Transcrição de áudio
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Pierluigi Piazzi: Aprendendo Inteligência, transcrição de áudio

Publicado por Transcricoes em

transcrição de áudio

Pierluigi Piazzi Aprendendo Inteligência, transcrição de áudio vai trazer a transcrição de um simpósio do SinPro em 2008.

Esta transcrição de áudio foi realizada em estilo acadêmico editado, tipo mais comum com a qual trabalhamos.

Mas como se trata de uma palestra, optamos por marcar os tempos frase a frase. Isso ajuda blogueiros a localizar mais facilmente determinados trechos do áudio.

Deixei também observações a cada anotação realizada de forma diferente do padrão da escrita. Trechos anotados em itálico, negrito e sinalizações como {chaves} e (parêteses) têm significados codificados. Procurei no primeiro bloco (0 a 20 minutos) esclarecer essa sinalização em formato de notas de final de texto.

Vai ser uma forma de demonstrar como funciona uma transcrição de áudio tipo 3 e como ela pode ajudar você a ter uma noção melhorada de como as palavras foram pronunciadas.

Para perceber essas nuances, ouça o vídeo enquanto lê o material. É a melhor forma de demonstrarmos como faremos o trabalho.

Como se trata de uma transcrição de áudio, figuras foram omitidas.

Espero que você goste assim como a gente gostou. Com vocês: Aprendendo Inteligência, simpósio Sinpro 2008.

Abraço, boa leitura. O texto foi produzido obedecendo-se as regras de transcrição de áudio vigentes desde 21 de julho de 2021.

Primeiro bloco

(Início da transcrição) [00:00:00]

Boa tarde! Há alguns anos, uns 5-6 anos atrás, eu fui homenageado pela Rede Globo no Dia dos Professores. No meio de uma aula, a minha aula foi invadida pela Ana Maria Braga…

(risos)

Não sei se alguém chegou a assistir essa cena triste. (risos)

Plateia: (ininteligível)

E hoje eu me sinto homenageado por ter sido convidado para conversar com vocês no Dia do Professor, e essa homenagem de hoje, para mim, é mil vezes mais importante do que a da Globo com certeza absoluta.

[00:00:32]

Eu comecei a dar aula com 18 anos, tenho 65. Quando completei 60 fiquei muito feliz que descobri que o Estatuto do Idoso prevalece sobre a da Criança e do Adolescente. Agora eu posso bater nos alunos que não me acontece nada.

(gargalhadas) [00:00:49]

É um sonho que acalentei durante toda minha carreira. (acha graça)

Plateia: É…

Mas, de qualquer forma eu juntei acho que um bocado de experiência e eu gostaria de passar um pouco dessa experiência para vocês.

[00:01:03]

Só no cursinho… eu já dei aula no fundamental, já dei aula no pré, no prezinho, já dei aula no colegial, dei aula em graduação, dei aula na pós-graduação da PUC durante 4 anos[1] num curso de formação de terapeutas familiares.

Mas, digamos assim, a minha maior experiência é no cursinho, né[2]? Já tive até hoje 100.400[3] alunos, 100.400 provas vivas de que o sistema educacional brasileiro tem problemas seriíssimos, que se não tivesse não teria cursinho.

[00:01:41]

Eu me sinto no cursinho, falo isso até no meu livro, como se eu fosse um médico que trabalha numa UTI especializada em atender vítimas de erros médicos. Ou seja, eu trabalho numa UTI educacional especializada em atender vítimas de erros educacionais, erros educacionais que eu gostaria de colocar para vocês porque são fáceis de serem corrigidos, extremamente fáceis.

[00:02:07]

Quando eu dava aula na PUC para os terapeutas familiares eu dava aula teoria dos sistemas, mostrar que a família é um sistema. Eu sempre dizia para eles: “Se você está perdendo o jogo, não mude os jogadores, muda as regras do jogo”

[00:02:26]

Se o sistema educacional brasileiro está doente, não precisa mudar os professores, não precisa mudar os alunos e não precisa mudar as famílias: tem que mudar as regras do jogo. Nós estamos jogando um jogo segundo as regras erradas, partindo inclusive de princípios ou antiquados ou completamente equivocados.

[00:02:45]

Quando eu falo “antiquado” tem gente que já imagina e fala: “Esse cara não gosta de computador”. Tem alguém aqui que ouve nos fins de semana meu programa na Rádio Eldorado? Qual é o tema? Computador.

[00:03:00]

O primeiro computador que eu programei foi em 1967. Aliás, a primeira vez que foi publicado numa revista brasileira a listagem de um software pedagógico foi eu que fiz. Eu adoro computador usado de forma inteligente.

[00:03:17]

Aliás, por falar em inteligência, quando eu escrevi o primeiro livro, o segundo a editora cuspiu sangue para poder lançar hoje: vocês têm o privilégio de serem os primeiros a ver esse segundo. Esse é dedicado aos pais, o primeiro é dedicado a alunos e o número 3[4], que eu prometo para você para o começo do ano que vem, é dedicado a professores. Eu ia lançar hoje o dos professores, mas sinceramente não deu tempo.

[00:03:39]

Quando eu dancei o primeiro Aprendendo Inteligência [5], já levei cacetada. Já levei cacetada. Chegou uma psicopedagoga para mim – sabe aquelas psicopedagogas bem arrogantes? – “Desde quando[6] inteligência se aprende?”, falei: “No seu caso, nunca

Plateia: (risos)

… Agora, no caso dos meus alunos existe essa possibilidade.”

[00:03:55]

Antigamente Se achava que inteligência fosse uma questão de nascença – certo? – fosse uma questão genética, tanto que há estudos que mostram que filhos de país inteligentes são mais inteligentes. Só que o estudo mostra que isso vale mesmo que o filho seja adotivo. Ou seja, o ambiente é fundamental.

[00:04:16]

Então hoje as neurociências já mostram… tem cara que fala: “Desculpe, o senhor não é fisico?”, “Sou. Só que como eu dei aula de computação durante muito tempo, dei aula durante muito tempo de inteligência artificial e configuração de redes neurais, eu me vi obrigado a estudar o cérebro humano, que é o único computador que realmente pensa por enquanto”.

[00:04:33]

Então, na realidade, as neurociências mostram hoje em dia o quê? Que inteligência, talento e vocação são qualidades apreendidas. Às vezes de uma forma tão precoce que as pessoas pensam que é de nascença.

[00:04:50]

Eu vou dar um exemplo. Há 30 anos atrás uma revista francesa de divulgação científica chamada {La Reserche} [7] publicou um artigo mostrando que astrologia não é ciência, é pseudociência, ou seja, astrologia não funcionar. A Associação dos Astrólogos Franceses imediatamente processou a revista. E a revista, para se defender, uma coisa maravilhosa, contratou um instituto de pesquisa e falou: “Então vamos ver científicamente”.

[00:05:16]

Fizeram a mesma pesquisa de campo que é…[8] Cadê a Sofia? Sofia, onde você está? A Sofia tinha dúvidas, você não inventou, você foi lá e fez a pesquisa.

[00:05:28]

Pesquisaram milhares de pessoas em termos de inteligência, talento, vocação, caráter, profissão etc. E depois tabularam em função do signo para saber no que cada signo se sobressaía.

[00:05:42]

[♪ (assobiou para cima) ♫][9], a média deu exatamente a mesma. Ou seja, nenhum signo do zodíaco tem alguma característica especial, a média foi exatamente a mesma.

[00:05:57]

Sinto muito decepcionada as pessoas que acreditam em astrologia, (acha graça) [10] mas esse estudo mostrou que astrologia é aumente não funciona.

[00:06:05]

(acha graça) Teve Uma vez uma mãe indignada que chegou para mim e falou: “Então por quê que o jornal publica horóscopo?”, falei: “Aonde, minha senhora? Na página humorística junto com as histórias em quadrinhos”.

[00:06:15]

Eu leio horóscopo, acho divertidíssimo. “Leão, cuidado com falsos amigos” (risos) Precisa ser de leão para tomar (acha graça) cuidado com os falsos amigos.

[00:06:26]

Mas nessa pesquisa Surgiu uma coisa estranhíssima. Apesar de estar demonstrado que os signos não influem absolutamente nada, os nascidos em capricórnio, aquário e peixes mostraram ter um QI mais elevado do que os outros nove signos.

[00:06:39]

E tire esse sorrisinho dos lábios porque só os nascidos na França em capricórnio aquário e peixes. (risos)

[00:06:52]

Agora, por que é que os nascidos na França em capricórnio aquário e peixes têm um nível de inteligência mais elevado do que os outros nove signos? Simples. Capricórnio, aquário e peixes – dezembro janeiro e fevereiro: inverno, faz frio – faz muito frio. E na França os pais saem menos de casa e ficam mais tempo com o neném. E só o fato do neném ter tido mais assistência, mais estímulos, mais carinhos, mais presença, faz com que ele se desenvolva intelectualmente mais que os outros. E uma característica tão precoce, tão absurdamente precoce, que as pessoas acham que é de nascença.

[00:07:22]

Então na realidade, quando nós nascemos, nós nascemos folhas em branco e podemos ser qualquer coisa[11]. Ninguém nasce matemático, poeta ou músico. Nós nascemos tudo. E a vida vai tirando quando o certo seria que a vida fosse acrescentado, Esse é que é o problema.

[00:07:48]

Mas de qualquer forma, só para resumir, é bom que todos nós tomemos consciência que na nossa frente nós temos uma escada chamada escada da inteligência. Todos nós em qualquer idade podemos subir essa escada. É lógico que ela vai subir muito mais rapidamente do que você em função da idade, mas todo mundo sobe a escada. Todo mundo consegue subir, só que tem um pequeno problema: os degraus diários são baixinhos.

[00:08:17]

Portanto, quanto em termos totais a inteligência de um ser humano pode aumentar não tem limite. Agora quanto ela pode aumentar diariamente é limitado pela própria estrutura das redes neurais do cérebro. Portanto nós não podemos perder um dia sequer. Esse é que é o ponto.

[00:08:36]

Vocês vão dizer: “E o sistema educacional brasileiro funciona?”. Olha, só para vocês terem uma ideia…[12]

[00:08:44]

Deixa eu avisar uma coisa. Alguém já ouviu falar aqui em Arthur Clarke? Morreu há 6 meses[13] atrás, que aliás me faz um favor, (acha graça) toda vez que vocês na rua vir em uma antena parabólica apontando para o céu, olha lá para cima e fala: “Obrigado, Arthur Clarke”, que foi ele que inventou isso, e sistema de retransmissão.

[00:09:03]

Pois é. O Arthur Clarke tinha uma frase que dizia, eu assisti a uma conferência dele em Cambridge em 1900 e tra-lá-lá: “any professor who can be repalced by a computer must percebe replaced[14]”, qualquer professor que possa ser substituído por um computador deve ser substituído. Certo? Por favor, gravem isso.

[00:09:27]

Se você for fazer um teste de QI na humanidade, seja quantas pessoas, qual é o número de pessoas que têm um certo QI, vai dar a famosa curva em forma de sino que mostra o quê? Que umas poucas pessoas têm um QI muito baixo, umas poucas pessoas têm um QI muito alto e o chamado QI normal é 100, que cá entre nós não é lá grande coisa, né? Porque quem tem um QI 100 está acima de metade da população, mas está abaixo da outra metade.

