claro, ao bolsonarismo, sendo usada para encobrir justamente a conivência com imoralidades e com ilegalidades. E isso não é lealdade, isso e cumplicidade. São distorções que vão sendo feitas, que as pessoas ficam cobrando certos comportamentos omissos, complacentes, mas usam palavras bonitas para se referir a isso. Então, a gente precisa restaurar o sentido das palavras também. [00:17:56]

Professora Dayane Pimentel: Perfeito. Então assim, o centrão na verdade, o Bolsonaro, a palavra que poderia encaixar muito bem é a conveniência. Hoje é muito conveniente para os dois lados, hoje a gente tem o Bolsonaro que tem o poder, e tem o centrão que tem votos para garantir ao presidente Bolsonaro aí as suas pautas. E aqueles que ao invés de buscarem cargos e nomeações, mas que lá atrás gastaram até do seu próprio bolso, como foi o meu caso, que rodei toda a Bahia dando palestras de graça, abrindo a mente das pessoas, levando a nossa ideia do que seria um país mais digno, do que a gente poderia fazer e merecia fazer uma mudança, então, tudo isso foi com os meus ((enfatizou)) recursos próprios. Então, assim, isso não é oportunismo. O oportunismo é justamente o contrário, então, essa fábrica de neologismo aí do bolsonarismo, a gente precisa deixar claro para a população o que significa e acabar com isso. Eu aproveito aqui, Felipe, que o seu alcance é extraordinário, para dizer às pessoas que busquem saber quais são as pautas de cada parlamentar. Eu, por exemplo, defendo tudo ((enfatizou)) o que eu defendia em cima do trio, lá em 2014-2015-2016 e nada mudou. Estou lá votando, pautando e discutindo as mesmas coisas, tentando buscar aquilo que eu prometi que faria em campanha. Quem se desviou disso foi o presidente Bolsonaro. E são tantos desvios, Felipe, que a gente não consegue nem enumerar de uma forma prática, teria que ter aqui um dia de programa para a gente lembrar que tem coisa que eu vou esquecer quando eu desligar aqui. Mas a gente vê que o juiz de garantias, todo o enfraquecimento da Lava Jato, que não é apenas teórico, é prático, é só a gente perguntar. Qual foi o último político do alto clero que a gente viu sendo preso agora nesse último ano? Então, a gente não vê isso, o presidente Bolsonaro falou: “no meu governo não tem corrupção”. Eu não posso dizer que tem, mas é engraçado a gente também dizer que o PT governou muito tempo usando o mesmo discurso. E foi preciso realmente a mobilização social muito grande para que efetivas investigações ocorressem, e aí a gente descobriu toda a podridão nos seus anos finais. Então, se ele não é corrupto, da forma como o Lula, por exemplo foi, a gente só vai saber disso quando todas as investigações e todos os fatos forem evidenciados. Enquanto ele domina os órgãos dos quais ele distribui – a gente está falando de DENIT, de DENOCS, de (LIFONAS) [00:20:26] – como é que a gente vai saber? Então, a gente vai saber disso quando houver investigações, então, a gente não pode simplesmente aceitar essa narrativa de que ele não é corrupto e ponto. Não é assim, eu digo para você: “eu não sou corrupta, por favor, investigue a minha vida”. Outro dia eu fui acusada aqui, deram entrada no Ministério Público de que eu tinha feito uns deferimentos em umas candidaturas, na época da eleição. O que é que eu fiz, Felipe? Eu fui até a polícia federal e me coloquei como objeto de investigação, porque eu acho que quem não deve não teme. Então, eu sou a principal interessada em resolver essa situação. Se eu não devo, então, eu estou aqui, eu quero ser investigada, eu quero que vocês investiguem os meus telefones, as minhas contas bancárias, o que vocês quiserem. E aí, obviamente, o que foi feito ficou mais do que evidente que não passava de uma fake news, ou seja, era isso que nós esperávamos do presidente Bolsonaro. Se ele não deve, ele tem que ser a primeira pessoa a dizer: “Olha, eu não devo, me investigue. Vocês irão descobrir”. Agora ele diz que não deve, e diz também que não pode haver essa investigação. Então, isso é muito contraditório, então, a gente não pode comprar essa narrativa, inclusive em relação às práticas dele, que são bem notórias aí, o pessoal só precisa acordar um pouquinho para poder entender.

