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Júnior Bozzella (PSB-SP) entrevistado por Felipe Moura Brasil

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transcrição de áudio

Júnior Bozzelli é deputado federal pelo PSL de São Paulo, foi entrevistado por Felipe Moura Brasil. O estilo da transcrição é acadêmica, com supressão de alguns “tá”, “né” e leves correções, mas que não edita erros gramaticais.

Transcrição de áudio

Convenções adotadas na transcrição

  1. palavra… = alongamento vocálico, hesitação ou interrupção de ato de fala.
  2. … palavra = continuação da fala do turno do falante que foi interrompida.
  3. (…) = demonstração de corte de fala considerado não relevante.
  4. [01:46:09] = marcação de tempo [hh:mm:ss](*)
  5. (hipótese) [00:00:00] = hipótese de escuta ou fonográfica (o som que conseguimos entender)
  6. (inint) [00:00:00] = trecho ou palavra que não conseguimos compreender.
  7. ((palavra)) = comentários do transcritor.

(*) A marcação de tempo ocorre uma vez a cada 5 linhas para cima ou para baixo caso ocorram muitos (inint) ou (hipótese) devidamente sinalizada com [hh:mm:ss]. Uma hipótese de escuta é sinalizada apenas uma vez e após sua ocorrência deixa de ser sinalizada como tal.

Identificação de falantes

  • Felipe Moura Brasil
  • Júnior Bozzella

((início da transcrição))

Felipe Moura Brasil: Salve, salve, sejam bem-vindos, leitores e espectadores de O Antagonista. Eu sou Felipe Moura Brasil e hoje recebo mais um convidado especial nessa minha série de entrevistas durante a quarentena, eu que estou aqui em home ofice em São Paulo, e hoje é o deputado federal Júnior Bozzella, ele que também é presidente estadual do PSL de São Paulo, e vice-presidente nacional da sigla. Tudo bem, deputado? [00:00:23]

→ Leia também a entrevista de Dayane Pimentel (PSL-BA) – https://transcricoes.com.br/dayane-pimentel-psl-ba-entrevistada-por-felipe-moura-brasila-professora-dayane-pimentel/

Júnior Bozzella: Tudo bem, Felipe, é um prazer falar com você aí e todos os amigos de O Antagonista, é uma honra poder contribuir aí para a democracia do nosso país, trazer esclarecimentos, é fundamental.

Felipe Moura Brasil: Maravilha. Deputado, eu tenho visto, pela sua atuação nas redes sociais e no congresso também, que o senhor se tornou um crítico do governo Bolsonaro, mesmo sendo do partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu. Mas antes de chegar aqui aos finalmentes, como está a situação hoje, queria pegar um pouco a cronologia dessa história. Então, como é que foi a sua aproximação com o Jair Bolsonaro, com a família, durante aquele momento em que ele estava precisando de um partido para se candidatar, e o PSL abriu as portas para ele? [00:01:11]

Júnior Bozzella: Olha, Felipe, eu costumo dizer para as pessoas que eu conheço o DNA dessa história toda, a origem disso tudo. Até porque eu estava no PSL já há algum tempo. Eu, quando… uma vez eu fui eleito vereador, eu tive uma participação logo após a eleição de 2012, em 2014 eu fui candidato a deputado estadual. Aí eu tive 50 mil votos na eleição de 2014, e resolvi disputar a Prefeitura em 2016. E depois da eleição de prefeito, eu fui tocar a minha vida na iniciativa privada, e o Luciano Bivar, que era o então deputado e presidente nacional do PSL, me convidou para ingressar no partido e assumir um desafio, uma missão de organizar o PSL no Estado de São Paulo. E o PSL, até então, naquele momento, não tinha nenhum grande atrativo, não tinha ali tempo de televisão, um grande fundo partidário, um número expressivo de deputados, lideranças, aí com representatividade no país, mas era um partido que tinha lá a sua capilaridade, em São Paulo a gente tinha algo como 70 vereadores, alguns vice-prefeitos, e o Bivar falou: “Olha, Bozzella, você tem um capital político, teve aí os seus 50 mil votos, e o partido tem uma missão aqui de vencer a cláusula de barreira, eleger aí no mínimo um deputado federal por Estado, e depois você vai ter que montar chapa aí, organizar, se virar”. E você sabe, Felipe, quando você tem já um capital político, muitos partidos acabam te convidando para fazer parte e te oferecendo um fundo eleitoral, te dando algumas vantagens. Eu acreditei nesse projeto quando ninguém vinha para o PSL. Então, por isso que eu construí o partido no ano de 2017, em todo o Estado de São Paulo, fiz esse trabalho, essa lição de casa e acompanhei a transição, quando o Jair Bolsonaro procurou o PSL. Eu sempre digo para as pessoas que não foi o PSL ou o Luciano Bivar que procurou o então presidenciável, o então pré-candidato para presidente da república, Jair Bolsonaro, o deputado à época. Foi Bolsonaro que procurou o PSL. Você lembra que quando ele estava lá no PSC, no Patriota, todo mundo dizia o seguinte: “Olha, Bolsonaro vai ser sabotado, vai ter sua legenda negociada, ele não tem segurança, uma vez ele filiado nesse partido, vão passar a perna nele, vão vender, vão vender por R$ 100 milhões, vão embora para o exterior, ele não será candidato a presidente da república”. Então, o que fez Bolsonaro vir para o PSL foi justamente essa segurança jurídica, o histórico do partido. O partido era pequeno, porém íntegro, honesto, um partido liberal, de direita, aonde o presidente nacional da sigla, o deputado Bivar, tinha já num histórico uma trajetória de currículo e não de ficha corrida. Então, talvez por isso tudo, o Bolsonaro ter acreditado nesse projeto.

Felipe Moura Brasil: Só um minuto, só um parênteses. O Luciano Bivar é o presidente nacional do PSL, que é lá de Pernambuco, certo? E essa questão de a venda da candidatura ter sido um temor do Jair Bolsonaro, eu me lembro disso, cheguei a noticiar e comentar isso, existia realmente esse temor de que ele se tornasse um candidato por um partido, e aí o establishment, como se chamava ali na época, principalmente por parte dele, embora agora ele esteja bem aliado aí ao velho establishment da política brasileira, mas tinha, e havia esse medo de que os velhos políticos acabassem oferecendo dinheiro para o presidente de um partido para melar a candidatura dele, não é isso? [00:04:41]

Júnior Bozzella: Sem dúvida. Isso era muito corriqueiro, natural, a gente, que vive um ambiente político – eu particularmente – fui vítima de vários caciques. A minha legenda para prefeito, por exemplo, é no município à época, ela foi totalmente negociada. Eu estava ali, eu era vereador eleito pelo PSDB, tive 50 mil votos pelo mesmo PSDB em 2014, estaria eleito em 17-18 outros partidos, mas como o partido precisava de muitos votos, eu acabei querendo disputar a Prefeitura por esse mesmo partido que eu lutei, filiei, ganhei a eleição no diretório democraticamente, legitimamente, e a cacicada toda veio para cima de mim, porque tinha um acordo entre o Alckmin e o Márcio França na época, aí destituíram o meu diretório, deram uma canetada sem justificativa nenhuma, justamente para que eu não pudesse ter a legenda. Então, a gente que é do ambiente político, a gente que conhece muito bem como é que funciona os bastidores, se numa eleição municipal, nesse encontro de interesses entre dois grandes caciques da política estadual e nacional, houve essa problemática comigo, pessoalmente sofri na pele, imagina então, com um cadastro à presidência da república num partido onde ele não tinha nenhuma segurança, nenhuma certeza, e um sujeito do histórico político dele de atritos, de… era… todo mundo sabe que o Bolsonaro, o tempo que ele ficou no parlamento brasileiro, era a turma do “tô sozinho”, ele não tinha dupla, ele não se comunicava com ninguém, até porque ele hostilizava todos esses velhos caciques, todas as velhas práticas, considerava isso tudo a velha política, apesar de ele ter feito tudo ao contrário daquilo que ele se comprometeu a fazer no processo eleitoral. Agora ele reconhece essas pessoas como seus aliados, seus parceiros. Os próprios dirigentes do Patriotas, na época, que ele xingava, que ele falava que não confiava, ele não fez acordo, e por isso ele optou pelo PSL, hoje ele já fala o contrário, já tentou até fazer algum tipo de composição, de alinhamento e de parceria. Então, ele acaba realmente sendo presidente das meias verdades, porque ele nunca consegue se sustentar de tarde aquilo que ele fala de manhã. E no PSL não foi diferente, ele optou pelo partido, usou como seu paraquedas, como seu porto seguro, no final das contas a gente vai poder abordar esse assunto ao longo da nossa entrevista, a confusão que ele arrumou aí eternamente com a sigla.