[00:10:04]

Pois é. Foi feito um teste de QI na população da Inglaterra. QI médio dos ingleses 100. Ou seja, os ingleses têm a mesma distribuição normal que a população mundial tem.

[00:10:20]

QI médio dos norte-americanos, 98. Eles são normais também. Eu desconfio que era para dar 100, na última hora incluíram o Bush, então caiu para 98.

(risos)

[00:10:37]

QI médio dos japoneses, 113. Muito acima da média e, mais uma vez, tire esse sorrisinho dos lábios que é só japonês do Japão que tem esse… (riso)

[00:10:53]

QI médio dos brasileiros? (silêncio) [15], 87. E não vou nem falar quem que eles incluíram na última hora.

(risos)

[00:11:06]

Agora, na realidade o cérebro de um japonês, o cérebro de um inglês, o cérebro de um brasileiro biologicamente são idênticos, idênticos. Isso já mostra o quê? Que no Japão a estrutura, o ambiente deve fazer coisas que estimulem mais a subida da escada e no Brasil, nós – pelo contrário – estimulamos a descida. É só mudar as regras do jogo.

[00:11:32]

E a escola brasileira? O quê que faz? Nada! Porque a escola brasileira, a escola oficial que eu falo, nem sequer sabe que essa escada existe.

[00:11:43]

Portanto… eu já vi pedagogas falando: “Não, temos que respeitar a inteligência de cada um”. “Isso, sua tonta! Respeita, porque aí cada um vai ficar parado no mesmo lugar, não vai sair do lugar, porque as pessoas não percebem que tem que haver estímulo para que haja esse…[16] as pessoas nem sequer acreditam que possa haver esse crescimento.

[00:12:02]

Tanto é que quando foi feito o Pisa… alguém já entrou no site lá para ver o resultado do exame Pisa? Pisa, 41 países, em 2003[17] teve 41 países participando do exame Pisa, Brasil inclusive, jovens de 15 anos. Foram testados os vários tipos de inteligências, que aliás é palavra tabu na pedagogia. Que na pedagogia você fala “competências e habilidades”, porque falar, usar a palavra inteligência seria extremamente preconceituoso se a inteligência fosse uma coisa genetica.

[00:12:34]

Então, foram medidos vários tipos de inteligência: alunos brasileiros vindos de escolas públicas e boas escolas particulares, 41 países. 41 países. A melhor colocação num dos quesitos dos alunos brasileiros, aquelas que eles se deram melhor, eles tiraram 4º lugar de trás para frente. Nós fomos ante antipenúltimo, na maioria nós somos penúltimos. Inteligência matemática não, nós somos os últimos, decididamente os últimos.

[00:13:09]

Toda manhã, quando acordo, eu levanto os olhos aos ceus e falo: “Obrigado, Senhor, por ter criado a Tunísia”.

(acha graça)

“Muito obrigado por fazer a Tusínia existir, porque (acha graça) se não fosse a Tunisia nós seriamos o pior sistema educacional do mundo!”.

[00:13:31]

Então, vamos fazer uma coisa? Vocês, nós, eu inclusive, somos os iores professores do mundo? Não! Os nossos alunos são os alunos mais burros do mundo? Não! Os pais dos nossos alunos? Bom, aí já… (risos)

[00:13:52]

Agora, o que está errado? São as regras do jogo e a cultura, né? Por exemplo, quem é que está muito acima do Brasil? Os hermanos![18] (acha graça) “Pero! Lo que hácen los argentinos? por que estan tan arriba de nosostros?”. Simples.

[00:14:14]

Por que é que tem muita gente chegando atrasado? Porque o trânsito de São Paulo é horrivel. E por que é que o trãnsito de São Paulo é…?[19] Não, tem gente que chegou adiantado porque acreditou no horário do Windows. Agora, (risos) que mudou o hrr de verao antes da hora. Agora, por que é que o trânsito de São Paulo é horrível? Porque só na cidade de São Paulo tem mais veículos do que na Argentina inteira, que não é motivo nenhum de orgulho. Vamos para a Argentina? Só na cidade de Buenos Aires tem mais livrarias do que no Brasil inteiro.

[00:14:53]

Repito: só na cidade de Buenos Aires tem mais livrarias do que no Brasil inteiro. Estudante argentino , estudante brasileiro assiste Malhação[20], esse que é o grande problema. Essa já é uma regra do jogo que nós temos que mudar.

[00:15:11]

Você vai dizer: “Professor, ao longo de toda a sua experiência, quais são os três grandes problemas que você identificou ao longo da sua carreira? Por que é que a escola brasileira hoje não funciona direito?”

[00:15:33]

Hoje o aluno se sente no direito de conversar durante a aula. Você chama a atenção de um aluno, ah! Se você achamar a atenção meio rudemente, você corre até o risco de ser processado.

[00:15:52]

Há alguns anos eu fiz uma besteira. Aqui perto abriram um colégio novo, um amigo meufalou: “Ah, Pier, abriu um colegio novo, você vai ser um dos nossos professores”. Falei: “Ah, desculpe, não tenho tempo”. “Ah, mas cê vai dar aula um ano só, pra dar o pontapé inicial”, falei: “Desculpe, não tenho tempo”. “Ah, Pier! Cê não consegue uma manhã por semana?”, falei: “Não tenho tempo!”. “Ô Pier, o dono do colegio vai fciar muito decepcionado, ele já tinha reservado pra você uma manhã por semana a 3 mil dólares por mês”, falei “Quarta-feira. Quarta-feira lembrei agora que tenho um…”.

[00:16:31]

Olha, gente, como me arrependo! Sabe? Eu ia dirigindo para essa escola pensando assim: “Há 65 milhões de anos um pequeno cometa – não era nem muito grande – caiu no México, conseguiu extinguir todos os dinossauros. Não podia cair uma pedrinha nesse colégio, pra extinguis esses desgraçado pra eu não ter que dar aula pra esses cara?”

(risos)

[00:16:52]

Por quê? Se fosse no cursinho, no cursinho não tinha problema, no cursinho eu tenho salas de 200 alunos, nunca precisei botar um aluno para fora de sala. É lógico! Eles perceberam que jogaram na lata do lixo sete anos de escola estão tentando recuperar em 10 meses! (acha graça) É esse que é o problema!

[00:17:08]

Você imagina? No meio de uma aula tenho que parar aula e falar: “vocês duas aí, dá pra parar?”, sabe o que é que eu escutei? “Ah, professor! A gente estava só conversando!”. Falei: “Como ‘ conversando’, sua pequena imbecil? Quem falou que durante uma aula cê pode conversar?”, “Ah, professor, o senhor tá estressado!”.

[00:17:24]

Não é esta, a reação?

[00:17:29]

No meio de uma aula, eu estou dando aula de física, viram, estava todo mundo prestando atenção, falei: “Deus existe.” e de repente eu olho assim, tem uma menina lá no fundo assim: (gestual) [21]. Falei: “Filha, se liga, vai! Presta atenção cê também”. “Ah, professor, hoje não dá! Tô na fossa!”

(risos)

[00:17:47]

Falei: “Cê tá o quê?”, “Ah, professor, eu estou na fossa! O meu namorado me largou”. Eu falei: “Fez bem. Fez bem, porque se teu namorado não tivesse largado, cê corria o risco de casar com ele, ter filhos, e propagar o gene de estupidez gerações afora, porque alguém que assiste aulas assim, não pode se reproduzir, cê vai poluir o pool genético da humanidade. Alguém que assiste aula assim, tem que chamar o veterinario e mandar castrar!”.

(risos)

[00:18:09]

Essa foi (acha graça), acabou… tá quentinho da gra´fica ainda, né? Esse é o lançamento de hoje.

[00:18:24]

Querdas e queridos, restabelecer autoridade e o prestígio do professor, isso é fundamental! E o estudo mostra exatamente isso. Ou o professor volta a ter autoridade, ou o professor volta a ter prestígio, ou o sistema educacional vai continuar sendo a porcaria que é! É simples!

[00:18:49]

Levanta a mão quem se lembra de quando criança ficar de quando professor entrava na sala. Como dizia Osmar Santos: “Por que parou? Parou por quê?”.

[00:19:01]

Qual foi a gênia da educação que chegou à conclusão que não está mais na moda levantar? Porque é um sinal de respeito!

[00:19:09]

Você sabe por que dou aula hoje? É lógico que é o Dia do Professor, mas eu só dou aula de avental. Por quê?

[00:19:16]

Você já viu padre rezar missa de bermuda? Não, né? Tem que haver aquele mínimo de cerimonial na aula, tem que dizer quem que é o professor, quem é que é o aluno! Tem que resgatar esse tipo de coisa. Eu sempre digo, exagerando um pouco obviamente, que a escola vai só voltar a ser uma boa escola quando o professor puder voltar a chamar o aluno de idiota sem ser processado.

[00:19:44]

Tem gente que fala: “Mas, pode? Você vai xingar?”. Não é xingar!

[00:19:50]

Gente, existe uma velha piada que é sem graça, hein, não vamos rir depois, mas é uma piada para mim muito didática, diz que a mocinha fez 18 anos, tirou carta de motorista – frequinha – acabou de carrinho do papai. Ela sai toda toda, se achando o máximo na estrada, está escurecendo. De trás do morro tem uma curva, sai um carro que acende a luz baixa. Ela acende a luz baixa para mostrar que ela também tem. Aí o carro acende a luz alta, ela acende a luz alta. O carro passa por ela e grita “Vaca!”, ela grita “Corno!”, faz a curva e bate na vaca que estava no meio da estrada, ou seja, às vezes você pensa que a pessoa está te xingando e a pessoa está tentando… ajudar!

(risos)

[00:20:27]


[1] Dimensão tempo: usar opreferencialmente algarismos para anos, meses e dias.

[2] Ao final da frase, prferencialmente usar “, né?”. Em geral recomenda-se cortar os excessos.

[3] Quantidade: usar preferencialmente algarismos onde couberem. Não se usa “.” para separar milhar caso se trate de ano.

[4] Regra 1, regra 2, regra 3…  . item  1, item  2, item  3…  . estamos usando algarismos.

Nãoome de obras artísticas como Monalisa, nome de livros, filmes e grupos teatrais ou musicais estamos grafando em itálico.

[6] Temos apresentado ênfases tomais em negrito.

[7] {entre aspas} usamos uma palavra entre chaves – {palavra} – para representar uma palavra que não temos certeza se ouvimos direito, ou incerteza na escrita. Neste caso juntou uma palavra estrangeira, nome de revista, então utilizamos itálico entre as chaves, o que tem o duplo significado e quer dizer: “leitor, eu não tenho certeza do que escrevi, mas é alguma palavra em língua estrangeira”. E coincidiu de ser o nome de uma revista.

[8] As reticências “… “ aqui representam uma autointerrupção e mudança de discurso. Neste caso em que há quebra do discurso usamos letra maiúscula para iniciar a nova ideia, trata-se de uma nova frase. Aqui reticências equivale a um ponto final.