Felipe Moura Brasil: É. E o mérito de os políticos terem colocado um pezinho no freio pelo menos, é claro que alguns esquemas aí ainda aparecem os desdobramentos dele, mas esse mérito é da Lava Jato, é que combateu efetivamente a corrupção. Porque o político ser honesto, é não cometer atos de corrupção, isso é uma obrigação do político. Agora o juiz, os procuradores terem enfrentado as pessoas mais poderosas do Brasil, terem ido a cada passo, avançado a cada etapa na investigação, nos processos, na condenação, no convencimento de que aquilo era necessário, em ter as suas decisões mantidas por instâncias superiores, tudo isso foi um mérito muito grande de uma geração ali de procuradores e juízes, claro que com vários revezes, e a gente ainda está vendo revezes no governo Bolsonaro, mas isso aconteceu. Então, muitas vezes a gente tem a impressão de que o governo quer para si um mérito que é do Lava Jato. Quando na verdade o que o governo fez, em algumas das medidas que a senhora citou, como por exemplo a criação da figura do juiz de garantias, assim como a restrição à delação premiada, restrição à prisão preventiva, esses três itens que eram defendidas pelo PT e foram sancionadas pelo presidente da república Jair Bolsonaro, eleito contra o PT e prometendo combater a corrupção que era representada assim, de um modo mais emblemático, pelo Partido dos Trabalhadores. Então, Bolsonaro, contrariandoa recomendação do Sérgio Moro, acabou sancionando esses três itens defendido pelo PT, o juiz de garantias que foi por unanimidade no partido, todos votaram a favor. Então, é preciso analisar se o combate à corrupção vai ter continuidade, está tendo continuidade com essas decisões que estão sendo tomadas. E o que a gente vê são os procuradores justamente reclamando ((enfatizou)) dessas decisões, assim como o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro. E aí, quando se distribuem órgãos públicos para aquele pessoal que é investigado, é condenado, réu, ou pelo menos para os indicados por eles, é claro que com esse aparelhamento político do Estado, a gente fica receoso de que toda história se repita, principalmente porque os freios ao combate à corrupção estão cada vez mais sendo postos. Então, essa é a distinção que precisa ser feita. Aliás, essa lista de atitudes das quais a senhora discorda, a senhora colocou na resposta justamente à deputada Bia Kicis, naquela treta ali, que foi sintetizada por O Antagonista, e a senhora começava justamente pelo juiz de garantias, perguntando se ela tinha votado contra, falando que Bolsonaro sancionou, aí a senhora diz: “Você criticava o Aras – o Augusto Aras na PGR – parou de criticar mais por que? O que achou da decisão do Bolsonaro não apoiar o movimento da Lava Toga? O que acha das declarações do Dallagnol e outros procuradores que afirmam que o Lava Jato está sendo enfraquecida? Você votou para tirar o COAF do Ministério da Justiça e Segurança Pública? O Bolsonaro sancionou”. A senhora fala da delação e várias outras questões de fantasmas de gabinete e etc. Então, foram várias atitudes que levaram ao seu descontentamento. Agora eu pergunto, deputada, houve alguma coisa de bastidor? Quer dizer, quais foram as suas impressões ao ter de lidar com a família Bolsonaro? Com o governo em si a partir de 2019, ou até antes, na transição? O que é que a senhora viu que desagradou internamente? [00:25:26]