Felipe Moura Brasil: Mas aí, por que é que ele confiou então, no Luciano Bivar? Houve ali uma troca estabelecida? Cláusulas muito claras? Ou foi uma confiança de palavra que depois foi ruindo aos poucos? [00:07:21]

Júnior Bozzella: Veja bem, Felipe, a história é o seguinte, o Bivar estava lá em Recife, lá em Pernambuco, recebeu um telefonema de alguns deputados federais que tinham convivência, que tinham relação harmônica com o Bivar, perguntando se ele poderia atender o deputado Jair Bolsonaro, e o Bivar, obviamente fala: “Tudo bem, vem aqui”, recebeu para uma reunião e o Bolsonaro falou: “Olha, eu escolhi o PSL e queria saber se você me aceita no partido.”, e o Bivar, de uma forma singela, apesar de ter uma posição financeira empresarial e financeira extremamente confortável, trabalhou a vida inteira para conquistar o seu conforto, o seu resultado, e nunca usou o partido absolutamente para nenhum tipo de negociata, para nenhum tipo de composição, tanto que o Luciano Bivar numa eleição foi candidato à presidente da república para defender a bandeira do imposto único. Ele é um liberal, escreveu vários livros, então, ele tem as suas teses e suas convicções. E quando ele recebeu o Bolsonaro, ele falou: “Olha, Jair, eu talvez não seja a melhor opção para você, nem eu e nem o PSL, porque o partido não tem grandes expectativas de oportunizar fundo eleitoral, mesmo que seja o pouco que eu coloque à sua disposição. Mas contra os seus adversários, isso vai ser… vai fazer cócegas e não tenho tempo de televisão, talvez aqui não seja o melhor lugar para vocês”. E o Bolsonaro falou: “Não, eu vou para o PSL porque todo mundo fala da sua integridade, do seu caráter, do seu histórico de vida e aqui eu tenho a certeza, a segurança. Só que o que eu quero? Eu quero colocar as pessoas da minha confiança”. E o Bivar não titubeou, ele colocou à disposição toda a executiva nacional do partido, para que Bolsonaro indicasse as pessoas da sua confiança, da sua extrema ((enfatizou)) confiança: Gustavo Bebiano, como presidente nacional, o Julian Lemos, atual deputado federal como vice-presidente nacional, e a gente sabia que essas duas figuras eram os homens de confiança do Jair Bolsonaro. E o acordo justamente era esse, que ele tivesse liberdade para poder fazer a organização do partido, tendo esse controle jurídico, e também financeiro, o Bivar deu as chaves do cofre literalmente, com o fundo eleitoral que o PSL tinha à disposição, os R$ 9 milhões, todo ele foi utilizado pelo Bolsonaro na pré-campanha, na campanha, para custear despesa de segurança, de transporte, enfim, tudo aquilo que é necessário, que a gente sabe para uma pré-campanha eleitoral. É até diferente…

Felipe Moura Brasil: Ele colocou o Flávio Bolsonaro na presidência do PSL estadual no Rio, depois veio o Flávio Bolsonaro no cargo que o senhor ocupa hoje, deputado, na presidência estadual do PSL em São Paulo. Colocou os filhos também em cargos de poder dentro do partido. [00:10:11]

Júnior Bozzella: E da executiva nacional, também. Não só nos estados, mas também dentro da executiva nacional.

Felipe Moura Brasil: As duas pessoas que o senhor citou são dois que acabaram rompendo depois com o Bolsonaro, o deputado Julian Lemos e o ex-ministro Gustavo Bebiano. Eles acabaram rompendo depois, mas naquela época eram aliados também, que fizeram parte dessa composição. [00:10:34]

Júnior Bozzella: Aliados de primeira hora, que o Bolsonaro confidenciava, dormia na casa, viajavam juntos no mesmo carro, no mesmo avião, eram os homens de extrema confiança do Jair Bolsonaro. Então, Felipe, todo esse processo, eu acompanhei do começo, o meio e o fim dele. A gente tem vivenciado agora nos últimos dias, porque em São Paulo por exemplo, a primeira reunião, ela foi comigo, na transição. Por eu já estar no partido, já estava esse longo tempo construindo o PSL, eles tiveram que receber todo um dossiê, todo um histórico de tudo aquilo que tinha acontecido no partido, e a primeira reunião que eu tive com os enviados do Eduardo Bolsonaro foi a pior reunião que eu tive na história da minha vida política. Foi algo extremamente traumatizante, a forma como eles se direcionaram à minha pessoa, a maneira como eles me interpelaram de forma impositiva, autoritária, agressiva, falando que só eles que mandam, é tudo do jeito deles. Então, já tinha ali uma má impressão. Eu sou daquele time que sempre combati o PT e encontrava, na época, o PSDB como uma opção ((enfatizou)) contra o PT, era a única opção que a gente tinha na Sociedade. E quando eu vim para o PSL, eu também acreditava num movimento que poderia se reproduzir em 2014, uma alternativa que não deu certo com o Aécio Neves, mas a gente pudesse encontrar dentro do meio político da nossa Sociedade. Então quando o Bolsonaro veio para o partido, eu entendia aquilo como uma missão: “Olha, eu acho que pode ser uma alternativa no campo da direita, para combater o PT”. O Bolsonaro, ele é muito fruto, Felipe, do petrolão, do mensalão, ele é um produto da ineficiência, da incompetência e da corrupção que o PT instalou no país. Então, ele foi reunindo apoiadores – Janaína Paschoal, Joice Hasselmann, enfim, o Lobão, o Alexandre Frota – uma série de personalidades da Sociedade, poderia aqui citar inúmeras delas, empresários, o Davan. Quantas pessoas que foram somando esforços para apoiar o Bolsonaro.

Felipe Moura Brasil: E ele era um fenômeno político do qual a grande imprensa, em boa parte de esquerda, desdenhou naquela época como um fenômeno eleitoral que teria força, justamente por esse fator, que o senhor está colocando, deputado, de ele usar as descobertas, que nem sequer eram dele – descobertas da Lava Jato – e fazer discursos firmes contra a corrupção petista, o que a gente via pouco em outros partidos, como a própria oposição tucana, que perdeu quatro eleições para o PT, por boa parte por covardia, por frouxidão, por rabo preso, como se viu depois com as investigações a respeito do Aécio Neves. Mas eu entendo que ele foi formando ali uma base junto com as pessoas que rejeitavam as imoralidades e os crimes cometidos por aqueles que estavam no poder antes. E ele conseguiu emplacar nesse discurso, surfar nessa onda, que veio em boa parte o movimento intelectual na internet, mas que veio também em razão das descobertas da Lava Jato, dessa geração ali de procuradores e juízes que acabou, realmente, batendo de frente com os poderosos da época. [00:13:58]