[9] A sinalização “[♪ palavras ♫] é usada para canções, letras de música, repentes, frases de rap, algo que mereça ser destacado que está mais enriquecida no texto pelo uso dessa sinalização. Aqui achei que um comentário do transcritor, que é sempre apresentado entre parênteses, representaria melhor esse som feito pela boca, mas que não se usam as cordas vocais. É o caso de assobio ou quando o falante cantarola. Caso não esteja entre parênteses são as palavras proferidas e cantadas. Exemplo: [♪ Atirei o pau no gato estou ♫]. Repare que o conjunto todo adquiriu o valor de uma palavra, portanto usei “,” após esse registro sonoro em texto.

[10] Todas as palavras entre parênteses são comentários do transcritor. É o registro de um evento que é difícil ser escrito textualmente. Esse “(acha graça)” é um elemento comum, não há vocalização mas um som característico produzido pela boca sem o uso de cordas vocais. Representa algo como impaciência ou ainda  um riso não vocalizado. Uso comumente “(riso)” representando haha, “(risos)” representando hahaha e “(risos)” representando hahahaha. Uma gostosa gargalhada é representado por “(gargalhadas)”.

[11] Nem sempre uma ênfase de uma ideia pode vir com ênfase tonal, um tom de voz mais alto. Pode vir também em forma de fala pausada ou até mesmo através de silabação. Nesses casos, indistintamente usamos negrito. Não apresentamos em forma de silabação com uso de hífen pois muitas transcrições são submetidos a softwares de contagem de palavras para descoberta de palavras-chaves relevantes com análise do corpus do texto. A palavra negritada não interfere na análise do computador mas ajuda  o leitor a entender melhor a forma como a mensagem foi passada pelo falante.

[12] Aqui usei reticências representando uma interrupção de fala. Mas ao mesmo tempo foi possível abrir uma nova linha. Caso a transcrição não exigisse essas aberturas de linhas, conforme negociado pelo cliente, reticências teria a função de pontofinal, portanto a próxima frase se iniciaria com letra maiúscula.

[13] Dimensão dia, mês e ano: apresento preferencialmente com algarismos, isso ajuda  a pessoa a se situar na leitura.

[14] Frase inteira em inglês, grafo em itálico. Caso não tivesse certeza da grafia e não conseguisse pesquisar por falta de conhecimento da língua, poderia usar {hipótese de escuta silábica}.

[15] Sinalizei silêncio pois houve uma pausa dramática. Marcação opcional para intervalos abaixo de 2 segundos, para acima de 2 segundos, recomenda-se sinalizar.

[16] Usei reticências aqui pois a ideia continuou, mas houve algo como hesitação e retomada da ideia. Portanto na continuação da reticências não usei letra maiúscula.

[17] Não é raro eu corrigir a grafia do ano. Algumas pessoas costumam colocar ponto representando o milhar. Em ano não se coloca  ponto, o correto é 2000, 2020, 1999 etc.

[18] Palavra estrangeira, dita com sotaque estrangeiro.

[19] As regras de transcrição expostas em NURCs consultadas permitem o uso de sinais gramaticais combinados. Neste caso representa uma pausa dramática geradora de pergunta.

[20] Nome de novelas, seriados de TV, programas de auditório, nomes de jornais e revistas, grafamos em itálico.

[21] Optei por usar (gestual), mesmo não assistindo ao vídeo dá para saber que se refere a gesto. Muitas vezes você não terá o vídeo para descrever o gesto. Assim “(gestual)” é neutro o suficiente para o leitor entender e ainda  me dispensou de procurar esse trecho no vídeo.

Segundo bloco

216601 (92,2 min) Tipo 3 – Q4 – 60 – 3 Aprendendo Inteligência – Prof Pierluigi Piazzi (Sinpro-SP 2008)

[00:20:27]

Por isso que eu falo para os meus alunos: “Se eu te chamo de idiota, isso não é insulto, é um diagnóstico!”.

(gargalhadas)

[00:20:35]

“É que é o primeiro passo para a cura”.

[00:20:42]

Gente, antigamente o pai chegava para a professora primária, falava: “Professora, cá está o meu filho, eu estou te entregando o meu filho. Cê faz esse menino aprender a ler, escrever e fazer conta. E se ele aprontar, cê fala comigo que eu enquadro o moleque, tá?”, não era isso?

[00:20:59]

Hoje já vi em porta de escola, eu vi isso, a mãe chegar para a filha falar: “Agora cê vai assistir a aula dessa bruxa. E se ela te enxer o saco mais uma vez, cê fala comigo, que eu vou enquadrar, ela vai perder o emprego!”, na porta da escola.

[00:21:15]

Então essa inversão de valores… gente! Eu estou cheio de aluno que vira para mim e fala: “Ô Pier, você só da aula, ou também trabalha?”. Entende? Como se ser professor deixou de ser profissão. E eu vou dizer mais, (suspiro) agora vamos falar em termos trabalhistas?

[00:21:34]

Professor ganha bem, ou ganha mal? Poderia ganhar melhor sem que isso implicasse em nenhuma despesa adicional por parte do patrao? Sim! Se voltasse a fazer o que existia quando eu era criança. Livro, o papel que você comprou para imprimir esse livro, você pagou imposto? Não. Por quê? Se você importa um livro dos Estados Unidos você paga imposto? Não! Por quê?

[00:22:07]

Porque pela Constituição brasileira livro é imune de impostos. E por que professor não? Porque desde quando na minha época professor não pagava imposto de renda! Vocês sabiam disso? Não tinha desconto em folha. O nosso pior patrao não é o dono do colégio, o nosso pior patrao é o Estado!

[00:22:30]

O que nós pagamos de impostos é um absurdo! Se a gente voltasse a ser, se livro é imune, por que é que professor não? Por maior razão professor deveria ser imune. Próxima campanha do sindicato.

[00:22:43]

Não, eu estou falando sério. E outra coisa, restaurar a fé pública. Professor tem que ter fé pública. Porque se um guarda e eu digo: “Eu não estava fazendo” e ele diz: “Você estava fazendo”, a palavra dele vale mais do que a minha porque ele tem fé pública, coisa que o marronzinho da CET. Vocês sabiam disso? Ele não tem autoridade desse tipo de multa porque ele não tem fé pública. E professor voltar a ter fé pública, a palavra do professor tem que voltar a ser uma coisa importante!

[00:23:17]

Segundo problema, que é mais grave de todos, aluno brasileiro – e quando eu falo aluno estou incluindo vocês quando eu estava fazendo a faculdade, viu? Aluno brasileiro não estuda para aprender, estuda para tirar nota.

[00:23:33]

E se estuda para tirar nota, tira nota, passa de ano e consegue um diploma; só não consegue aprender. Vocês vão dizer: “Mas, professor, se o aluno tira uma boa nota, não quer dizer que aprendeu?”.

[00:23:49]

Eu conheço duas técnicas para tirar uma boa nota sem aprender, uma é ilegal e outra é legal. Qual que é a ilegal? Cola.

[00:23:58]

Você sabia que numa faculdade, se pegar um aluno de mais de 18 anos colando, teoricamente o professor teria que ir na delegacia fazer um BO?

[00:24:08]

Então vou dar um conselho para todos vocês: pegou um aluno teu colando, tirar a prova e dar zero não é castigo, é obrigar o ladrão a devolver o fruto do roubo. Pegou aluno teu colando, chama a família: “Teu filho tentou roubar”, segunda vez suspende, terceira vez expulsa, é maçã podre, porque se deixar alguém nessa idade colar, quando crescer vira o quê? Senador!

[00:24:28]

(gargalhadas)

[00:24:31]

Está certo? Nós temos que cortar o mal pela raiz. Olha, o ACM lá, o Antonio Carlos Magalhães, foi na hora que foi ver o resultado, ele não estava colando? (suspiro)

[00:24:44]

Qual é a segunda técnica para tirar uma boa nota sem aprender? E sem colar? A escola marca uma prova na quinta-feira pela manhã. Quando é que um aluno normal começa a estudar? Não, na quarta-feira não é normal, é alguém que tem visão a longo prazo, é um aluno que planeja o futuro é o chamado aluno luz de mirante! Quarta-feira ele fala: “Mãe, me acorda meia hora mais cedo?”. Ou na própria quinta-feira: “Professora, posso estudar na sua aula que eu tenho prova na aula seguinte?”. Vocês já ouviram frases assim?

[00:25:19]

Alguém poderia me dizer por que é que alunos de fundamental do médio, da graduação e da pós-graduação e do doutorado, por que é que todo mundo estuda o mair em cima da hroa possível? Para não dar tempo de esquecer. E se tiver tudo frequinho tira nota? E depois? Dã! (risos) Que grande e gigantesca palhaçada é o nossos site educacional!

[00:25:43]

Eu sempre falo que o nosso sistema educacional tem duas desgraças: uma é calendario de prova, porque aí o cara estuda para a prova. Não! E a cultura! Eu já vi mãe falando: “Ó, filho, desliga esse videogame, menino, vai estudar! Cê tem prova amanhã!”. Essa mãe acha que está ajudando o filho, essa mãe está cometendo um crime hediondo, essa mãe devia ser presa sem direito a fiança. Essa desgraçada está arruinando a vida do filho! Porque está iduzindo o filho a estudar porque tem prova.

[00:26:14]

E mesmo a gente comete Sé erro! “Ó, presta atenção, isso vai cair na prova.”

[00:26:18]

Vocês percebem a distorção? A enorme disorção?

[00:26:27]

Terceiro problema: somos um país de analfabtos funcionais.

[00:26:33]

Somos um país de analfabetos funcionais. Ou seja, nós somos um país em que teoricamente o índice de analfabetismo é baixo, mas na hora que você vai checar, você descobre que nós temos um monte de pessoas que sabem transformar letras em sons, mas não em ideias.

[00:26:52]

Gente, vou dar um exemplo de analfabetismo funcinal, aproveitando que você está aí. “Quando eu casei com a sua mãe”… é o meu filho. (acha graça)

[00:27:02]

Quando eu casei com a mãe dele, ela chegou para mim e falou: “Sabe? Meu avô é velhinho! Tá quase no fim da vida, coitado. Eu queria dar um último prazer pra ele”, falei: “Qual?”. “Ele é um daqueles judeus que fugiram da Europa nas perseuições e o sonho dele é ver a neta dele casar na sinagoga. Você casaria na sinagoga?”, falei: “Claro que sim! O patrao é o mesmo, só muda aqui embaixo quem cobra os 10% de comissão. Vamos lá”.

[00:27:25]

Aí eu cheguei para o rabino: “Sobel, cê me casa na sinagoga?”, ele falou: “Pierluigi”… sobel é aquele das gravatas, aquele que enlouqueceu. “Pierluigi, eu vou te casar no sinagoga se você souber ler um reza em hebraico”, falei: “Tá bom, negócio fechado”. E lá peguei {“Allef beit immet tallet…”} e fui embora.

[00:27:46]

Na hora da cerimônia: “E agora o nós vai ler um reza muito importante”, peguei: {“ברוך אתה אדוני אלוהינו מלך העולם שלא עשני אישה”}, “Muito bem, Pierluigi.”, aí falei: “Ainda bem que ele não perguntou o que é que eu li”, porque o que é que eu sou em hebraico? Analfabeto funcional, eu sei transformar letras em sons, mas não em ideias.