Professora Dayane Pimentel: Perfeito, Felipe. Só vou puxar o gancho da tua explanação. Quando eu falei em relação à Lava Jato, a gente vê nos próprios depoimentos dos procuradores, procuradores como o Deltran Dallagnol, que é o ícone aí, dizendo que há enfraquecimento sim. Quando a gente fala em enfraquecimento não significa do presidente chegar e falar “acabou o Lava Jato”. Mas há falta de recursos, há iniciativa em se promover leis que traduzem em impunidade. Tudo isso enfraquece, sim, o processo lavajatista. Quando eu digo que a gente nunca mais viu em tempos desse governo, por exemplo, alguém indo preso, não significa que as pessoas pararam de investigar, mas significa que a gente vê enfraquecimento de recurso estrutural, através das leis, isso tudo vai atingindo sim, a questão da Lava Jato. Outra questão que eu queria deixar muito claro é que quando eu fui para a minha primeira manifestação, eu não fui para uma manifestação pró- Bolsonaro. Eu fui para uma manifestação em apoio à Lava Jato que estava aí para sangrar o sistema de corrupção que estava vigente na época, que era o da Dilma Rousseff. Então, eu não encontrei cartazes “Bolsonaro é mito; Bolsonaro é maravilhoso”, mas eu já estava vestida de verde e amarelo lutando pelo meu país. Ou seja, é óbvio que o Bolsonaro se agarrou a essas pautas, porque eram essas pautas que estavam movimentando a massa da nossa Sociedade. E em relação à deputada que você citou, ela é mais… ela tem uma idade mais avançada do que a minha mãe, a minha mãe tem 49 anos. Então assim, por isso que eu fiz fazer uma comparação, em relação… ela me lembrou as minhas avós. Só que as minhas avós, Felipe, eram mulheres analfabetas, elas vinham da roça, elas não tiveram, aprenderam a pouco ler através da bíblia. Mas elas tinham caráter, e era essa a mensagem que eu gostaria de passar, uma mulher naquela idade, que teve a sua vida profissional, uma procuradora aposentada, deveria ter mais respeito pelo próprio legado que construiu. Foi nesse sentido que eu quis comparar ela à lembrança que ela trazia em relação às minhas avós. E ela me chamar de merdinha mostra que esse pessoal gosta de discutir política através da baixaria, o que não é o meu caminho. Eu sempre discuto a partir do campo da ideia. E foi justamente por isso que eu trouxe aquela lista, que poderia ser muito maior, de perguntar à deputada por que então, ela votou contrário ao que o próprio presidente, que ela tanto defende, dizia ao contrário. Ou seja, ele falava: “Vota para o juiz de garantia”, e ela não votava; “vota para tirar o COAF do Ministério da Justiça” e ela não votou. Ou seja, se ela tem tanta certeza de o que ele está fazendo é o certo, por que é que ela não contribuiu com as próprias votações? Então, é uma contradição muito grande, é aquele negócio de puxar o saco mesmo para ver o que é que sobra para ela no fim, e é uma política da qual eu não comungo, até porque se eu quisesse isso, eu estava bem farta. Na época ainda, Felipe, que eu fazia campanha para o presidente Bolsonaro, e um recebia propostas da esquerda, ((plec)) de outros partidos de direita dizendo assim, eu já cheguei a receber pessoas em meu escritório para me dizer assim: “olha, você nem precisa fazer campanha para mim; eu só quero que você pare de fazer campanha para o presidente Bolsonaro. E você tem, quanto é que você quer?”, então, a gente já recebeu isso, essas propostas no meu escritório. E a gente coloca esse povo para correr. Essa não é a nossa linha. Agora óbvio, eu não sou hipócrita, Felipe, eu sou uma política. Se eu sei que aqui na minha base a gente precisa de ceder alguns espaços para pessoas estratégicas, que pensam como nós, que são pessoas sérias, a gente precisa ceder esses espaços podem ser sim, cedidos. Não há problema em ceder espaço, desde que seja um ato republicano, desde que essas pessoas venham para ocupar esses espaços, mostrarem seus serviços fazendo a coisa certa e não para barganhar, não para fazer cabresto, não para… manter. Eu costumo dizer que Bolsonaro é o maior garoto-propaganda do centrão porque hoje ele está hoje trabalhando para a manutenção ((silabou)) do centrão Brasil afora. Você já imaginou o tanto de políticos do centrão aqui no Nordeste que hoje distribuem água ((enfatizou)) através dos órgãos, que o Bolsonaro que está passando para esse pessoal fazerem campanha para eles, mantê-los no poder. E cadê aquela renovação que o Bolsonaro tanto dizia? Ele jogou fora, porque a renovação, a grande renovação dentro do Congresso Nacional veio através de nós, do PSL, e ele excluiu esse pessoal. Então, é esse, o bastidor, é a hipocrisia, é a demagogia, é você falar uma coisa com a gente na frente das câmeras, mas quando você desliga o telefone você fala outra coisa – sabe, Felipe? Então, a pessoa tem que ser sincera, tem que dizer o que pensa. Eu não preciso dizer tudo correndo. Mas eu preciso dizer tudo que eu penso porque eu sou uma política. Quem vai fazer o juízo é o meu público. “Ah, professora, eu concordo com isso, eu discordo disso”. E aí, se eu for uma pessoa de bem, eu vou tentar me enquadrar ao que a população pensa, desde que, Felipe, a opinião da Sociedade, ela seja pautada na razão ((enfatizou)). Hoje o meu eleitorado, grande parte do meu eleitorado, discorda do meu rompimento com o Bolsonaro, mas pouco a pouco eu estou mostrando e provando de que eu continuo defendendo as mesmas pautas. E quem nos abandonou foi o próprio presidente Bolsonaro. Então, os bastidores, é isso aí, é pensar uma coisa mas falar para as câmeras outra coisa. Obviamente está todo mundo ali em busca de benefícios próprios, nós estamos falando da maior estrutura governamental, que é o Palácio do Planalto, então, todo mundo quer estar encostado ali, todo mundo que não se respeita baseado naquilo que o Palácio do Planalto vem apresentando.