Júnior Bozzella: Então assim, o Bolsonaro, ele não era o super-herói, ele não era um mito, ele não era um ídolo. Às vezes as pessoas… o brasileiro tem memória curta. Não foi o Bill Clinton que veio dos Estados Unidos para o Brasil para disputar eleição, ele não era uma figura consolidada no cenário mundial, não era… não foi nunca nada de grande expressão no congresso nacional, com todo o respeito ao deputado, mas assim, a gente sabe que o Bolsonaro não entregou absolutamente resultado nenhum. Ele sempre se consolidou por ser um crítico, algumas pessoas como a Maria do Rosário, então, ele ficou mais conhecido por brigar com a Maria do Rosário, efetivamente por algum projeto de lei que ele tenha aprovado por ter liderado algum partido, não foi líder de partido, não foi presidente de comissão, não teve grandes relatorias. Então, foi um deputado realmente inexpressivo do ponto de vista administrativo legislativo. Ele teve sempre uma ponta ideológica, um discurso para a torcida para agradar um determinado público, e foi criando a sua notoriedade. Na minha eleição, Felipe, eu até conto essa história para as pessoas entenderem, porque parece que o Bolsonaro foi um iluminado de Deus e caiu aqui na terra, aqui no Brasil, para poder salvar a nossa nação. E é mentira, não foi nada disso que aconteceu. O Bolsonaro, quando tinha 4-5%, lembro que a minha esposa, ela foi uma briga comigo para ela poder colocar uma camiseta do Bolsonaro e postar uma foto no Instagram. A gente sofria bullying literalmente por dizer que apoiava o Bolsonaro, as pessoas nos condenavam, as pessoas acabavam nos taxando de homofóbico, de racista, de misógino, tudo aquilo, todas aquelas atribuições negativas que ele carregava no histórico de vida dele. Então, era difícil você falar, ninguém tinha coragem até de falar que ia votar nele, você lembra disso. Então, o conjunto da obra, como você muito bem citou, o movimento lavajatista, o antipetismo, é esse sentimento da Sociedade que teve ((enfatizou)) em 2014, que o Aécio Neves foi o nexo, foi o catalizador, e por um detalhe não ganhou da Dilma Rousseff, em 2018, graças a alguns fatores, a alguns elementos, somado a isso que tinha acontecido em 2014, teve o Bolsonaro como esse catalisador, teve a facada que nos tirou do debate, que tirou ele de vários debates, o tirou dos debates na questão da facada, porque a gente sabe que o Bolsonaro, do ponto de vista intelectual, essa questão de falar “olha, eu vou… não entendo nada de economia”, ok, é bonito falar que ele não entende nada de economia, é sincero, é transparente. Mas assim, a partir do momento que ele ganha a eleição e vira presidente da república, o mínimo que ele tem que fazer é ler e saber interpretar o que ele lê. Ele teve a pachorra de vir publicamente e falar que ele tem muita coisa para ele ler, e que ele não consegue interpretar. Então, ele mesmo se eclara analfabeto funcional. Isso é muito grave, Felipe. Um mínimo de economia, ele já deve ter tempo para entender. E não simplesmente jogar…

Felipe Moura Brasil: Ele falou de 20 páginas, como se 20 páginas realmente fosse muito, não? Eu até fiz um vídeo da declaração dele seguida da declaração do Lula da preguiça de ler. De fato, um presidente da república precisa saber o que está aprovando, não? [00:17:27]

Júnior Bozzella: Sem dúvida. É muito grave, porque ele é o chefe do Estado, é o chefe da nação, então, ele tem uma responsabilidade com todos esses eleitores. E esse agravante, ele vem se… ((silêncio))

Felipe Moura Brasil: Vamos lá, pode retomar. [00:17:41]

Júnior Bozzella: Então, esse processo da eleição de 2018, é importante a gente desmistificar. Eu sei que o cidadão brasileiro, o eleitor, ele tem aquela necessidade de ter um herói, de ter um super-heroi, e as pessoas não querem se frustrar. Elas não querem se decepcionar, às vezes elas não querem enxergar a verdade. Agora o fato é que com todos os últimos ocorridos, Bolsonaro vem despencando. A última pesquisa da XP, ela mostra isso, ele saltou para quase incríveis 50% de ruim e péssimo. Você tem 1/3 ali de apoiadores, ainda que de repente defendam o presidente, ou talvez não saibam nem por que estejam defendendo, as pessoas não têm obrigação e elas não têm tempo para estar se aprofundando nos bastidores da política, mas muito dessa questão dos robôs, da milícia digital, esses apoiadores fictícios, que são todos eles patrocinados pela máquina pública, pelo gabinete dos deputados, então, aqueles 300 que vão lá na porta do palácio e ficam fazendo aqueles micos lá para a torcida – é uma vergonha ler aquilo, eu realmente eu me sinto constrangido de assistir a aqueles vídeos – e me dá a entender, um bando de alucinados falando em AI-5, em fechar o congresso, desrespeitando as instituições, então, passa uma percepção que o presidente tem apoio, mas o que as pessoas precisam entender é o seguinte, Felipe, se ele tiver 1/3, você tem 70% da população que não apoia. 1/3 o apoia, mas ele tem 70% que não apoia. E o que é ruim num processo político, e aonde eu me pego muitas das vezes, eu tenho me deparado com muitas pessoas, e a nossa crítica, ela tem que ser construtiva. Nós estamos aqui para apresentar resultados. Eu cito muito Santo Agostinho, eu prefiro aquele (cretino) [00:19:36] porque me corrige do que aqueles que me bajulam porque me corrompem. Eu não tenho feitio, não tenho predisposição, instinto de puxa saco. É muito ruim quando você é eleito – e eu represento quase 80 mil pessoas, além de todo o Estado de São Paulo e o restante do nosso país – para falar amém para um determinado líder, seja ele de qualquer envergadura ou status que ele possa representar. Nós temos o compromisso com a verdade. Então, eu fico aqui analisando que muita gente que votou no Bolsonaro, isso no segundo turno principalmente, você sabe que teve o voto útil. No primeiro turno também teve o voto útil. Tem muita gente que votou nele, não votaria, não era bolsonarista, mas com medo que o Haddad pudesse ter o segundo turno, com medo que pudesse ter o segundo turno.

Felipe Moura Brasil: Porque nas últimas semanas ali, havia o risco de o PT, na cabeça das pessoas, em razão do resultado das pesquisas, mesmo que não fosse assim, a probabilidade maior de todas, era a maior probabilidade de ter um segundo turno, mas havia um medo muito grande de que o PT levasse no primeiro turno. As pessoas, muitas delas que votariam no João Amuedo, por exemplo, votaram no Jair Bolsonaro já no primeiro turno, com medo do PT vencer no primeiro turma; isso aconteceu sim. [00:20:59]

Júnior Bozzella: E aí, no segundo turno, mais obviamente ainda, que teve aqueles que votaram em outras figuras, como no Geraldo Alckmin, no Henrique Meirelles, enfim, que acabaram migrando automaticamente para o voto para o Bolsonaro, justamente para não correr o risco de o Haddad ganhar as eleições. E aí que eu me pergunto, é onde que eu me espanto no atual momento que a gente vive no Brasil, e é onde o presidente da república deveria estar imbuído de governar, estar imbuído de bons propósitos, de tentar combater essa pandemia, essa crise sanitária e econômica que a gente está enfrentando, porque o país terá seriíssimas dificuldades logo após essa crise, de se recuperar, onde ele deveria estar com todo esse protagonismo de ter chamado para si essa responsabilidade, de administrar os governadores, administrar os prefeitos, administrar, dar união entre os poderes, ter feito aquilo que todos nós esperamos de um presidente da república, de um bom chefe de Estado. Se ele tivesse um pingo ((enfatizou)) dessa ambição, fatalmente agora, Felipe, todas aquelas pessoas que não votaram nele no segundo turma poderiam estar fazendo uma reflexão pensando: “Olha, talvez em 2022 o meu voto possa ser do Bolsonaro”, mas o que a gente encontra hoje é o inverso, são essas pessoas que em hipótese nenhuma querer votar nele, e o que é mais grave, aqueles que votaram, todos, uma boa parte obviamente, já se declarando arrependidos e que não vão votar novamente. Então, aonde eu me pego com a falta de inteligência emocional, intelectual do presidente da república no sentido de ele não enxergar um palmo na frente e querer governar com uma base ideológica com uma minoria barulhenta, para de repente, não sei com qual estratégia, para se manter com esse alimentação com esse grupo que fica todo dia fabricando guerra, aonde o governo que deveria alimentar a paz, ele prefere alimentar a guerra. E sendo que ele vai derretendo, a cada semana ele vai galgando números cada vez mais assustadores do ponto de vista da sua popularidade. Então, tudo isso, para mim, na minha opinião, eu não sei se é estratégia mal discutida, mal administrada pelos seus filhos, pelo gabinete do ódio, ou se é burrice mesmo, é uma coisa que fica aqui no ar a pergunta.