[00:28:09]

Tanto é que quando eu fui contar essa história… eu decorei a frase de tão traumatizado que eu fiquei, né? (acha graça) Fui contar essa história para o Assaf lá do Anglo, ele foi criado em Israel, ele fala hebraico fluentemente. Conte para ele, ele falou: “Ô, Pierluigi! Cê tem uma pronúncia boa, entendi tudo”, falei (acha graça): “Ô, que bom! Cê entendeu tudo, eu não entendi nada. Aliás, me tira uma curiosidade: o que é que eu li?”, “Ah, é uma reza importante que diz abeçoado seja Deus, Nosso Senhor, que não me fez nascer mulher”.

(gargalhadas)

[00:28:37]

(risos) Bom, mas para mim está sendo útil. É que quando eu dou aula, chega uma aluna e fala: “Professor, posso sair? Tô com cólica!”, falei: “Pois não, filha”, e lá dentro eu penso: “Baruch ata adonai…”

(gargalhadas)

[00:28:52]

Mas de qualquer forma nós temos um problema terrível. “Professor, quais são as causas disso tudo? O que é que está acontecendo? Por que é que nós viramos, por exemplo, um país de mal educados?”.

[00:29:09]

É o péssimo hábito que existe nos lares brasileiros, e você tem que falar com os pais dos seus alunos e com vocês mesmos para acabar com essa maldita mania de deixar a televisão ligada o tempo todo. Porque a televisão ligada o tempo todo me permite o quê? Nesse momento está o Jô Soares tentando falar comigo, eu dou as costas para ele e começo a conversar com você sobre um assunto completamente diferente. Nós dois estariamos sendo extremamente mal educados se ele estivesse aqui em carne e osso. Mas como ele está numa TV virou o quê? Um zum-zum-zum.

[00:29:41]

O Brasil se acostumou a ter um zum-zum-zum no fundo, é o zum-zum-zum o tempo todo, onde quer que você vá tem um televisor ligado: zum-zum-zum, zum-zum-zum, zum-zum-zum…

[00:29:50]

Outro dia eu fui fazer uma palestra na FIAP, auditório no 8º andar, peguei o elevador. O que é que tinha dentro do elevador? Televisor! Com propaganda da casas Bahia! É o zum-zum-zum o tempo todo.

[00:30:03]

Quando a rede Globo não transmitia 24 horas por dia aquele chiado da madrugada – sabe aquele chuvisto, “tchh”? – tinha 10 pontos no IBOPE!

(risos)

[00:30:14]

A televisão ligada o tempo todo. Você deixa na sua casa, na cozinha, o liquidificador ligado o tempo todo? “Não, de repente dá vontade de fazer uma vitamina, já tá ligado!”. Quer dizer, então a televisão, o estado normal de um televisor é desligado.

(risos)

[00:30:29]

Vocês estão rindo? Eu entrei na internet www.seekgeek.com, oito dólares e noventa e nove cents. (acha graça) Você está rindo, né, sofia? (risos) É o controle remoto ninja! Desliga qualquer televisor do mundo. Esse daqui do restaurante aqui do lado, só consegui emudecer ele, mas se eu tivesse ficado mais um pouco tinha conseguido desligar.

[00:30:58]

Eu estou no hotel tomando hotel no meu café da manhã, alguém tentando me vender o carnê do bau da felicidade? Ah, não! “Iáá!”

(gargalhadas)

[00:31:08]

Não, e o gozado é a reação dos outros hóspedes. Eles não percebem que o televisor foi desligado! Mas percebe que sumiu o quê? O zum-zum-zum, aquele zum-zum-zum de fundo. Outro dia, eu moro em uma chácara, eu pedi para o meu caseiro no Carrefour porque era muita coisa. No meio das compras bateu fome, eu fui comer um sanduiche com ele. Enquanto nós dois sentamos com o nosso sanduíche e refrigerante, na parede obviamente tinha a Globo, né? Eu peguei o Ninja e “Iáa!”.

(risos)

[00:31:41]

Aí o Marcelo começou a rir muito. Falei: “Marcelo, cê nunca viu isso?”, falou: “Isso daqui eu já vi. Eu nunca vi isso”. E eu vi do lado, tinha um cara com um sanduíche já mordido, olhando para a TV apagad assim. (parou de boca aberta)

(gargalhadas)

[00:31:54]

Gente, imovel! Aí eu peguei o Ninja, liguei a TV de novo, ele voltou a comer? Gente, o cara deu um pause na vida!

(risos)

[00:32:02]

Quer dizer, tirou o zum-zum-zum, parou de viver; voltou o zum-zum-zum, voltou a viver.

[00:32:06]

Então, posso pedir um favor? Hoje, quando vocês chegarem em casa, comece por vocês, desligue a TV. Está ligada? Desligue. “Ah, eu não posso mais assistir TV?”, claro, mas liga na hora que você quer e depois desliga quando termina o teu programa. “Ah, hoje é o último capítulo de Dupla Face”, ou coisas desse tipo. Tá bom. Ó, aqui, ó. Não tinha uma novela assim, é? Duas Caras. Isso.

(risos)

[00:32:26]

Sim, é a mesma… o conceito é o mesmo, vai!

(risos)

[00:32:27]

Agora o que é que é a Predileta? A Preferida?

Voz feminina (não identificada): A Favorita.

[00:32:31]

A Favorita. Hoje é o último capítulo, que horas que começa? Às 21:00. Que horas termina? Às 22:00. Ligue a TV às 21:00 e desligue às 22:00. Porque aí você assiste o que você quer, senão você assiste o que eles querem.

[00:32:43]

Televisor está transformando os brasileiros em mal educados, todos nós estamos ficando mal educados. Esse é um problema que dá para resolver, e dá para resolver restaurando o prestígio do professor, principalmente isso.

[00:32:59]

Qual era o segundo problema?

[00:33:03]

Estudar para a prova. Por que é que as pessoas estudam para a prova? Porque as pessoas tem dentro do crânio uma coisa maravilha chamada cérebro, o melhor computador do mundo, só que veio sem manual de instruções e as pessoas não sabem usar.

[00:33:18]

Para não ficar agora aqui com… não vou querer dar uma aula de neuropedagogia para vocês, então para simplificar eu vou fazer uma metafora: aprender é escrever no cérebro. Tudo bem?

[00:33:32]

Aprender é escrever no cérebro.

[00:33:34]

Só que em cada região você escreve de uma maneira diferente. Naquela região azul, o cerebelo, aquele que fica na base do crânio, é como se você pegasse um formação e um martelo

 e fosse cavando letra após letra na pedra. Você tem uma laje de pedra e fica com formação e martelo

 batendo e cavando letra após letra. Demora para escrever, não demora? Agora, qual é a vantagem? Depois que você escreveu, você não apaga nunca mais!

[00:33:34]

Está claro isso? Levanta a mão quem levou um tombo para aprender a andar de bicicleta. Certo. Quem não levantou a mão não sabe andar de bicicleta. Por que é que todos nós levamos algum tombo? Porque foi muito difícil escrever no cerebelo a habilidade de andar de bicicleta.

[00:34:29]

Agora, você vai ficar 30 anos sem subir numa bicicleta. A hora que você subir, o que é que vai acontecer? Você sai andando, você sai pedalando. Foi difícil você escrever, mas você não apaga nunca mais.

[00:34:45]

Então você pode dizer: “Eu (bate no peito) (tap) (tap) (tap) aprendi a andar de bicicleta”.

[00:34:49]

Um dia eu estava atravessando a Avenida Paulista de carro com o teu irmão, você é o 4.2, 05.2. Tava com o teu irmão, é, era ele, que chegou e falou: “Ô pai, o que é que tá escrito no alto daquela igreja?”, falei: “Onde?”. “O que é que é aquele {Deo inonorem sancti Aluizii?} O que é que é isso, pai?”, falei: “É latim, filho”. “E ocê sabe o que tá escrito?”, falei: “xô ver. Deo, terminação O é dativo, objeto indireto. inunorem, acusativo. Ah, sim. in, régio acusativo. Sancti Aloizzi é genitivo. Aí te hescrito, filho, que essa igreja foi construída pra Deus em honra de São Luís”, aí ele me olhou de uma forma muito estranha. Falou: “Pai, cê não é professor de física?”, falei sou. “E você sabe latim?”, aí eu expliquei para ele: “Filho, quando eu tinha a tua idade, 14 anos, o latim era uma das matérias da escola que infelizmente algum imbecil de Brasília resolveu tirar. Certo? E portanto, quando eu tinha a tua idade eu aprendi latim”. Ele virou para mim e falou: “Nossa! Pai, faz tanto tempo!”.

(risos)

[00:36:06]

É que para os nossos filhos nós não nascemos, nós fomos fundados, né?

(gargalhadas)

[00:36:09]

Ele disse: “Nossa, pai, mas faz tanto tempo!”. Eu falei: “Filho, eu não falei que me ensinaram latim, não talei que eu tive aula de latim. Eu falei que eu aprendi latim. E quando cê aprende, se aprende para sempre“.

[00:36:20]

E que idioma eu estou falando com vocês? Português. Eu aprendi a falar português com 12 anos. Eu tenho 65 e estou falando português até hoje. Moral da história: eu aprendi a falar português. Aprender é aprender para sempre!

[00:36:37]

Então, na realidade, escrever no cerebelo é onde você escreve a psicomotricidade, você aprende para sempre.

[00:36:42]

Deixa eu fazer uma experiência com vocês. Só um instantinho. É que eu vou precisar das duas mãos.

(Experimento da dança da orelha e do nariz de mãos trocadas) [00:36:52] a [00:38:01]

Moral da história: vocês notaram uma coisa? Vocês entenderam o que era para fazer. Mas ainda não aprenderam. E é bom professor entender muito bem que entender é uma parte do processo, aprender é outra, não tem… entende? Não é uma já implica a outra.

[00:38:20]

Agora, se hoje à tarde vocês treinarem, amanhã vocês não vão poder fazer isso? Semana que vem você não vai poder chegar na tua sala de aula, mostrar isso para os seus alunos, falando: “Tá vendo? Qualquer idiota consegue fazer isso. Você não cosnegue?”. Quer dizer, na realidade você pode aprender. Se hoje à tarde você fica na frente do espelho e treinar… – tranca a porta do banheiro para que ninguém te surpreenda fazendo isso (acha graça) – uma coisa foi entender, outra coisa foi aprender. Porque escrever no cerebelo não é uma coisa simples.

[00:38:52]

Agora, como é que eu escrevo no sistema límbico que é essa região amarela aí em cima? Aí é exatamente o contrário, em vez de ser extremamente difícil, é como se eu pegasse um bastao e fosse escrevendo na areia.

[00:39:02]

Sabe Padre Anchieta? Escrevendo poesias na areia, só que está ventando. Então eu escrevo e apago, escrevo e apago, escrevo e apago, escrevo e apago.

[00:39:14]

Então na realidade o sistema límbico é o rascunho do cérebro.