Felipe Moura Brasil: É, o caminho da independência é o caminho mais duro, mais trabalhoso, mas é também o mais gratificante, é ser sabujo é algo que rende muitas oportunidades aí para esse pessoal da política brasileira. E assim, no mercado da comunicação também, como ((acha graça)) eu vejo bastante, eu escolhi o caminho da independência. Olha só, chegando aqui para a pauta mais quente do dia inclusive, a questão da saída do Sérgio Moro do governo Bolsonaro, continua a render vários desdobramentos. A senhora citou aí a questão de juiz de garantias, essa desidratação do pacote anticrime no final de 2019. Esse foi um dos fatores de desgaste com o Sérgio Moro, como ele admitiu com todas as letras inclusive uma semana depois em entrevista, uma semana depois da saída dele do governo, e agora foram reveladas novas mensagens da deputada bolsonarista, que faz parte dessa turma aí da qual a gente estava falando, Carla Zambelli, que ela havia mandado ao Sérgio Moro em 23/04/2020, e uma delas diz o seguinte: “Bolsonaro vai cair se o senhor sair”. Quer dizer, mensagem da Carla Zambelli para o Sérgio Moro, dizendo que o Bolsonaro cairia se ele, Moro, saísse do governo. E aí depois ela acrescenta: “A gente conversa, e ele – Bolsonaro – lhe garante a vaga no STF este ano”. Quer dizer, são frases aí que estavam próximas daquele print que o Sérgio Moro se viu obrigado a revelar no Jornal Nacional, na noite de sexta-feira, na noite do mesmo dia em que ele havia dado a coletiva durante a manhã, porque durante a tarde o presidente Bolsonaro e os seus aliados acabaram disparando ali todo aquele processo de fritura contra o Sérgio Moro e ele reagiu pela televisão para fazer a sua mensagem chegar ao máximo de brasileiros. Então, tem essas novidades, eu queria saber da senhora, deputada, como é que a senhora está vendo essa situação. Porque houve depoimentos na polícia federal, o Sérgio Moro depôs, o diretor-geral da PF que foi exonerado pelo Bolsonaro depôs, os superintendentes, ex-superintendentes estão também depondo à polícia federal. Os generais Ramos, o general Augusto Heleno, Braga Neto depuseram. Há esse vídeo, a gente está gravando essa entrevista aqui, ainda não foi divulgado o vídeo todo, mas nós, jornalistas, apuramos os conteúdos, saiu no O Antagonista que o Bolsonaro associa ali a troca do superintendente da PF no Rio de Janeiro à proteção da família. Eles estão alegando, inclusive esses generais em depoimento, que era a preocupação com a segurança. Mas essa alegação ((acha graça)) está sendo tremendamente posta em dúvida, porque a responsabilidade pela segurança pessoal do presidente e da sua família é do GSI, o Gabinete de Segurança Institucional, que é comandado pelo general Augusto Heleno, ministro-chefe lá do GSI e não pelo Sérgio Moro, a quem o Bolsonaro teria se dirigido e a quem ele ameaçou de demissão nessa reunião, e o Sérgio Moro que levantou e acabou saindo da sala, e ato contínuo, o Bolsonaro manda aquelas mensagens para o Sérgio Moro, com link de O Antagonista, inclusive sobre investigação de aliados, que poderiam atingir o Carlos Bolsonaro, segundo a própria matéria, e diz “mais um motivo para a troca no comando da polícia federal”. Então, como é que a senhora está se posicionando? A senhora espera ansiosamente a divulgação desse vídeo? Qual é a sua opinião sobre isso tudo? [00:34:43]