Felipe Moura Brasil: Agora, deputado, qual foi para você o momento assim de falar: “Eu não vou seguir em frente com esse pessoal”? Teve algum momento chave em que houve essa decisão? Ou foi a soma de uma série de observações, ou foi um momento da saída do partido? “Ah, saiu do partido, agora vou passar a criticar”? O que é que foi? Aquela má impressão inicial, que o senhor disse que teve numa reunião com o Eduardo Bolsonaro, ela foi aumentando gradativamente? [00:24:03]

Júnior Bozzella: Sabe aquela coisa? Aquele sentimento de tragédia anunciada? Aquela coisa que você fala: “Poxa, começa errado, a tendência é terminar errado”. Eu, por alguns momentos, como a gente ainda não tinha muita noção realmente do que era a verdade e do que era mentira, eu imaginava que os filhos dominavam o pai e o pai não tinha ali tanto poder de persuasão, de decisão, enfim, ele era mais uma vítima de um processo. Quando eu conversava com a Joice, quando eu conversava com Bebiano, com o próprio Julian, no processo de eleição, eles falavam muito para mim que os filhos atrapalhavam. Então, eu achava que ele, Bolsonaro, se estivesse blindado ali por um grupo de pessoas racionais, de pessoas equilibradas, e que pudesse de repente deixar os filhos a distância desse processo, por mais que eles tentassem atrapalhar, teria ali figuras como o Bebiano, como outras tantas, o Santos Cruz, enfim, uma gama de pessoas minimamente preparadas ali, do ponto de vista intelectual, e também emocional, que pudesse blindar o presidente dessas problemáticas. Mas aí eu fui vendo com o tempo que as coisas não eram bem daquele jeito, que os filhos cada vez mais iam tendo uma influência sobre essa relação na república. Então, esse gerenciamento ((silabou)) parecia uma coisa combinada entre os quatro, e que o Bolsonaro meio que fingia que não sabia o que estava acontecendo. Muito aquilo que o Lula sempre fez, fingia não saber de nada, mas sabia de tudo. E aí eu fui começando a detectar as reações, o desprezo com a sua base política, das pessoas que eventualmente estiveram no seu palanque lhe ajudando a eleger. Porque uma eleição, você sabe que ela é composta de aliados, de apoiadores. Ele nasceu, saiu com 4-5%, e obviamente que todo mundo ali foi somando esforços para que ele se transformasse esse catalisador. E a primeira reunião que teve logo após a eleição ali, no Centro Cultural Banco do Brasil, com a bancada de deputados eleitos, dos senadores, foi péssima ((enfatizou)), o cartão de visita foi horroroso. Ele diz ali claramente que todo mundo que estava ali era graças a ele, que ninguém ali tinha grandes méritos de ter sido eleito, que é uma mentira. São Paulo você teve 100 candidatos a deputado federal, o partido fez votos suficientes para eleger 17 e só 10 ocuparam a cadeira. 7 deputados que não conseguiram atingir, candidatos a deputado que não conseguiram atingir o mínimo de votos necessários, que eram os 30 mil votos por coeficiente eleitoral. Qual que é essa mágica? Qual que é essa onda maluca, absoluta, que você não consegue…? Se fosse assim, eu ficaria em casa, que teve 80 mil votos, não teria rodado o Estado de São Paulo 4-5 vezes. Então, essa maneira como eles trataram os deputados que foram para a China e hoje estão lá, muitos desses deputados que foram atacados pelo próprio Olavo de Carvalho, que esculhambou eles nas redes sociais, na internet, não tiveram o mínimo de dignidade, de altivez, e respeito próprio de se virar contra esse processo aniquilador, essa destruição de reputações, e hoje estão lá puxando saco, mas foram esfacelados publicamente por terem ido para a China, chamados de favelados pelo próprio Eduardo Bolsonaro, e hoje estão lá subservientes, submissos a essa seita maligna, maluca, que vem tomando conta de uma parcela da Sociedade, o que é grave, é hipnotizando pessoas de bem. Então, é essas questões que foram me chamando atenção, e teve uma que foi grave também, Felipe, uma reunião que o presidente chamou de última hora com a nossa bancada lá no Palácio do Planalto, e para falar sobre a questão do COAF, que você lembra bem quando teve aquela discussão, que ele ia tirar o COAF do…

Felipe Moura Brasil: Claro. Um dos grandes ruídos que ele teve com o Sérgio Moro, que eu apontei desde o começo, e um dos primeiros de vários que ainda viriam, na votação no fim de ano, as tentativas de troca no comando da polícia federal. Mas essa posição em relação ao COAF rendeu bastante. Agora eu quero saber desse bastidor seu. [00:28:20]

Júnior Bozzella: Então, e quando o presidente nos chamou para a reunião lá no palácio, já existia um ambiente controverso dentro da bancada. Muitos desses deputados que hoje estão aí, que ficam o dia inteiro tuitando, puxando o saco, falando amém, defendendo cegamente o presidente da república, estando certo ou estando errado, eu assim, eu sou aliado do Brasil, eu voto a favor das pautas de interesse da população. Não é aquela coisa: “Olha, eu voto com o Bolsonaro”, não. Eu voto porque os projetos eventualmente o executivo encaminha para o legislativo, estão de acordo com os interesses da população. Votar com o Brasil é uma coisa. Apoiar a figura irresponsável do Bolsonaro, que não consegue entender as atribuições das instituições, é uma coisa totalmente diferente da outra. Então, eu tenho que aqui verbalizar o que é correto. Então, quando eu vou na reunião do Centro Cultural do Banco do Brasil e vejo expor a aquela bancada, que muitos deles que hoje estão lá ferrenhamente apoiando, ficaram na reunião lá na Câmara, na liderança metendo ((enfatizou)) o pau no presidente, falando que ele xingava de favelado, falando que ele não dava espaço, falando que ele não dava emenda, falando que ele só dava atenção para o centrão, falando que ele só dava cargo para o centrão, e muitos desses deputados queriam cargos, se falasse, se apresentavam como da nova política, se apresentavam como os paradigmas da moralidade, e nos bastidores eles eram os mais críticos ao presidente. E quando iam na frente do presidente, não tinham coragem de falar. E nessa reunião, Felipe, do COAF especificamente, ele foi muito claro nessa reunião. Ele disse que estava fazendo um acordo com o centrão e que ia ter que tirar o COAF do Ministério da Justiça. Tinham 30 deputados na sala. Então, eu não estou aqui falando algo que o Frota não foi testemunha, que outros deputados que estavam ali naquele ambiente não testemunharam. A Carla Zambelli, por exemplo, a deputada, ela foi uma que saiu no meio da reunião chorando, aos prantos, bateu a porta na cara do presidente, que não aceitava…

Felipe Moura Brasil: Inclusive foi notícia na época, foi, saiu a notícia de que ela teria chorado em razão dessa posição. [00:30:44]

Júnior Bozzella: E é verdade, ela chorou mesmo. Então, porque o presidente falou que “Ah, eu que tinha que fazer esse acordo, que não tinha como” e ela não aceitava porque na campanha todos eles foram contra esse tipo de composições que eventualmente tivesse acontecendo no futuro. Então, para ela, era uma frustração, era algo constrangedor, ela foi embora da reunião chorando. A outra deputada lá de Minas Gerais também xingou o presidente, chorou porque não aceitava que o ministro continuasse no cargo, o Marcelo Álvaro Antônio, então assim, era uma confusão generalizada, todo mundo contra o presidente, por causa ((acha graça)) das atitudes equivocadas que ele eventualmente estaria tomando, e todo esse pessoal criticava no privado e no público não tiveram coragem de reproduzir aquela manifestação, aqueles gestos que eles faziam no particular a quatro paredes.

Felipe Moura Brasil: É, no dia seguinte já trata como o mito de novo, né? [00:31:41]

Júnior Bozzella: Exato.

Felipe Moura Brasil: Agora, só para recapitular aqui para os leitores e expectadores que não se lembram, isso era a transferência do COAF, que é o órgão ali de controle de prevenção a lavagem de dinheiro, que estava sob a guarida do ministro da justiça e da segurança pública, Sérgio Moro, portanto fazendo parte ali do ministério, e ia ser transferido para o Ministério da Economia, não é? [00:32:13]