[00:39:18]

É um lugar onde é muito fácil escrever, é muito fácil apagar. Você apaga coisas que você colocou segundos antes.

[00:39:26]

Você está sentada na sala, levanta, vai até a cozinha, para no meio da cozinha, para no meio da cozinha e fica uma tonta se perguntando: “O que é que eu vim fazer aqui, meu Deus do céu?”. Já aconteceu com algum de vocês? O que é que você faz para lembrar? Não adiana buscar inspiração na geladeira, você é obrigado a voltar. E nesse momento você diz: “Eu tenho serios problemas mentais”.

(risos)

[00:39:44]

Por favor, tomem consciência de que dentro da cabeça de cada um de nós, inclusive dos nossos alunos, mora um idiota. Essa é a parte idiota do cérebro.

[00:39:56]

Não! Realmente, é a primeira que acorda pela manhã. Vocês já notaram quanta besteira você faz de manhã cedo?

[00:40:03]

Um dia, num dia muito frio, eu vi esse cara pular de um beliche e calçar duas meias no mesmo pé!

(risos)

Terceiro bloco

[00:40:15]

Ele calçou uma depois ficou pulando. Depois ficou pulando, quando achou a outra em vez de calçar no pé descalço, calçou no pé que já tinha a meia. Qual é a desculpa? “Ah, eu tô sonado!”.

[00:40:21]

Não é que está sonado, é a parte idiota do cérebro que funciona assim.

[00:40:25]

Gente, eu já vi gente fazer… eu já vi um colega meu – Renato – atender o telefone no controle remoto da TV. Eu, de manhã cedo – olha quem está falando – eu já escovei os dentes com Hipoglós.

(risos)

[00:40:39]

Alguém que chega a esse extremo tem um problema, certo?

[00:40:45]

Agora, você sabe qual é a boa notícia? É que lá no córtex, naquela outra região dentro de cada um de nós mora um genio. Mas mora um genio mesmo!

[00:41:00]

Só para vocês terem uma ideia, quando eu dava aula de Inteligência Artificial na Engenharia da Computação, nós fizemos um cálculo. Quantos computadores de última geração… esse é um notebook de ultilíssima geração. Quantos eu deveria ligar em rede para simular um córtex humano? O cálculo mais otimista deu 15 mil.

[00:41:34]

15 mil.

[00:41:35]

Ou seja, dentro de cada crânio de cada um de vocês tem uma rede equivalente a 15 mil computadores. Vocês têm ideia do que quer dizer isso? Quer dizer que vocês e todos os seus alunos no fundo, no fundo, são gênios! Alguns bem no fundo, né? Mas todo mundo tem esse potencial, essa genialidade potencial. Ou seja, todo mundo pode subir a escada da inteligência.

[00:42:01]

Em primeiro lugar eu gostaria de dar parabéns para o Engenheiro, que colocar 15 mil computadores num litro e meio, isso sim, é nanotecnologia. E em segundo lugar, lembre-se de uma coisa: se alguém estudar que nem um louco 10 horas por dia, todos os dias da semana, sábado e domingo inclusive, todas as semanas do mês, todos os meses do ano e todos os anos de sua vida, essa pessoa esgota a capacidade de processamento de seu cérebro em aproximadamente 4 séculos!

[00:42:31]

4 séculos.

[00:42:31]

Está certo que a expectativa de vida aumentou, mas também não vamos exagerar. Quanto tempo você vai viver? Se você for uma Dercy Gonçalves?

(risos)

[00:42:42]

Um? O Oscar Nienmayer. Eu pretendo morrer aos 96 anos baleado por um marido ciumento, esse é o meu projeto de vida.

(risos)

[00:42:53]

Agora, 4 séculos significa o quê? Que todos nós vamos morrer com pelo menos ¾ da inteligência que Ele nos deu ainda ser desenvolvido.

[00:43:04]

Sabe o que quer dizer isso? Aquela escada que eu falei no começo é uma escada que tem degraus para 4 séculos e nós só temos folego para 1 século. Portanto, a escada é como se fosse infinita, não tem fim. Porém, insisto, os degraus são baixinhos.

[00:43:19]

“Professor, escrever no Idiota é fácil?”. É, mas apagar também é fácil. “Escrever no Gênio é difícil?”, é. Mas apagar também é difícil.

[00:43:29]

É a mesma coisa que o cerebelo, escrever no genio você não esquece nunca mais. Agora vem a pergunta que vale 1 milhão e meio de dólares.

[00:43:39]

Por que um milhão e meio de dólares? Porque se eu for na porta da Asus e falar: “Eu quero comprar 15 mil desses por atacado”, eles vão me vender a 100 dólares cada um. 100 dólares vezes 15 mil dá um milhão e meio dólares. Dentro da cabeça de cada um de nós tem um patrimônio de um milhão e meio de dólares.

[00:44:00]

Quando você trabalha, o salário que você ganha não é salario, é leasing. É o aluguel de um equipamento que custa um milhão e meio de dólares. E você vai dizer: “Por quê que tem salários tão diferentes?”, porque quem está alugando depende de que degrau ele está, se for alguém que se preocupa em subir a escada, o leasing vai ser cada vez mais alto.

[00:44:24]

Agora vem a eprg de um milhão e meio de dólares. Prontos?

[00:44:28]

Na hora que seus alunos do fundamental, do médio, da graduação, da pós-graduação… estudam mais em cima da hora possível para fazer uma prova, eles estão colocando as informações no Idiota ou no Gênio? No Idiota.

[00:44:46]

Esse é o câncer da escola brasileira. Você vê aluno entrar na sala de aula, o cara entra assim: sem chacoalhar a cabeça, porque se você chamar e falar: “Ô, Zé!”, “Que foi?”, “blublublum!”, pronto, “Agora embaralhou tudo, agora vou ter que estudar de novo!”. Ou aquela menina que entra assim: “Num fala comigo! Num fala comigo! Num fala comigo!”.

(risos)

[00:45:03]

Ou aquela que chega e fala: “Professora, dá a prova logo, pelo amor de Deus! Antes que eu esqueça”.

[00:45:12]

Posso dizer uma coisa? Vocês entenderam a farsa que é o sistema educacional brasileiro? É uma farsa! Nós estamos brincando! É brincadeira, isso! Tem que mudar as regras do jogo.

[00:45:23]

Vocês vão dizer: “Ah, professor, então, me explica aí, como é que a gente escreve no Gênio?”, aí é que está. No Gênio você não escreve, você copia. “Como assim?”. Posso voltar para a minha analogia de escrever na areia?

[00:45:35]

No cerebelo é escrever na pedra, no sistema límbico é escrever na areia. Agora, atenção: eu estou escrevendo na areia. Quer um conselho? Como dizem em Piracicaba, “carca fundo, mas carca bem!”, porque depois que você cansar de escrever você vai dormir. Você some de cena, e entra em cena uma rotina automática que eu chamo “encarregado da manutenção” que chega nessa areia que está afundada, joga cimento em cima. Obviamente onde tem uma valeta bem fundo o cimento é mole e penetra. E na hora que essa placa de cimento endurece, você levanta essa placa de concreto, tudo o que estava em baixo relevo vai estar agora em alto relevo. Essa placa de concreto é levada para um gigantesco armazém chamado córtex e armazenada para sempre porque o concreto e a pedra onde você escreveu no cerebelo são igualmente duros, só que no cerebelo ainda dá para escrever acordado. No cóncreto você teve que dormir e deixar que essa rotina entrasse no lugar.

[00:46:53]

Moral da história, é como no computador, quando você digita uma tecla qualquer o código dessa tecla não vai para o HD, vai para a memória RAM. O que é que é a memória RAM? É o rascunho, é uma memória pequena e provisoria, é a areia do computador.

[00:47:10]

“Ah, eu quero gravar pra sempre! Eu quero salvar!”. Então, você copia para o HD. Ninguém escreve diretamente no HD. Primeiro você escreve no rascunho e depois é que você passa para o HD.

[00:47:25]

Então isso significa que até certo ponto o cérebro humano é muito parecido com um computador, o sistema límbico faria o papel de RAM e o córtex faria o papel de HD.

[00:47:40]

No cerebelo você escreve na pedra, no rascunho você escreve na areia; e no córtex você armazena as placas concreto que foram moldadas noite após noite.

[00:47:59]

Isso significa o quê? Que escrever no teu rascunho é a coisa mais fácil do mundo! Você escreve facilmente e algum tempo depois, lixo!

[00:48:12]

Escrever é fácil, mas apagar é tão fácil quanto!

[00:48:18]

Vocês vão dizer “Professor, quanto tempo depois?”, sei lá, minutos, até horas. Mas nunca dias. O que está escrito na areia pode durar minutos, pode durar horas, mas nunca dias. E esse que é o grande equívoco, porque quando dura horas, o cara está com a informação aí, olha lá está disponível, olha lá está disponível, qual é a sensação que o cara tem? Que esteja disponível para sempre. E no dia seguinte é o famoso “como era mesmo?”.

[00:48:43]

“Como é que se escreve no córtex?”. (…) No córtex você escreve pegando uma rede neural, desligando alguns neuronios e ligando outros, você muda o circuito do cérebro. E mudar o circuito do cérebro com o cérebro acordado é a mesma coisa que trocar o pneu do carro com o carro em movimento, ninguém consegue. Na Fómula 1 tentam às vezes, mas atropelam o mecânico. Se você quiser trocar o pneu do carro, quiser fazer a manutenção, primeiro você para o carro e depois você troca o pneu.

[00:49:24]

Moral da história: durante o dia todas as informações que entram no teu cérebro entram no rascunho, na areia. Só que como o rascunho é pequeno, quando está entupido, a reação é sono.

[00:49:37]

Quando chega à noite, aquele famoso (boceja) não é corpo cansado, corpo não sente sono. Aquele (boceja) é cérebro entupido, é o cérebro falando: “Pelo amor de Deus! Desliga esse troço que eu preciso fazer manutenção”. Aí o que é que você faz? Dorme, obviamente.

[00:50:00]

Você vai dormir para que entre o cara da manutenção. Na hora que você dorme a atividade elétrica do teu cérebro cai quase a zero. Nesse momento você tem QI de alcachofra em coma, depois de repente começa uma atividade muito intensa, é o chamado sono REM. O REM de id eye moviments, embaixo da pálpebra você vê os olhos se movendo.

[00:50:21]

Se alguém te acordar nesse momento você fala: “Ô! Bem no meio do meu sonho!” (como que sonolento). Depois volta a parar, depois volta à atividade. Parou! Parou o carro. Atividade: trocou o pneu. E é nesse momento que é feita a manutenção do cérebro.

[00:50:34]

Queridas e queridos, à noite vocês não dormem para descansar, descansar vocês estão descansando agora que estão sentados. À noite você dorme para sonhar e você sonha para fazer a manutenção do cérebro, noite após noite.

[00:50:56]

Nessa manutenção, primeira providência, limpar boa parte do rascunho, para que limpar boa parte do rascunho? Porque no dia seguinte você tem que ter você tem que ter onde escrever. Quem já passou uma noite em claro sabe muito bem que no dia seguinte fica meio abobado, não porque não dormiu, porque não sonhou.