Professora Dayane Pimentel: Com toda a certeza sim, não para que eu saiba ou veja, porque o que eu acho que o que eu sei e o que eu já vi é o suficiente para manter a oposição que eu tenho hoje, Felipe. Mas para que a sociedade, os advogados do Moro, em termos jurídicos, eles trouxeram algo muito interessante, mais ou menos assim, é importante que a sociedade conheça o presidente, o que pensa o presidente, o próprio Celso de Mello também, o ministro, ele trouxe algo mais ou menos assim. E o que é que nós tínhamos? Ali no grupo do PSL, o grupo onde o presidente Bolsonaro ainda era acolhido por todos, defendido por todos? Todos sabíamos que ele tinha dois pilares muito fortes, que é o Paulo Guedes e o Sérgio Moro, defendendo duas pautas que ajudaram muito o presidente Bolsonaro a se eleger. A questão da economia, o Paulo Guedes, um liberal, e a questão da segurança pública e o combate à corrupção e a criminalidade com o Sérgio Moro. Então, esses dois pezinhos, eles davam uma estruturação, uma força para o Bolsonaro se manter. Então, a opinião da deputada que trouxe aí no WhatsApp é uma opinião unanime. Só que nem todos hoje têm coragem, porque devem continência ao chefe, de expor. Mas fica muito claro ali, todos ((enfatizou)) eles pensam nisso, que todos ali admiravam muito o trabalho do presidente… do ((plec)) ex-ministro Sérgio Moro. O que eu fico assim, chocada, Felipe, é que eu não posso dizer por exemplo que essas pessoas que escolheram seguir com o presidente Bolsonaro são pessoas que fazem maracutaias na política, porque são pessoas novas na política, são neófitas. Então, se farão coisas erradas, no sentido político, prático mesmo, a gente vai saber algum tempo depois. Mas o que me deixa assim, boquiaberta, é que eram pessoas que defendiam todas essas pautas, e hoje essas pessoas são as principais testemunhas, aliás já passaram a ser cúmplice, de quem contradiz tudo o que foi dito. Nós estamos falando aqui de pessoas que vestiam a bandeira e iam para a rua gritar, chamar todo mundo de corrupto, de ladrão, dizer não ao centrão e que hoje: “Não, peraê, vamos ver, peraê. Mexe com o bandido, mas não mexe com o meu bandido”? O que é isso? Nós falávamos em campanha, sob o respaldo do próprio Bolsonaro que se ele errasse nós iríamos cobrar. Cadê essa cobrança? A cobrança do PSL nos bastidores, Felipe, ela foi feita com muita ética, nos bastidores: “Presidente, vem aqui para a realidade. O que é que está acontecendo? Por que preterir os deputados do PSL em detrimento dos políticos do centrão?”, só que ele não ouvia. Não ouvia e não ouvia e acabou que não ouviu ninguém, fez tudo como ele e a família dele quiseram fazer, e o resultado nós estamos vendo hoje. Então, não é porque um dia eu apoiei o presidente Bolsonaro que eu tenho que ser submissa a ele. Se ele continuasse com a mesma prática, porque o discurso ele ainda tem, da época de campanha ele teria tido o meu apoio, mas ele não tem a mesma prática dos discursos que ele fazia. Então, eu me sinto confortável e no direito de protestar, porque eu não falo apenas como parlamentar, eu falo também como eleitora.