Júnior Bozzella: Exato. E tem um detalhe, Felipe, é interessante que nessa reunião, por que é que o objetivo da reunião? Justamente porque o PSL, por ter a maior bancada na câmara, a gente regimentalmente tem o direito de pedir a verificação nominal, tal. Isso seria algo constrangedor para os partidos do centrão, porque eles não queriam essa exposição perante a opinião pública, perante a Sociedade. Então, se fosse a votação a questão do COAF, como aconteceu, teve um pedido lá do deputado do Podemos, eu me lembro na época, a reunião, ela servia justamente para isso, para fazer um acordo para o PSL não pedir a votação nominal. E ali muitos dos deputados falam “Opa, nós não vamos ser coniventes com essa questão. Nós vamos pedir sim, a verificação nominal”, então, as pessoas reagiram com o presidente da república. E depois vazou inclusive, deputado, deputado aí que chama ele de mito e estava no avião com ele, e que confidenciou para a bancada que o Bolsonaro, na reunião combinou isso, pediu para que o PSL não solicitasse a verificação nominal, para que a bancada não solicitasse a votação nominal; e parte da bancada se rebelou, foi contra, não queria acatar essa solicitação do presidente, e era esse o combinado que ele fez com o centrão. E aí ele parece que no bastidor depois chegou para um deputado e falou assim: “Ah, então, vai lá e pede a verificação nominal”. ((acha graça)) Então, é assim, ele ((enfatizou)) combina uma coisa com a bancada, porque ele acordou com o centrão, aí depois ele vai num momento seguinte, descumpre tudo aquilo que ele falou. Então, veja bem, Felipe, é uma pessoa que a gente não consegue levar a sério, justamente pelas suas atitudes. Então, voltando a aquilo que você me perguntou inicialmente, qual foi o momento que eu senti que a gente ia partir para uma postura no sentido de não defender mais o personagem Bolsonaro e sim, a gente defender a instituição, defender o povo brasileiro, defender o que é certo, foi através dessas reuniões que eu testemunhei. E o fato preponderante também foi aquela interferência que esse foi o episódio mais crucial, na minha opinião. Que quando ele ligou para os deputados pedindo para que eles votassem no Eduardo Bolsonaro para líder da bancada, sendo ((acha graça)) que lá na reunião de transição, ele mesmo falou publicamente que o Eduardo não tinha condições para ser líder, porque ele não tinha tempo, o Bolsonaro sempre criticou – e os deputados que eram colegas dele, Bolsonaro na época – falavam do descomprometimento do educação Bolsonaro, porque quando o Jair Bolsonaro deputado foi candidato à presidência da câmara dos deputados federais e teve ali 3 votos, era para ter tido 4 votos, só que no dia da votação, o Eduardo Bolsonaro estava surfando nos Estados Unidos, ou não sei onde, na praia na Indonésia. Então, isso virou motivo até de piada, por causa do descomprometimento que o deputado Eduardo tinha com as coisas que envolviam o parlamento brasileiro, os assuntos com o próprio pai, exclusivamente. Então, ninguém acreditava na liderança do Eduardo. E um dos assédios morais que eu recebi logo no início, quando eu me elegi deputado federal, essa história é interessante, um deputado me procurou, eu estava despachando no gabinete do Major Olímpio, na época deputado, que foi antes da posse, a gente não tinha onde ainda ficar instalado. E eu estava organizando o meu gabinete, fazendo um processo seletivo, entrevistando alguns técnicos da câmara para contratar, processo legislativo administrativo, enfim, um chefe de gabinete, a minha preocupação era aquela. E aí um deputado federal me procura e fala: “Olha, nós estamos articulando a liderança. E se você não votar no indicado pelo Eduardo Bolsonaro, eles vão te derreter nas redes sociais”. Então, eles sempre ((enfatizou)) tiveram essa predisposição de ameaçar ((enfatizou)) para conquistar.

Felipe Moura Brasil: Ameaça? [00:36:15]

Júnior Bozzella: É. E então, quando eu fui juntando todas essas informações, e a partir daquele momento trágico ((enfatizou)) que foi a intervenção direta do presidente da república, isso é uma coisa que me incomoda muito Felipe, ele não saber separar o público do privado. Ele acha que todas as instituições, elas têm que servir exclusivamente para os interesses da família dele. Isso é algo muito grave, seja a embaixada dos Estados Unidos, seja o controle da superintendência da polícia federal no Rio de Janeiro, seja o diretor-geral da polícia federal, seja o Ministério da Economia, da justiça, das relações exteriores, seja o partido político o qual lhe abrigou, ele achava que tinha que servir aos interesses da família dele, tudo aquilo, a ponto de ele querer fundar um partido para a própria família controlar. Então, o nível de esquizofrenia desse pessoal é algo absolutamente gritante, que me chama a atenção, porque eles não conseguem entender a diferença entre o público e o privado. Não dá para você misturar as duas coisas. Então, quando o Eduardo… e não era esse o acordo. O acordo era o Valdir ser o líder até novembro e ter uma eleição. Então, eles se anteciparam a esse processo, aquela famosa caça às bruxas. Todo mundo sabia que tinha um acordo dentro da bancada. É natural, Felipe, que os partidos na câmara, seja ele o Progressista, o Republicano, o PSDB, o PT, o PSOL, o MDB, o PSL, que dentro do seu universo, do seu ambiente legislativo, as pessoas escolham, elejam o seu líder, sem o presidente da república precisar fazer assédio moral, negociar espaço, cargo, oportunidade, ser gravado, a maior baixaria da história da república que eu testemunhei nos últimos tempos. Então, esse governo, ele é um governo que a cada dia se reinventa, se renova no sentido de trapalhadas, é a verdadeira Grande Família. É um episódio de trapalhadas, ele está se transformando numa novela, a gente precisa saber quem será a próxima vítima, e espero que não seja o povo brasileiro, porque já estamos chegando aí para quase 10 mil mortes por causa da COVID-19.

Felipe Moura Brasil: É. O senhor tocou em três pontos que eu preciso ressaltar aqui, inclusive, para os meus leitores, para os meus expectadores que acompanham muito quando eu faço comentários sobre isso há muito tempo. Primeiro, o Eduardo Bolsonaro. O senhor falou da falta de comprometimento, de que ele estava viajando no momento de ((acha graça)) eleição de líder de bancada, e mesmo assim houve uma pressão por parte do presidente, para que ele fosse eleito líder da bancada do PSL. Eu lembro também que em dezembro, quando estava passando pelo congresso a questão do orçamento, da emenda do relator do orçamento, daqueles R$ 20 bilhões que seriam controlados pelo congresso nacional, que rendeu uma grande repercussão, uma grande crítica, depois, por parte dos bolsonaristas contra o congresso, mesmo que o Eduardo Bolsonaro não estivesse sequer presente ((enfatizou)) no congresso, quando houve a tramitação daquele projeto, ele estava viajando por países árabes. Depois acabou sendo muito ((enfatizou)) criticado por viajar demais, começou a segurar um pouquinho mais. O segundo ponto que o senhor abordou, que é muito importante: ameaça de linchamento virtual para conseguir as coisas. Isso aí é algo que as pessoas precisam ficar ligadas. É claro que qualquer jornalista que seja vigilante, como eu, ele é alvo desse pessoal todos ((enfatizou)) os dias, a cada postagem, dessas milhares de contas recém-criadas, a gente entra, vê que foi criado em maio, que em abril a gente está aqui gravando essa entrevista em maio, então, são contas criadas para atacar as pessoas, contas criadas para retuitar hashtag o dia todo, para fazer subir e dar a impressão de que aquilo é realmente condizente com o número de pessoas que está defendendo aquela causa, o que não é verdade na maioria das vezes. Então, é um ponto importante, o senhor está dizendo que testemunhou ((enfatizou)) isso, esse tipo de ameaça, assim, expressamente ((enfatizou))? Ou era uma coisa que fica vaga no ar? [00:40:23]

Júnior Bozzella: A gente viveu na pele. Então, todos esses pontos de ruptura com o personagem, com a família, foi nesse sentido. É lógico, eu sempre destaco o nosso compromisso, o nosso comprometimento em fazer o que é certo. Porque às vezes eu vejo algumas pessoas: “Olha, eu… eu voto com o governo”. Tudo bem, eu votei 99% com o governo, mas eu não votei porque eu idolatro o Bolsonaro, eu votei porque era convicto daquelas pautas que são de interesse da população. Agora eu não posso deixar de vir a público revelar as verdades dos bastidores, daquilo que todos nós estamos sofrendo, estamos virando vítima. Não é apenas um governo corrupto que destrói uma nação. Um governo inerte, um governo incompetente, um governo omisso, ele talvez seja pior até do que um governo corrupto, ou tão pior quanto, deixando claro aqui que a corrupção, ela também é motivo de discussão dentro desse governo, principalmente agora, a partir do momento que busca esse alinhamento com o centrão, isso vai ficando cada vez mais claro para cada um de nós aqui, cidadãos, eleitores, que aquilo que Bolsonaro não fez no início do seu governo, e onde ele tinha ali até uma certa lua de mel com a população, tinha uma popularidade mais a seu favor, ele optou em fazer gracinha na internet com golden shower, sempre estar buscando uma pirotecnia, uma avacalhação, um inimigo do dia, um inimigo da vez, ele perdeu, jogou fora a chance de de repente construir um diálogo que seja republicano com os líderes da cam federal, porque as pessoas que estão lá também foram eleitas, elas representam uma parcela da sociedade. Então, você é obrigado a discutir com o parlamento. Ele esteve no parlamento 28 anos, ele poderia muito bem saber que esse é o exercício da democracia. Então, ele optou em não discutir com essa camada da classe política, e ficar brigando, a ponto de não termos nenhum movimento de interlocução. Você tinha uma bancada do PSL ali, recém-eleitos, muitos deputados sem experiência nenhuma na atmosfera, no ambiente político, mas que defendia o presidente com unhas e dentes. Nós ali, naquele instante, nós tínhamos envergadura moral do debate, do discurso, estava todo mundo acuado, com discurso da eleição, da velha política, do combate às velhas práticas. E o Bolsonaro…