[00:51:12] O sonho que é… e todo mundo sonha, hein? Tem gente não lembra, mas todo mundo sonha.

[00:51:20]

Vocês vão dizer: “Professor, vai tudo pro lixo?”, felizmente não, né? Durante o dia você recebe muita informação, uma pequena fração é gravada no concreto, tira o molde no concreto e leva para o armazém do córtex e transforma em pouco conhecimento.

[00:51:41]

Outro dia eu vi na Veja um artigo dizendo assim: “As crianças de hoje em dia são muito mais inteligente porque recebem muito mais informação, porque tem a internet, tem a televisão, tem…”. Falo: “Calma lá, calma lá!”. Não adianta entupir a pessoa de informação. Neurologicamente a quantidade dessa informação que pode ser transformada em conhecimento é pequena, os degraus são baixinhos. Por isso, por exemplo, o equívoco terrível escola que dá aula para o aluno de manhã e de tarde! É um absurdo, isso! Porque não adianta! Você simplesmente está sobrecarregando alguém com coisas que ele vai acabar jogando no lixo!

[00:52:15]

Você dá uma aula maravilha para o teu aluno, no meio da aula você conta uma piada. Depois de dois meses, o que é que o desgraçado lembra da aula? Da piada!

[00:52:25]

Alguém já se perguntou por quê?

[00:52:30]

O tal encarregado da manutenção não é uma rotina racional, é uma rotina emocional. Por isso que eu sempre digo: “O bom professor tem que ser um sedutor, ou seja, tem que ser alguém que faz o aluno gostar da matéria dele”. Porque aí a parte emocional é muito importante.

[00:52:53]

Agora, por que a piada ficou gravada? Porque o cara está assistindo aula e escrevendo de leve! Ainda por cima, se for alguém que asssiste Malhação se sente no direito de conversar com o vizinho.

[00:53:01]

Aliás, outra coisa, sindicato! Abaixo assinado de todos os professores desse país para a Rede Globo pedindo para Malhação parar de fazer apologia do mau aluno, porque o heroi de Malhação é o mau aluno! O exemplo que eles dão de heroi, de cara bacana, de cara popular é o mau aluno!

[00:53:22]

(suspiro) Essa à outra coisa terrível.

[00:53:27]

Mas, o cara está escrevendo de leve: [♪ (cantarolando) ♫] e de repente alguém conta uma piada, “hahahahaha!”. Afunda! Depois volta a escrever de leve. (suspiro) Quando chega a noite a placa de concreto é ilegível, o cara escreveu de leve! Mas, a única coisa que foi afundada foi a piada.

[00:53:51]

Tanto é que tem muito professor que infelizmente, ao descobrir que a rotina é emocional, e a partir do princípio que nem toda emoção é positiva, usa aquela velha técnica com a qual eu discordo: “Comigo ninguém passa!”, e o cara, coitado, está afundando, que eu sou contrário a esse tipo de coisa, o professor apavorante.

[00:54:15]

Eu parto do princípio que existem duas maneiras de fazer um burro andar com uma cenoura. O ideal é por a cenoura na frente.

(gargalhada)

[00:54:25]

Agora (acha graça) voltando aqui ao nosso problema, (suspiro) como é que eu faço para que hoje à noite até as aulas sejam gravadas na memória permanente?

[00:54:39]

Agora eu vou contar uma historinha para vocês, por favor, não tomem isso como marketing, mas é uma realidade que eu vivi durante quase 40 anos.

[00:54:48]

Há 60 anos atrás 4 engenheiros – 4 engenheiros –

Simão Faiguenboim

, professor de química já falecido; Carlos Marno, professor de desenho já falecido; Abraão Bloch, professor de matemática aposentado pela Universidade de Raifa em Israel, está morando em Israel agora; e Emílio Gabriades, professor de física que está todo dia lá no Anglo, dirigindo o Anglo ainda. Esses 4 gênios – 4 genios – montaram um grupinho de aulas particulares para preparar alunos para entrar na Escola Politécnica.

[00:55:25]

Só que eles davam aulas tão geniais que o grupinho foi crescendo, crescendo, crescendo, virou uma sala e nesse momento se criou uma coisa, sem querer criaram uma coisa chamada cursinho. Não tinham lugar onde ficar, alugaram uma sala no Colégio Anglo Latino, da Aclimação, que não tem nada a ver com o Anglo, mas ficaram conhecidos como “aqueles quatro lá do Anglo”, aí o nome Anglo pegou, e virou, acabou virando a marca.

[00:55:48]

Muito bem, o que é que esses 4 genios descobriram? Que se eles dessem quatro aulas geniais pela manhã, no dia seguinte as aulas já tinham ido parar no lixo. Não adiantava a aula ser a melhor do mundo, não adiantava nada! Por isso que insisto, não adianta melhorar a aula, a mudança da regra do jogo não está aí.

[00:56:11]

Mas eles descobriram na base da tentativa e erro, porque nenhum deles tinham a menor ideia de neurociências, na base da tentativa e erro o que eles descobriram? Que aquelas auss que foram dadas pela manhã, de tarde, no mesmo dia, antes que se passe uma noite de sono, fossem reforçadas por exercícios de aplicação que seria dentro da minha analogia escreveu de leve na aula e depois à tarde, na hora de fazer a tarefa, afunda aquilo que estava de leve para que saia um bom autorelevo no concreto, não só aquela aula ia durar até o dia seguinte, como ia durar para sempre.

[00:56:58]

Levanta a mão aqui quem foi meu aluno. Se lembra qual era o lema do Anglo? “Aula dada, aula estudada”. No mesmo dia, antes que se passe uma noite de sono.

[00:57:14]

“Aula dada, aula estudada”, só que muito tempo depois, para ficar mais óbvio e mais explícito, eu acrescentei a 5ª palavra: “Aula dada, aula estudada hoje“, antes que se passe uma noite de sono!

[00:57:36]

Então, dentro das mudanças da regra do jogo que eu estou pedindo aos professores, você dá aula de matemática numa turma segunda e quinta, segunda e quinta. Na segunda-feira você dá uma aula importantíssima passa uma tarefa que aliás observação: é um crime qualquer professor dar uma aula que não venha seguida de uma tarefa! Porque qualquer aula que não tenha exercícios de aplicação depois é uma aula inútil, é uma aula que vai ser jogada no lixo! Está bem claro isso?

[00:58:08]

Você dá aula segunda e quinta. Na segunda-feira você passa uma tarefa e diz: “Pessoal, a tarefa é tão importante, mas tão importante, mas tão importante, que eu vou cobrar. Coisas terríveis acontecerao com quem não me entregar a tarefa”. Só que outra aula dele é quando? Quando é que o cara faz a tarefa? Ou quinta-feira de manhã, sentado na escada, copiando de um CDF. Não é isso? Quando a tarefa, para ter efeito, devia ter sido feita quando? No mesmo dia!

[00:58:40]

Portanto, o truque qual que é? Regra do jogo básica: faça seus alunos estudarem pouco, mas todo dia! Concença os pais dos seus alunos a fazê-los estudar pouco mas todo dia. Aquela mãe devia falar: “Filho, desliga esse videogame, vai estudar, menino! Cê teve ah hoje!”.

[00:59:03]

Você teve aula hoje, não você tem prova amanhã.

[00:59:07]

“Professor, funciona?”. (risos) Vocês têm boa memória? Qual é a bandeira que estava no topo? Finlândia!

[00:59:22]

Na hora que o Ministério da Educação descobriu que a Finlândia é o melhor sistema educacional do mundo, e aliás, até o que era nosso secretário da educação, aquele lá, o Clodovil da Educação, o Chalita, descobriu que a Finlândia é o melhor sistema educacional do mundo, pegaram as pedagogas do Ministério da Educação, da Secretaria da Educação e mandaram as pedagogas fazerem estágio na Espanha.

(gargalhada)

[00:59:49]

O que é que elas foram fazer na Espanha? “Ah, não! Barcelona é fashion!”, porque agora pedagogia brasileira virou moda! Porque “Não, Montesori não, filha! Montesori saiu da moda! Agora é Piaget”, daqui a pouco Piaget: “Não, Piaget era outra estação, agora é construtivismo. Agora vai para Barcelona, lá que é o top do top!”. ]

Quarto bloco

[01:00:08]

Gente! Vamos parar de tentar descobrir novas maneiras de ensinar e vamos tentar resgatar as velhas e boas maneiras de aprender? Porque o fundamental é o aluno aprender, não é como a gente ensina. “Ah, agora é lousa digital! Lousa eletrônica!”.

[01:00:22]

Para com isso! Para com isso! Vê o teu aluno quando está sozinho, porque o momento em que ele está sozinho que funciona.

[01:00:32]

Eu fui para a Finlândia que eu estou desconfiado da Finlândia faz muito tempo. Eu fui para a Finlândia há tanto tempo, mas há tanto tempo, que eu tive dificuldade para passar na fronteira porque a Rússia ainda era União Soviética, para vocês terem uma ideia de há quanto tempo eu fui lá.

[01:00:47]

Bom, em primeiro lugar, eu aconselho todo mundo a nunca ir para a Finlândia no inverno, que é muito deprimente! O sol nasce às 11:00 da manhã e se põe às 14:00 da tarde. Você imaginou coisa mais deprimente que isso? Às 10:30 é noite, 11:00 nasce um pálido sol que “uh!”, pronto, e às 14:00 já…

(riso)

[01:01:11]

Tanto é que o índice de suicidio deles é enorme, depressão. E eles bebem! Mas bebem! Eu cheguei para um conhecido mês finlandês e falei: “Mas por quê que você bebe tanto?”, ele falou: “Não! Eu jamais bebo de dia!”.

(risos)

Que grande esforço que você faz! (acha graça) A Finlândia é um país extremamente feminista. Todas as mulheres finalandesas trabalham. A multinacional finlandesa mais bem sucedida é a Nokia. Quem que colocou a Nokia como líder mundial em celulares? Seu presidente. Quem é seu presidente? Uma mulher.

[01:01:58]

Todas as mulheres finlandesas trabalham, o parlamento finlandes tem 40% de mulheres. 40% do parlamento são mulheres, todas as finlandesas trabalham. Só que a Finlândia é um país de primeiro mundo, não tem babá, não tem empregada doméstica. Portanto, todas as escolas finaldesas são período integral. Porém só tem aula pela manhã.

[01:02:26]

À tarde eu fui visitar. Cada criança tem uma mesinha com uma gaveta onde guarda seus cadernos, seus livros, e em silêncio e sozinhos eles fazem aula dada, aula estudada hoje. E são o melhor sistema educacional do mundo!

[01:02:54]

Eu sempre digo que a Finlândia somos nós na Rua Tamandaré 596 faz 60 anos. E nunca veio nenhum secretário da educação perguntar para a gente “Por quê que vocês têm tanta eficiência e tanto sucesso?”, por quê? Nós não temos os melhores professores e nem temos o melhor material. Nós temos os melhores alunos na medida em que eles se convenceram que um bom aluno é alguém que estuda pouco, mas todo dia.