Felipe Moura Brasil: E a senhora está presente nesse novo grupo, eu postei em O Antagonista nessa semana, com o deputado federal Júnior Bozzella, o deputado federal Kim Kataguiri, a Joice Hasselmann, Marcelo Calero, essa Frente Democrática Independente. É um novo grupo que os senhores estão formando de gente que está arrependida em ter votado no Jair Bolsonaro, decepcionada com Bolsonaro na presidência, ou que quer conter o que chamam de escalada autoritária, seja a favor ou contra o impeachment, mas me pareceu claro ali é que o impeachment do presidente está entre os possíveis objetivos desse grupo. É claro que quanto mais houver elementos fortes para isso, é mais esses deputados, pelo que eu entendi do grupo, vão ir para cima como se diz aí no jargão. Então, a senhora está dentro desse time que está construindo uma oposição ao Bolsonaro, que seja… que não compactue tampouco com as práticas petistas no governo anterior, por exemplo. [00:39:09]

H1: Então, Felipe, eu vou aproveitar te explicar aqui melhor. São vários grupos que estão nascendo. Nós temos, por exemplo, um grupo de congressistas que se colocam insatisfeitos com o presidente Bolsonaro. Alguns pela traição das promessas, que é o meu caso, e outros pelas próprias políticas que já vêm divergente aí do presidente Bolsonaro. Esse grupo, por exemplo, é um grupo apartidário, independente de ideologia, tem várias pessoas de partidos diferentes que pensam em relação à direita e esquerda de formas diferentes. São pessoas que dentro ((enfatizou)) do Congresso, estarão obviamente vigilantes ao presidente Bolsonaro, até porque essa é a nossa tarefa precípua, vigiar, fiscalizar. E nós também temos outros grupos aí de movimentos de rua que procuram políticos para poder respaldar, para dizer: “Olha, a gente tem aqui a força desse parlamentar”.e a gente também tem um grupo que é voltado ao grupo de direita, que é esse aí da Frente Democrática Independente que você acabou de citar. A gente busca por formadores de opinião, pessoas que em uma época passada apoiavam o presidente Bolsonaro e que hoje se sentem arrependidas, mas não querem jamais abrir mão das pautas que nós defendemos. Porque o que nós queremos mostrar com essa Frente é o que o erro está no Palácio do Planalto e não naqueles grupos, naquelas pessoas que hoje são dissidentes do presidente Bolsonaro. Então, a Frente Democrática Independente é esse grupo de pessoas que pensam na direita, que pensam no conservadorismo moral, que pensam no mercado aberto, que pensa junto com o Moro, que pensa junto ((plec)) com o Guedes, que pensa junto com a Tereza Cristina, que quer continuar com essas pautas benéficas à Sociedade de direita, para que a gente possa mostrar que a opção que nós escolhemos em 2018 foi que não deu muito certo, mas que a gente vai continuar buscando pessoas, nomes que venham a se juntar conosco e levantar efetivamente as bandeiras que nós defendemos. Então, são vários grupos, Felipe, cada um com suas, como eu acabei de dizer aqui, com sua linha de frente, e esse aí que você citou, pelo próprio nome, é esse que a gente busca pessoas de direita, que pensa como nós e que estão insatisfeitos com o presidente Bolsonaro. E que se por acaso hoje houvesse um impeachment, poderia sim, se colocar favorável, por que eu digo poderia sim? Não por conta do Bolsonaro, mas por conta do momento que estamos vivendo. A gente já entende que o presidente Bolsonaro, ele não serve para governar. A questão que a gente precisa discutir agora, e a gente vai discutir nessa frente é qual o momento ideal. E nos outros grupos, não. A gente já vê que há uma luta de urgência neste sentido.