Felipe Moura Brasil: É, isso que o senhor está… me parece que é o fato de que a campanha continuou no começo do governo, em vez de começar o governo de fato, não? [00:43:09]

Júnior Bozzella: Eu acho que esse foi o grande equívoco, porque a partir do momento que o Bolsonaro renuncia a essa lua de mel, a esse bom momento, ele não conseguiu aprovar as reformas estruturantes que o país tanto esperava, que aquele ((enfatizou)) era o momento, a reforma tributária, a reforma administrativa, a própria reforma da previdência…

Felipe Moura Brasil: Que não foram enviadas, a reforma administrativa e tributária não foram enviadas ao congresso nacional, houve um atraso muito grande. (inint) [00:43:37]

Júnior Bozzella: Um governo omisso, um governo anestesiado que só se preocupa em fabricar guerra, só se preocupa em fabricar crise. E como é com um grupo de ministros competentes, alguns brilhantes, não conseguiu gerenciar politicamente aquilo que todos nós almejávamos. É importante ((enfatizou)) deixar isso claro com a população. Todo o mérito que o governo teve no início da atual gestão, ele conseguiu jogar fora por causa dessa pauta ideológica, por causa dessa estratégia, que eu não sei de onde eles foram se socorrer, nos Estados Unidos, que aquilo era o que manteria a popularidade dele. Esse negócio da reeleição é a desgraça que mais poderia ter ocorrido no nosso país, com o Fernando Henrique aprovou essa PEC, porque o cara, quando ganha, ele não pensa em outra coisa, ele não pensa na próxima geração. Ele só pensa na próxima eleição. E o Bolsonaro abdicou de tudo ((enfatizou)). Então, ele deixou de aprovar uma reforma da previdência em tempo record porque ele preferiu ficar numa pauta beligerante, é importante as pessoas entenderem isso. E também atrasou a economia. O IBGE agora mostrou o reflexo do atraso nas políticas econômicas nesse país. Se você tem agora mais 1 milhão de desempregados, você já não está nem contabilizando os efeitos da pandemia. É porque a reforma da previdência também poderia ter sido aprovada em 3-4 meses, foi aprovado em 11 meses, então, o governo não conseguiu construir uma relação republicana com o parlamento. E agora, o que é grave, Felipe, faz uma composição para o mal. Não faz uma composição para o bem. Antes tivesse tido feito uma composição lá atrás para aprovar o pacote anticrime do Moro, para aprovar a reforma administrativa, reforma tributária, a da previdência em tempo record. Com certeza o Brasil estaria numa outra velocidade agora, e até em situação melhor para se salvar dos efeitos críticos com relação à pandemia que vai afetar diretamente a nossa economia.

Felipe Moura Brasil: Certo. Agora, deputado, só um terceiro ponto que eu ia chamar a atenção para tudo isso, em relação a tudo isso que o senhor falou. O senhor falou que o Bolsonaro, ele expressou abertamente, na reunião com os deputados do PSL, que era o partido dele na época, que estava transferindo o COAF para o Ministério da Economia e depois ele sancionou a lei que transferia diretamente para o Banco Central, mas tirando das mãos do Sérgio Moro, que ocupava naquele momento o Ministério da Justiça e da Segurança Pública e que defendia que o COAF permanecesse com ele. Lembrando que o COAF é aquele órgão que identificou a movimentação bancária atípica do Fabrício Queiroz, ex-assessor do Flávio Bolsonaro, atual senador e então deputado estadual lá no Rio de Janeiro. Então, quando Bolsonaro falou isso para vocês, deputados, ele falou como sendo o produto de um acordo com o centrão. Isso me chama muito a atenção agora porque agora ele está mais aliado do que nunca ao centrão, distribuindo cargos, estamos noticiando em O Antagonista, e aí não é fake news de imprensa e tal, tem lá os indicados publicados no Diário Oficial, e a gente vai noticiando quem são os padrinhos de cada um. Inclusive teve uma operação da polícia federal lá em Pernambuco, que alvejou um desses padrinhos dos novos indicados aí para órgãos públicos no toma lá dá cá do governo Bolsonaro, o Bolsonaro que prometeu em campanha que não ia fazer o toma lá dá cá, que se fosse a única maneira de governar, ele estaria fora. Então, já havia meses ((enfatizou)) atrás essa desculpa de agradar ao centrão para tomar decisões que ferem a pauta anticorrupção adotada pelo Sérgio Moro e por boa parte daquele eleitorado antipetista que escolheu Bolsonaro na eleição de 2018, por falta de opção. [00:47:28]

Júnior Bozzella: É o último suspiro, Felipe, esse é o ato de desespero. Quando ele se sente acuado nas cordas, ele busca algo que antes era velado, agora de forma escancarada, de forma promíscua, já é uma vergonha o que a gente está assistindo, que eu sei que vai entregar bilhões ((enfatizou)) de orçamento para ser comandados por réus condenados da Lava Jato, por ex-presidiários, pessoas que estiveram envolvidas diretamente no escândalo do mensalão, do petrolão. Então, você colocar todas essas pessoas, colocar literalmente raposa para tomar conta do galinheiro. Então, isso é muito grave porque todas essas pautas que a gente sustentou ao longo do processo eleitoral, era justamente que nós, deputados eleitos principalmente no PSL, tínhamos ali a intenção de sustentar nesse processo. Então, quando o Bolsonaro faz o acordo lá atrás, já começa a ferir os princípios do combate à corrupção, obviamente que a relação dele com o Sérgio Moro começou a se desgastar dentro daquele episódio. E não é só esse, teve a questão do juiz de garantias, enfim, teve uma série de outras pautas aí…

Felipe Moura Brasil: Restrições à prisão preventiva, restrições à delação premiada.

Júnior Bozzella: Delação premiada.

Felipe Moura Brasil: O (inint) [00:48:55] do final de ano, incluindo o juiz de garantias, que é praticamente a criação da 5ª instância porque a 1ª fica dividida em duas. E é claro que quando você tem um filho que é investigado por um esquema de desvio de recursos públicos, que às vezes as pessoas falam rachadinha, pensam que é uma coisa menor, mas é desvio de recurso público. A investigação inclusive é peculato, lavagem de dinheiro, crimes como esses, e gravíssimos. Então, quando se tem isso, é claro que fica difícil fazer essas alegações de que aquilo é só uma tentativa de agradar o congresso, não se pode dizer não ao congresso, como se não houvesse um interesse próprio, na própria transferência do COAF. Porque “Ah, não, eu estou fazendo isso por causa do centrão, eu estou fazendo isso por causa de apoio que precisa aqui, a gente precisa fazer esse tipo de negociação”… mas não é exatamente assim, né? A gente sabe que existe ali a preocupação com seu próprio entorno. [00:49:50]

Júnior Bozzella: É, juntou a fome com a vontade de comer, essa é a verdade, falando o português claro aqui para o povão entender o que a gente está falando, é conveniente fazer esse tipo de pacto agora, principalmente aquilo que eu estava dizendo. Se você tivesse feito uma coalizão, um acordo para o bem, de forma republicana para aprovar as pautas que eram sustentadas no processo eleitoral, e aí agora a gente se sente traído, porque o acordo que está sendo feito da forma mais obscura e promíscua possível, é um acordo para se salvar de um processo de impeachment, num processo de impedimento que ele ((enfatizou)) mesmo provocou. Tem que deixar claro, o Bolsonaro cavou a sua própria sepultura. E ninguém ((enfatizou)) aqui ficou… que nem, ele foi chutando todos os seus aliados, aliados de primeira hora, que defendia ele cegamente. Inclusive nessas pautas antipopulares. Ali no começo, Felipe, ninguém entendia muito bem que essa jogada do centrão, de tirar o COAF do Moro, era apenas para blindar o Flávio da questão que envolvia o Queiroz. E outra coisa que é legal a gente contar para o povo aí também, que está nos assistindo. Esse negócio do Queiroz, tem que deixar claro, porque o Queiroz era amigo, nada do Flávio, ele era amigo do Jair. Era amigo de 30-40 anos. E esse jeitão deles aí, de querer impor goela abaixo, fazer o assédio moral, ameaçar com a milícia digital, isso é uma formação, isso você aprende dentro de casa. Alguém te… te ensinou a ser dessa forma, a ter essa postura. Isso é algo muito interessante que a gente foi detectando com o tempo. Eu me senti absurdamente ofendido, enquanto deputado federal, ser ameaçado por um colega de bancada que se eu não votasse no líder determinado por eles, eu ia ser esmagado ((enfatizou)), iam acabar com a minha trajetória, com a minha carreira.