[01:03:17]

Gente, essa é a regra do jogo que eu imploro para vocês mudarem. Por quê? É a tal história. O aluno acha que nós não existimos fora da escola e nós não achamos que o aluno existe fora da escola.

[01:03:29]

O aluno é gozadíssimo, eu estou jantando no restaurante, passa um ex-aluno: “Ô, Pier! Você? Comendo?”

(risos)

Essa é a reação. O chato é quando ex-aluno é caixa do motel e a pergunta é a mesma.

(risos)

[01:03:47]

Agora, na realidade, (acha graça) assim como eles acham que a gente não existe fora da escola, a gente acha que eles não existem fora da escola. Portanto, o pedido que eu vou fazer para vocês: por favor, virem 180 graus. Virem 180 graus, parem de se preocupar em melhorar a aula, a aula já está boa, vocês dão boas aulas. Só que vocês dão boas aulas inúteis porque aquela boa aula depois vai parar no lixo.

[01:04:14]

Vira 180 graus, não vai fazer que nem aquela loira da TV que virou 360 graus, virou e falou: “A minha vida mudou, virei 360 graus”, (acha graça) quer dizer, voltou ao mesmo ponto.

[01:04:23]

Quer dizer, moral da história, vira 180 graus e tenta imaginar o teu aluno em casa. Quem é de escola pública sabe que a dificuldade que tem aluno em casa que nem mesa tem. Por isso que inclusive uma das coisass que a escola pública deve fazer é escolas de período integral. Porém – insisto – tendo aula apenas pela manhã.

[01:04:43]

E eu vou dizer mais. Se o teu aluno assiste aula pela manhã, ele tem que estudar à tarde. Se teu aluno assiste aula à tarde, tem que estudar à noite, não é na manhã seguinte. E se alguém aqui assiste aula à noite, eu tenho uma boa notícia e uma má notícia.

[01:05:05]

A má notícia é que você vai ter que dormir meia hora mais tarde. A boa notícia é que como a aula está tão recente, na areia está tudo bem marcadinho ainda, portanto aquela meia hora de estudo é mais do que suficiente.

[01:05:17]

Mas tem que ser antes que se passe uma noite de sono.

[01:05:24]

Com isso, o que é que vai acontecer? Número um, não precisa mais falar para o aluno estudar para a prova, ele sozinho vai descobrir que não vai mais precisar estudar para a prova. Número dois, ele vai perceber que ele nunca mais vai esquecer das coisas. Tem aulas que eu dei para você que você lembra até hoje. E faz pouco tempo, né, faz 30 quilos atrás.

[01:05:44]

Você lembra como eu era magrinho? (acha graça)

[01:05:49]

Terceira surpresa, o QI aumenta. O QI aumenta, ele fica mais inteligente. Agora como é que ele pode descer a escada da inteligência?

[01:06:00]

Bom, em primeiro lugar continuando a fazer o que ele faz até hoje. Lembrar sempre o seguinte, existe o momento da aula e mto tempo depois existe o momento da prova. Aluno inteligente estuda o mais perto possível da aula, aluno desorientado estuda mais perto possível da prova.

[01:06:25]

Agora eu vou fazer mais uma pergunta de 1 milhão de meio de dólares. Prontos? Qual vocês acham que é a porcentagem de alunos brasileiros que se encaixa nesse esquema aqui? 99%. Portanto, vamos fazer uma coisa? Vamos fazer nossos alunos virar 1%? E aí a coisa vai crescendo porque inclusive, lembrem-se de uma coisa: os nossos alunos, conforme você estava comentando, vão entrar no mercado de trabalho que tem cada vez mais gente e cada vez menos necessidade de mão de obra. Quanto bancário foi para o olho da rua por causa da internet e do caixa eletrônico?

[01:07:05]

Outro dia eu fui dar aula magna na Unisa Digital. Para quem que eu dei aula? Para duas câmeras e uma antena parabólica, e a aula foi retransmitida para 52 universidades. Se não fosse a tecnologia, precisaria de 52 Pierluigi para fazer aquilo que 1 Pierluigi só fez. Certo?

[01:07:28]

Agora, insisto mais uma vez, uma aula magna, uma palestra, são todas coisas que a eletrônica pode suprir. Agora, aula de verdade, se não tem o olho no olho, se não tem o professor recebendo o feedback do aluno, não funciona. O professor de verdade é alguém que dá aula olhando para a cara dos alunos e recebendo feedback imediato. Está claro, isso? Isso é fundamental, transformar em 1%.

[01:07:57]

Como é que nós cosneguimos abaixar o nível de inteligência? Você tem uma menina que está querendo ver como termina o último capítulo de Sabrina. Ela está interessadíssima em ver como termina o livro, mas ela mora numa casa onde a TV está ligada. Sem querer, o quê que ela faz? Assiste à TV. E você vai dizer: “E o que ela assiste?”. Pela 17ª vez ela assiste A Volta à Lagoa Azul. Ela já assistiu a esse filme 16 vezes, é o filme que mais passa na TV. Agora, o que é que leva alguém a assistir A Volta à Lagoa Azul? Foi hipnotizada. Porque a televisão hipnotiza!

[01:08:42]

Eu já trabalhei na televisão, eu sei como funciona os bastidores da TV. A função da TV é imbecilizar. Eu trabalhei 4 anos na TV Educativa de Santos, era âncora de um programa e 2 anos na TV Cultura.

[01:08:58]

Alguém se lembra de um programa chama chamado Qual é o Grilo? Lembra? Que foi quando eu fui preso.

[01:09:06]

Me perguntaram a opinião sobre o que é que eu achava, como professor de física, de construir centrais nucleares em Peruíbe. E, como o programa era ao vivo e não tinha censura prévia, eu pude dizer: “Qualquer governo que num país como o Brasil pensa em construir uma central nuclear ou é burro ou é corrupto”.

[01:09:27]

E aliás, quando eu fui preso, teve muita gente que falou: “Olha! Que coisa!”, depois me soltaram logo em seguida. “Olha que coragem que teve aquele professor!”, bateram palma. Quem é que bateu palma? É o mesmo pessoal que agora está em Brasília e estão construindo Angra 3. Foram os mesmos. E os motivos devem ser os mesmos também.

[01:09:46]

Na decada de 1950 foi inventado um eletrodoméstico maravilhoso que prometia divertir. E na Alemanha inventaram um remédio maravilhoso, aquele lá em cima, que prometia fazer as mulheres grávidas não sentirem enjôo. O pessoal comprou a TV e se divertiu, as mulheres grávidas compraram remédio e não sentriam enjôo. Só que esse remédio chama Talidomida, e as crianças começaram a nascer sem braço, sem perna, sem olho, sem… e assim, com grandes problemas. Até hoje existem hospitais no mundo que abrigam vítimas da Talidomida, e a televisão virou a Talidomida do século 21, por quê?

[01:10:30]

Olha, gente, eu posso dizer uma coisa? Eu recebo centenas de e-mails – centenas de e-mails – no meu programa de rádio, que é um programa de informática. 20% dos meus ouvintes tem mais de 60 anos, o que mostra que a escada, todo mundo sobre. 20% dos meus ouvintes são deficientes visuais, são cegos que trabalham no computador e obviamente trabalham pelo som e não pela imagem.

[01:10:56]

20% dos meus ouvintes são pessoas que não têm computador, não querem ter computador, mas querem ouvir dois amigos conversando, que é uma coisa que faz falta hoje em dia, o resto é o resto do público.

[01:11:07]

Quem é que manda as dúvidas mais inteligentes? Os cegos. Você vai dizer: “Mas, por quê? Cegueira aumentao o QI?”, não. Mas não assistir TV aumenta.

[01:11:19]

Não, eu estou falando sério. Estou falando sério!

[01:11:23]

Gente, a TV intencionalmente acaba com o espícula crítico das pessoas, por quê? Por uma razão muito simples! Porque se não abaixar o seu espícula crítico, você não compra!

[01:11:37]

Gente, outro dia eu estava no hotel assistindo a um programa do Canal Discovery, e aí eu vi uma propaganda que eu acho que durou uns 10 minutos. Ó, 10 minutos é grana, hein? Mesmo uma TV por assinatura 10 minutos de programa. Quer dizer que o cara está vendendo produto. O que é que ele estava vendendo? Um sofá de plástico preto inflável.

[01:11:53]

Agora, eu pergunto: em nome de Deus, por quê que alguém vai querer em casa um sofá de plástico preto inflável? Que se você sentar sem camisa e levantar, ele vem junto?

(risos)

[01:12:02]

Tem algum motivo? Tem! Mostra a propaganda que você está… tem um cara sentado ao ar livre no seu sofá de plástico preto inflável, de repente um de cada lado vem dois caminhões assassinos que tentam espremê-lo, “nhec!”, mas ele está sentado em cima do sofá! E o sofá aguenta dois caminhões! É uma coisa que pode acontecer com qualquer um, você está belo e sossegado, vêm os dois caminhões, mas você tem o sofá de plástico preto inflável!

[01:12:29]

Eu posso perguntar por quê que vocês estão rindo? Sabe por que vocês estão rindo? Porque vocês não estão à frente de uma TV, portanto estão com o espícula crítico à toda!

[01:12:40]

Está claro? Estão percebendo o ridículo da situação? Porque se nesse momento tivesse uma TV ligada aqui, passando essa propaganda e passando essa cena, ia ter cara olhando, falando: “Nossa! É resistente mesmo, hein?”. Quer dizer, você perde o espícula crítico.

[01:12:54]

Há mais ou menos 15 anos eu tive uma crise de azia durante a noite, levantei, tomei um antiácido, fui para a sala para não acordar a minha mulher. Liguei a TV.

[01:13:05]

Bom, em primeiro lugar eu descobri uma coisa que me deixou pasmo! Que na TV aberta passa filme semipornô. E com enredo sofisticadíssimo, certo? Do tipo: “Ih! Tá chovendo! Tira o sutiã!”. Quer dizer (acha graça), aquelas coisas assim, absolutamente sem nexo, qualquer coisa é desculpa para ficar pelado.

(risos)

[01:13:25]

Aí eu vi uma propaganda que durou uns 10 minutos. Foram os 10 minutos mais intrigantes da minha vida, que eu não entendi o que estavam me vendendo. Eu vi uma senhora loira, de meia idade, fantasiada de toureiro, com uma roupa de lamê dourado, toda cheia de lantejoula, parecia uma drag queen tentando me vender alguma coisa em espanhol. Eu falo espanhol, também não entendi. No fim, ela subiu num palco, num ambiente que parecia um tempolo azteca, sentou num trono – num trono! – no meio de duas tochas acesas e encerrou a propaganda me olhando nos olhos e falando: “Ligue ! Ligue ! Ligue !”, e eu olhava e fala: “Mas ligue ? Por quê? O que é que ela quer, meu Deus do céu”. Aí eu fui investigar, descobri que ela não é uma senhora. E não, também não é um senhor. É um híbrido, vai! Se você pegar Hebe Camargo e Cauby Peixoto e fizer a síntese, você vai obter uma coisa estranhíssima chamada Walter Mercado, que até há pouco tempo atrás estava falando “Ligue !” no México, agora está falando Ligue !” no teu celular! Prepare-se, Walter Mercado está de volta!