Felipe Moura Brasil: Certo, deputada. E um dos outros fatores de desgaste do Jair Bolsonaro é a postura dele em relação à pandemia do coronavírus. Eu sei que a senhora tem iniciativas aí, defende por exemplo o uso de respiradores produzidos pelas universidades brasileiras. Eu queria que a senhora falasse um pouco sobre a sua posição, a sua opinião sobre as posições do presidente, e qual é a sua forma de atuação durante essa pandemia. [00:42:32]

Professora Dayane Pimentel: Então, político trabalha muito com o discurso, as pautas que defende, que é o meu caso, e também trabalha com emendas. O que são as emendas? São os recursos que a gente envia para as prefeituras, para que eles possam reverter isso em benefícios da sociedade. Eu reverti muito das minhas emendas impositivas que eu tinha colocado para a infraestrutura, para a educação, reverti isso para poder passar aos prefeitos em relação às emendas de saúde, transformei essas emendas de outros setores para a saúde, para que a gente pudesse estar comprando respiradores, insumos, estruturando para que as prefeituras tenham condições de atender às demandas. Então, eu trabalho muito nessa linha com as minhas emendas. E também fiz aí algumas indicações, das quais eu posso citar aqui a indicação número 480, Felipe, que fala o seguinte: se o presidente Bolsonaro está se queixando das aquisições feitas pelos governos estaduais, que são aquisições caras desses respiradores, e também os governadores reclamam que o Governo Federal não manda recurso que dê para comprar, então, por que a gente não compra então, respiradores produzidos pelas próprias universidades brasileiras? Eu posso citar aqui as pesquisas da USP, por exemplo, que têm o custo muito baixo, que têm uma produção muito rápida, e que já esta testado e aprovado pela ANVISA. A gente está falando de respiradores de um custo médio de R$ 1.500 e uma produção de dois dias. Então, por que é que a gente não incentiva os nossos pesquisadores, os nossos estudantes? E ao mesmo tempo, a gente resolve essa questão da falta de respiradores pelo Brasil afora? Essa indicação minha foi feita diretamente ao Ministério da Saúde, já tem mais ou menos umas três semanas e eu nunca recebi um telefonema nem para dizer assim: “olha, a gente estudou aqui, isso daí não vai dar certo”.