Felipe Moura Brasil: Quem foi esse colega, deputado? [00:51:48]

Júnior Bozzella: Rapaz, eu poderia até falar aqui, mas eu acho que ele ficaria um pouco magoado, um pouco chateado comigo, e eu também não estou querendo construir esse tipo de inimizade. ((acha graça)) Mas isso é algo real, isso é algo… é muito sério porque esse colega também, assim como outros, também foram vítimas do mesmo processo de assédio moral e de ameaça nesse sentido. Eu lembro que nessa discussão da bancada, deputados que chegavam chorando para mim “ó, pelo amor de Deus, eu não posso assinar a lista porque do meu Estado eles estão me moendo e eu cheguei lá, o meu pai brigou comigo, a minha mãe chorando em prantos porque a pressão do meu pai estava subindo, que não estava aguentando e que a gente não podia, o meu pastor da minha igreja me cobrando”… então, as pessoas não queriam, não concordavam com esse estilo deles de assédio, de imposição, mas ao mesmo tempo tinham que se curvar porque não conseguiram ter estrutura emocional necessário para resistir, para você você ver a que ponto nós chegamos no nível. Então, Felipe, todo esse histórico, essa linha de raciocínio, passando pela história aí do Queiroz foi o que nos chamou a atenção, porque como o Queiroz era amigo do Jair, a gente entendia o seguinte: que como nós éramos tratados com o Jair, pela cúpula, pelos filhos, dessa forma, dessa maneira, a gente entendia também que ele dava esse tratamento para os filhos. Como os filhos nunca trabalharam, sempre foram profissionais da política no sentido de “olha, eu vou ter um mandato… a minha profissão vai ser o mandato de vereador, a minha primeira profissão vai ser… meu primeiro emprego vai ser o de deputado estadual, de deputado federal.”, então, eles foram se profissionalizando ao longo do tempo na política pela envergadura, pelo capital político ali que o pai tinha com aquele núcleo ideológico. E eles não conseguiram transferir. Eu lembro, em 2014, eu era candidato a deputado estadual, eu vi em Santos o Bolsonaro pedindo, o Bolsonaro pai no semáforo, com o filho do lado, o Eduardo, pedindo voto. Então, Bolsonaro veio do Rio, na sua própria campanha eleitoral para pedir voto para o filho no Estado de São Paulo, para você ver o nível das coisas como elas acontecem. Então, é óbvio…

Felipe Moura Brasil: Então, é só lembrando, para quem não sabe, o Carlos Bolsonaro é vereador no Rio de Janeiro, o Flávio Bolsonaro era deputado estadual no Rio de Janeiro, virou senador, e o Eduardo Bolsonaro é deputado federal por São Paulo ((enfatizou)), ele é o único ali dos quatro que é por São Paulo, Jair Bolsonaro era deputado federal pelo Rio de Janeiro também. [00:54:31]

Júnior Bozzella: É. E essas oligarquias são coisas interessantes na política. E isso é um mal para a política do país, é um estilo de um coronelismo, de uma fábrica de políticos. Eu acho assim, eu aprendi na minha casa que político não é profissão, político é vocação. Então, eu procurei concluir o meu curso de direito, procurei trabalhar construindo meus negócios em tese, e ingressei quando eu estava com a minha independência profissional financeira conquistada. Agora eu não estou aqui fazendo nenhuma crítica, não é nenhum ranço. Eu estou aqui para abrir o cérebro das pessoas para que elas entendam o que está acontecendo no nosso país hoje. Então, é grave quando você pega os seus filhos e você impõe a eles que você é dono domandato deles, porque é dessa forma que ele transmitiu para todos nós, os deputados. Então, eu tenho essa certeza que ele fez essa lavagem cerebral nos meninos, porque também não deixa de ser verdade. Ele era o controlador de toda essa máquina de fabricar vereadores, deputados, senadores dentro da própria família. Então, as pessoas, elas precisam entender que essas… é até ruim o pai querer transferir para o filho a responsabilidade de algo errado. Eu lembro que no começo do mandato Bolsonaro falou: “Se o meu filho errou, ele tem que pagar”. Ele simplesmente lava as mãos, é aquela coisa, é salve-se quem puder, não importa quem esteja na frente. É vão-se os anéis e ficam-se os dedos. É o que está acontecendo agora nesse acordo com o centrão. Uma pessoa, um pai que coloca o filho na própria forca, e na verdade quem convidou o Queiroz, duvido que tenha sido o Flávio Bolsonaro que chamou o Queiroz para trabalhar no gabinete dele. O Queiroz era relação do Jair Bolsonaro. Então, assim, a que ponto as coisas chegaram? Você, para se salvar, você coloca até a cabeça do teu filho na guilhotina. Então, isso é muito grave.

Felipe Moura Brasil: Ele não colocou, deputado. Quer dizer, ele falou, no começo ele chegou a dar uma declaração, de “não vou passar a mão na cabeça de ninguém.”, só que as atitudes não corresponderam de maneira nenhuma a aquela declaração que ele deu. No dia seguinte já estava endossando a decisão do Dias Toffoli, no dia seguinte, eu estou falando modo de expressão, não estou falando da cronologia exata, mas ele endossou a decisão do Toffoli de suspender as investigações baseados em dados do COAF, que manteve centenas de investigações paralisadas no Brasil durante 4 meses até o plenário discutir aquele assunto e reverter aquela decisão do Toffoli, que no final, para não ser derrotado de goelada, acabou se juntando ali para poder escrever o acórdão da decisão. Aí eles blindaram o Dias Toffoli também em relação à CPI da Lava Toga, porque ele estava lá segurando a suspensão das investigações, inclusive a do Flávio Bolsonaro, então, foram vários ((enfatizou)) momentos em que o suposto combate à corrupção não estava acontecendo, quer dizer, era uma traição a uma bandeira de campanha. É claro que como jornalista, e a gente sempre desconfia de político e tal. Mas tem muita gente que embarca numa bandeira de campanha cegamente, e aí vem as atitudes contrárias e a pessoa continua acreditando na bandeira. Você fala: “Olha, mas a atitude não corresponde a aquela bandeira”. Mas a retórica, a síntese entrou de uma forma tão profunda na cabeça dela, e muitas vezes ela fez um investimento emocional tão grande, em se juntar a aquelas pessoas, são os seus laços sociais, os seus amigos e tal, que como o senhor disse bem, deputado, falta estrutura emocional, moral, psicológica para ter a firmeza de contrariar a patota. [00:58:11]

Júnior Bozzella: E você lembra que o Flávio, ele fez campanha para que senadores retirassem assinatura da CPI da Lava Toga.

Felipe Moura Brasil: Exatamente. [00:58:20]

Júnior Bozzella: Então, por que? Então assim, todos os fatos que se sucederam, mediante a esses movimentos de combate à corrupção, como a república, como os filhos, e o presidente todos eles umbilicalmente ligados do ponto de vista político, familiar, financeiro, administrativo, contaminou o processo político como um todo. Então, tudo passou a ser conveniente, a não ter a CPI do Lava Toga, a tirar o COAF do Ministério da Justiça, a interferir no comando geral da polícia federal. Então, não tem como você esconder o sol com a peneira. A verdade, ela é numa e crua. Ela pode doer. E eu tenho pena justamente dessas pessoas que você citou, que se dedicaram. Conheço uma senhora que mudou para Brasília, porque ela trata o Bolsonaro como se fosse o Neymar, o Mick Jagger, cada um com os seus ídolos, que a gente tem aquela adoração, aquela idolatria, que ele é um presidente eleito que está errando e ponto, ou a gente tira em 2022, dentro de um processo democrático. A partir do momento que ele está causando seriíssimos problemas institucionais e de ordem política, administrativa e econômica, que vai prejudicar a retomada, a recuperação do nosso país, além de condenar pessoas à morte pela sua irresponsabilidade no trato com a COVID-19, obviamente que a Constituição é clara. Não é porque o país já passou por traumas de impeachment, que ali eram complôs, eram lobbies, era o Temer ou era a Dilma, pouco importa. Nós temos que seguir aquilo que a Carta Magna determina. Se está previsto o processo de impeachment, é para evitar um mal maior, é isso que as pessoas precisam entender. Como o Bolsonaro perdeu a mão, perdeu a compostura, perdeu a capacidade de gerir o país, se contaminou com esse processo de tentar blindar os seus parentes, os seus familiares, os seus aliados de processos de inquéritos no Supremo Tribunal Federal, de processos criminais, CPI da fake news, fábrica de destruição de reputações, então, tudo isso está fazendo com que ele se junte com o que tem de pior na política, porque esse pior que tem na política é porque essas pessoas, ao longo dos anos, praticaram o mal para a nossa nação. E o Bolsonaro foi eleito para combater ((enfatizou)) essas velhas práticas e esse establishment que ele sempre citou. E ele hoje é obrigado a se curvar, é obrigado a se apoiar, porque o processo familiar se contaminou de tal forma a ponte de ele cavar a sua própria sepultura, a ponto de sofrer um processo de impeachment, de impedimento, e tendo que agora vender a alma literalmente para o diabo, para poder se salvar dessa questão. Agora o brasileiro precisa ter consciência, precisa ter consciência que se permanecer nesse estado, a gente vai ter aí provavelmente décadas e décadas jogadas fora.