Felipe Moura Brasil: E deputada, como é que está o povo da sua Bahia durante essa pandemia de coronavírus? Como é que está a situação do povo baiano pelo qual eu tenho tanto apreço? Já fui várias vezes à sua querida Bahia, e eu zelo para que eles tenham a vida, muita vida pela frente, muitos anos pela frente com saúde, com alimentação, com tudo a que tem direito, mas dentro de um cenário melhor do que esse pelo qual o mundo está passando nesse momento. [00:44:55]

Professora Dayane Pimentel: A nossa querida Bahia, Felipe. Então, aqui a gente tem, assim, um consenso muito grande entre o governador, que é do PT, e prefeitos de outros partidos, como o PSD, Democratas, PSDB. Há uma convergência muito bacana. Obviamente existem críticas, e a gente não deixa de fazê-las, mas existe um consenso de entender. E tanto é, Felipe, que está dando tão certo esse consenso aqui, que a Bahia, entre os estados, que está assim, com a taxa muito alta, é um estado que, devido ao nosso tamanho, a gente está conseguindo controlar. Obviamente que existem municípios onde se alastrou de uma forma maior. A gente fala aí de Ilheus, Itabuna, Ipiaú, a própria Feira de Santana. Tem casos, um número muito expressivo. Em Salvador, por exemplo, o bairro onde eu resido, é o bairro onde se tem mais pessoas contaminadas, mas está dando para controlar. Existe o equilíbrio, um acordo entre o Governo Estadual e as prefeituras, e esse trabalho está sendo feito para fazer com que as pessoas entendam que precisam ficar em casa.e os prefeitos estão tentando trabalhar, levando assistência, assistência lá de… em relação à alimentação, levando as cestas básicas para os alunos de escolas municipais, por exemplo. Colaborando com a questão do auxílio emergencial de como organizar essas filas, e estão aqui, apesar de ser ainda uma situação muito delicada e muito difícil, com muita resiliência, muita força de vontade, que é característico do nosso povo, e com essa concordância entre os poderes, Felipe, a gente está conseguindo manter uma média não tão assustadora, como estamos vendo em outros estados.

Felipe Moura Brasil: Deputada, muitíssimo obrigado pela sua participação, se a senhora quiser fazer uma mensagem final aos brasileiros, aos baianos, fique absolutamente à vontade. Eu conversei com a Professora Dayane Pimentel, deputada federal do PSL da Bahia. [00:46:53]

Professora Dayane Pimentel: Eu que agradeço, Felipe, estou aqui sempre à disposição, e eu gostaria de mandar uma mensagem, não só para a minha amada Bahia, mas ao meu amado Brasil. Nós… existem, sim, muitos políticos que não merecem a nossa confiança. E eu falo isso não apenas como política, mas como cidadã, que também vota, que quer um país melhor para o meu filho, que tem apenas 4 anos de idade. Mas nem todo político é ladrão, nem todo político é corrupto, e nem todos os políticos nasceram para ser subservientes ao poder das leis. Eu fui eleitas, sim, ajudando Jair Messias Bolsonaro, baseada nas propostas de campanha que ele já traiu. Ele ((enfatizou)) é o traidor dessas propostas. E é o meu papel defender você, que muitas vezes nem sabe o que é que eu estou falando aqui. Mas entenda que eu estou defendendo o teu voto, não voto em uma pessoa, mas o teu voto em busca de dignidade, em busca de um país melhor. Quando eu errar, eu quero ser criticada pelo meu erro, mas vamos refletir antes de criticar, porque a crítica só pela crítica, ela não funciona. Não adianta criticar a esquerda só porque é esquerda, não adianta criticar a direita só porque você não concorda com as ideias. Precisamos de fatos, e eu estou aqui embasada, bem embasada em fatos. E é por esses fatos que eu estou buscando a dignidade do povo brasileiro. Eu tenho certeza que o nosso fim vai ser um fim feliz, e que vocês vão conhecer a verdade e saber que existem políticos comprometidos que estão fazendo isso aqui com todos vocês. Forte abraço, Felipe, fica com Deus.

Felipe Moura Brasil: Um abraço, deputada, muito obrigado. E você acompanha aqui mais entrevistas e todo o conteúdo de O Antagonista em www.YouTube.com/oantagonista  e, é claro, no nosso site www.angagonista.com.

[00:48:35] ((fim da transcrição))


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