Felipe Moura Brasil: É, lembrando que não existe ainda o processo de impeachment instaurado, depende de uma autorização do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, mas existem mais de 30 pedidos de impeachment do Bolsonaro, ele já passou até o Temer e a Dilma, se eu não me engano, em quantidade de pedidos de impeachment. Vamos ver se vai sair alguma coisa desse inquérito do Supremo Tribunal Federal, não se sabe também se o procurador-geral da república,

Augusto Aras, seria capaz de levar adiante uma denúncia nesse sentido, e a gente está vivendo esse momento de pandemia, que também é usado por aqueles que muitas vezes estão interessados em deixar o Bolsonaro no poder para sangrar, para ter mais chances na eleição de 2022, não? Então, só estou dando aqui o cenário para os leitores e para os espectadores, porque a gente não sabe realmente se vai haver o início de um processo como esse nas próximas semanas, nos próximos meses, ou se vai simplesmente se arrastar esse governo até 2022, com esse período de pandemia, com essa possibilidade ou não de haver uma recuperação, ainda durante o mandato do presidente. Mas só para a gente encerrar essa entrevista, que a gente já está estendendo aqui, porque é muito assunto em relação às transformações que ocorreram aí no entorno do presidente, deputado, só queria saber das suas ações, do que é que o senhor está achando das decisões do congresso nacional em relação ao combate ao coronavírus, em relação à preocupação com a assistência das pessoas de baixa renda, dos trabalhadores informais, qual tem sido a sua atuação nesse sentido? [01:02:46]

Júnior Bozzella: Olha, Felipe, o congresso tem tomado medidas que são oportunas, e a gente está literalmente trocando o pneu do carro com ele em movimento. Se o governo central tivesse ali, como eu disse há pouco, há pouco tempo atrás, montado com uma estratégia de guerra, de enfrentamento, talvez a gente teria um norte mais razoável daquilo que a gente pudesse fazer, não apenas com medidas aí para ir tapando o buraco ao longo do processo. Mas as medidas, elas têm sido eficazes, a gente tem aprovado, o socorro emergencial foi uma delas, que foi uma responsabilidade da câmara federal, os R$ 600 por autônomo, enfim, Bolsonaro…

Felipe Moura Brasil: O Bolsonaro diz que é dele. Lembrando que vem dos pagadores de impostos. [01:03:38]

Júnior Bozzella: É. Isso é uma outra matéria que a gente vai ter que se debruçar, porque tem muita gente que precisa, que não está conseguindo receber, e muita gente que não precisa que está recebendo. É importante deixar isso claro. É dinheiro público.

Felipe Moura Brasil: E tem muita gente que fica em aglomeração e correndo risco de contaminação quando vai retirar o auxílio emergencial também, não? [01:03:57]

Júnior Bozzella: Exatamente. Agora, o auxílio aos estados e municípios é importante porque São Paulo, por exemplo, já tem previsão de perder 30% de arrecadação do ICMS, o maior estado do país, é a locomotiva do país que mais arrecada, que mais contribui, é uma outra discussão que a gente deveria ter feito, ter iniciado nessa legislatura, era a questão do pacto federativo, tudo isso foi ficando para trás, infelizmente o tempo vai se passando, o ano de 2020 já está comprometido, 2021 vai ser a tentativa da recuperação, da retomada econômica, e 2022 já vem eleição. Então, esse governo naufragou, infelizmente, por não ter apostado corretamente logo no início do seu mandato em ter feito tudo aquilo que era necessário se fazer, quando vivia aquela lua de mel. Aprovamos agora o orçamento de guerra, que vai ser importante. Então, o congresso tem dado respostas efetivas, no sentido de dar possibilidade para que o governo central consiga buscar a recuperação tão necessária, inclusive decretando, aprovando decreto de calamidade pública, permitindo aí a regra de ouro, a lei de responsabilidade fiscal, enfim o teto de gastos, eles pudessem nesse momento não prejudicar as ações do governo para que pudesse socorrer a economia do país e obviamente contribuir para o combate à pandemia. Eu particularmente defendo, e é uma das propostas que eu tenho apresentado, de tantas outras que eu tenho ajudado aí no dia a dia, uma PEC com relação aos fundos infraconstitucionais, é muito dinheiro por exemplo, o fundo das telecomunicações, ali tem mais de R$ 300 bilhões, e outros tantos fundos que há 10-12-15 anos que dinheiro está parado, é subutilizado. Não seria acabar esses fundos, mas você utilizar esse recurso, pelo menos no período de pandemia, para que você pudesse de alguma forma ajudar a socorrer a economia do nosso país e também combater a crise sanitária.

Felipe Moura Brasil: Agora, o fundo eleitoral, que é bom para político, ninguém quer mexer. Salário de político também. [01:05:58]

Júnior Bozzella: O PSL apresentou uma proposta, foi bom você tocar nesse assunto, que a gente está aguardando, está a tramitação lá na câmara, a gente tem cobrado, que é a redução de 50%, até 50% dos salários dos servidores públicos, incluindo deputados, enfim, auditores fiscais. Eu acho que todo mundo tem que dar a sua cota de contribuição. Agora, com relação ao fundo eleitoral, eu acho uma pauta bacana de a gente discutir, eu sinceramente, eu não tenho hipocrisia, demagogia, e comigo o papo é reto, é olho no olho. Eu acho muito ruim no momento da pandemia as pessoas poderem discutir tantos assuntos, como também o do fundo eleitoral, inclusive o presidente da república sancionou. Eu votei contra o aumento do fundão eleitoral. Mas eu acho que as pessoas, num momento inoportuno, e da forma atabalhoada, mais preocupadas com likes, com engajamento na internet, apresentam as propostas de forma totalmente desconexa e acaba não surtindo o efeito necessário. Eu acho que os R$ 2 bilhões é mais um recurso que seria importante também para contribuir nesse momento da pandemia. Mas nós precisamos discutir a democracia brasileira. O financiamento público eleitoral, eu sei que o tempo está estourado, eu vou tentar sintetizar, ele não fala opção da democracia, na verdade o financiamento privado faliu, ele não funcionou porque ele gerou corrupção, foi um dos motivos da Lava Jato, então, encontraram uma fórmula para poder se financiar campanha no nosso país. Se essa fórmula não existir, nós precisamos achar uma outra maneira, até para que a gente não privilegie o crime organizado, os banqueiros, os mais bem remunerados. Acho que tudo isso tem que ser debatido, porque uma democracia que não tiver investimentos, se você não quiser alternar o poder, ou oxigenar, fica muito complicado você fazer entrar o poder na mão de um presidente da república, de alguns governadores e de alguns bilionários no nosso país.

Felipe Moura Brasil: Eu conversei com o deputado federal Júnior Bozzella, do PSL de São Paulo, ele que também é presidente estadual do partido, e vice-presidente nacional do PSL. Muito obrigado por esta entrevista, boa noite, bom trabalho, deputado. [01:08:11]

Júnior Bozzella: Obrigado, Felipe, estou à disposição e parabéns aí por sua independência e transparência à frente do jornalismo no nosso país, foi um prazer. Um grande abraço.

Felipe Moura Brasil: Obrigado, um abraço.

→ Dossiê de políticos – https://transcricoes.com.br/dossie-wikipedia-de-politicos/

((fim da transcrição))


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