[01:14:23]

Agora, o que é de estranhar, não é ter uma coisa estranha na TV. Coisa estranha tem na TV do mundo inteiro!

[01:14:28]

Na TV americana então, quanto mais estranho e pervertido for o cara, maior audiência que ele tem. Lembra daquela charada? “O que é, o que é? Anda para trás, muda de cor e come criança”? Michal Jackson!

[01:14:41]

Ou seja, você tem as coisas mais esquisitas do mundo na TV do mundo inteiro. Porém, o que é de estranhar é que esse cara fatura bruto 240 milhões de dólares por ano! O que é de estranhar é que quando ele fala “Ligue !”, as pessoas ligam. E a Rede Globo aprendeu a lição, porque na hora que o Pedro Bial fala “Ligue !”, 60 milhões de idiotas ligam para o paredão do Big Brother pagando! Cara que liga para o paredão do Big Brother tem que estar muito lesado mentalmente e tem que estar num degrau bem baixo lá da escada.

[01:15:21]

Agora, “Professor! O que é que mais abaixa o QI?”.

[01:15:30]

Como já disse, computador mal usado. Eles ficam até 03:00 da manhã no MSN conversando com 10 pessoas ao mesmo tempo, portanto fatiando o seu lobo frontal em 10 pontos de atenção ao mesmo tempo, e cuidado! A função do lobo frontal é fazer convergir todas as informações que vêm de todos os nossos módulos cognitivos numa linha única de pensamento. O cara está fatiando aquilo, está abrindo 10 caminhos diferentes. Aí o que acontece? A mãe leva na psicopedagoga, que leva para o neurologista. Esse neurologista tem um protocolo de sintomas, sintomas de verdade de criança que sofreu acidente de parto, que bateu a cabeça quando era neném, ou seja, criança que tem problema neurologico. E com esse conjunto de sintomas, ele diagnostica TDA. Só que essa criança não está com TDA. Se essa criança tirar o computador do quarto e colocar na sala, o TDA desaparece!

[01:16:30]

Então, vocês percebem que o que está acontecendo é que a informática está produzindo… fora o fato de que se tiver algum professor de português aqui, já deve ter ficado horrorizado com a ortografia, né?

[01:16:44]

(suspiro) Por quê que a esmagadora maioria das placas que eu encontro na estrada tem essa indevida crase? Porque as obras são a 500 metros e não são à 500 metros. Por que é que tem isso? Porque de tanto verem escrito errado, as pessoas acham que é errado o que é certo.

[01:17:02]

Já tem no vestibular, esse ano já teve aluno, esse ano que passou, que na redação de vestibular escreveu aqui com K. Isso anula uma redação.

[01:17:09]

Tanto é que eu estava com um aluno meu, falei: “Para de escrever feito um idiota, senão depois você vai fazer a redação escrevendo feito um idiota com esse internetiquês aí”. “Pô! Professor, é pra escrever mais rápido! É pra abreviar!”. Falei: “É pra abreviar? Então por favor, me explica que raio de abreviatura é essa? Que é escrever ‘naum’, que tem 4 letras, no lugar de não que tem 3”. Aí vem outro: “Professor, o quê que é abreviatura?”. Falei: “Um dia você irá preso e a abreviatura é o que cê faz para entrar no carro da polícia, seu desgraçado!”.

(gargalhadas) (risos)

[01:17:45]

Agora, (acha graça) gente, última notícia mais grave: (silêncio) O uso do MSN, um psiquiatra descobriu, produz um rebaixamento no QI que é o dobro do que o jovem fumasse maconha!

(silêncio)

[01:18:12]

Eu já tive aluno que falou: “Professor, vou vender o computador e vender maconha!”.

(gargalhadas)

[01:18:17]

Falei: “Não, seu desgraçado (acha graça), as duas coisas são igualmente ruins!”.

[01:18:23]

Ah, e outra coisa, fone de ouvido, além de enxurdecer e quando usado de um lado só produzir labirintite, o uso constante de fone de ouvido, um pesquisador japonês descobriu que tira do jovem a capacidade de articular a fala de forma coerente. Gente, talidomida!

[01:18:45]

Talidomida eletrônica! O problema não é o uso, o problema é o abuso! Está claro, gente? Então é uma coisa pela qual nós temos que tomar muito cuidado, porque em nome da modernidade, agora é tudo moderninho. Agora o professor tem que ser up to date e tem que saber mexer com tecnologia!

[01:19:05]

Vai nessa! Vai nessa! É claro que tem que estar familiarizado com… isso daqui fui eu que fiz, não pedi para ninguém fazer esse trio.

[01:19:13]

Eu sei programar em HTML, isso daqui são coisas que você tem que saber fazer. Mas tomar muito cuidado.

[01:19:19]

“Professor, tem alguma coisa fascinante que a pessoa não consiga deixar de fazer, que seja assim, absolutamente avassaladora? E que mesmo assim faça subir a escada da inteligência?”.

[01:19:34]

Livros. Não tem mouse, mas só se sai bem na vida quem lê muito. E só lê muito quem lê por prazer. Mais uma regra do jogo que eu quero mudar, professores de literatura, por favor, esqueçam que vocês são professores de literatura e transformem-se em professores de leitura! Porque do jeito que é dado a literatura hoje nas escolas, em vez de criar o prazer pela leitura, se cria o ódio pela leitura.

[01:20:05]

Blofo final

6601 (92,2 min) Tipo 3 – Q4 – 60 – 3 Aprendendo Inteligência – Prof Pierluigi Piazzi (Sinpro-SP 2008)

[01:20:05]

Você pega uma criança de 12 anos, fala: “Eu vou te fazer descobrir o prazer pela leitura. Toma, Iracema!”. Nunca mais ela chega perto de um livro.

(gargalhada)

[01:20:16]

Primeiro, professor de leitura, depois é que vira professor de literatura. Se você começar com Harry Potter, você chega e Machado de Assis. Se você começar com Machado de Assis, você não chega em lugar nenhum!

[01:20:27]

Criar o prazer pela leitura. Como é que se cria o prazer pela leitura? Eu tive essa sorte quando eu tinha 9 anos. Eu morava na Itália, fui buscar o livro semanal da minha mãe na banco de jornal, minha mãe adorava livro de mistério, Agatha Christie, essas coisas. Eu não gostava muito.

[01:20:47]

Aí o jornaleiro chegou para mim e falou: “Pierluigi, saiu uma coleção nova aqui. {Urália}, ficção científica. Não quer levar o número 1? Arthur Clarke.”, ó, Arthur Clarke! Naquela época! Falei: “O que é que é? É mistério também?”, falou: “Sim, mas é outro mistério, é uma espaçonave que vai para Marte e aí os alienígenas”… opa! Opa! Opa! Opa! “Marte?”. Comprei. Levei para casa e perdi o fôlego. Sabe quando você faz “ahh!” (gemidos de prazer quase sexual) “Lá foi muito bom!”, não conseguia parar! Não consegui parar!

[01:21:14]

Gente, eu tenho 65 anos, eu só tive essa sensação de “Ahh! Mas isso é muito bom!”, três vezes na vida: com sexo, ficção científica e leite condensado, foram as três grandes descobertas da…

(gargalhada)

[01:21:25]

Quer dizer, obviamente não na mesma idade, né?

(gargalhada)

[01:21:28]

E não nessa ordem. Moral da história: logo em seguida estava comprando o número 2-3-4-5… a coleção ainda existe, estou esperando chegar pelo correio o número 1.700 e pouco.

[01:21:41]

Ninguém lê milhares e milhares de romances se não for por puro prazer! Mas tem que descobrir o prazer de ler.

[01:21:48]

Aí, um belo dia, chegou um dos meus filhos. Tinha 15 anos. “Ô, pai, tô muito preocupado” eu falei: “Por que, Adriano?”. “Ó, pai, descobri que num é que eu num gosto de ler! Eu odeio ler!”. (gargalhada) Falei: “Que bom, agora quem tá preocupado sou eu”. “Ó, pai, cê lê muito, né?”, falei: “Eu leio muito.”. “Todas as minhas irmãs leem muito”, falei: “Todas as suas irmãs adoram ler”. “Todos os meus irmãos também leem”. “Todos os teus irmãos também leem”. “Ô, pai! Só eu que não leio? Será que eu vou ficar burro?”, falei: “Não, meu filho, cê já é. Porque quem não lê (gargalhada) por definição é uma besta!”.

[01:22:26]

E inclusive ele chegou e falou: “Mas eu já li um livro.”, um indicado pela escola. Depois eu fui ver. Olha, se fosse o primeiro livro da minha vida, eu era semianalfabeto até hoje. Um livro horrível, eu olhava para aquilo e falei: “Meu Deus! Quem que escreveu isso?”, só pode ser uma freira que fuma maconha, não tem outra explicação. Era um livro sobre as crises místico-religiosas de uma galinha!

(gargalhada)

[01:22:52]

Uma galinha! No meio do livro, por uma escada de luz desceu o Arcanjo Galo… falei: “Ah, não! Arcanjo Galo, não! É jogo duro, né?”. Falei: “Adriano, eu num tô pedindo pra você ler um livro, eu tô pedindo pra você descobrir o prazer de ler”, ele falou: “Como?^, e eu falei: “É fácil. Foram esccritos milhões de livros no mundo, um foi escrito pra você.”, “Foi qual?”, eu falei: “Num sei”. “E como é que eu acho?”, falei: “Simples. Comece a ler um livro qualquer. Tá chato? Para e começa outro.”, “Para, pai?”, “Para. Porque a tua tarefa não é leve um livro, é descobrir o teu livro, se tá chato, não é teu livro. Começa outro. Tá chato? Para! Começa outro. Tá chato? Para, começa outro. Tá chato? Para, começa outro. Tá chato? Começa outro. E sabe qual é o perigo? Depois de você fazer isso 4-5-6 vezes, você vai ter a falsa sensação que todos os livros do mundo são chatos. Não é verdade, continue: insista. Livro é que nem namorada, tá chata? Troca! Tá chata? Troca!”

(gargalhada)

[01:23:49]

“E realmente cê andou trocando muito ultimamente”.

(gargalhada)

[01:23:53]

Moral da história, acho que na 8ª tentativa ele achou Hobbit do Token: “Pai! Nunca achei que um livro pudesse ser divertido!”, falei: “Tá salvo!”. Que nesse momento ele não achou um livro divertido, ele achou que ler é divertido, é uma forma de lazer. Devorou Hobbit: “Ô, pai! A história continua?”, falei: “Sim, O Senhor dos Aneis“. “Ô, pai! Compra pra mim!”.

[01:24:19]

Vocês imaginam a emoção de um pai que ouve seu filho semianalfabeto pedir para comprar um livro?

(risos)

[01:24:27]

Foi uma… achei. Olha, custei a achar, sabe por quê? Porque nesse país abençoado por Deus, que tem menos livrarias do que na cidade de Buenos Aires, livro só fica na moda quando aparece o filme.

[01:24:38]

Alguém já ouviu falar num filme intitulado Eu, Robô? Com o will Smith? Você sabe quando é que eu li esse livro, do Isaac Asimov? Faz 40 anos. 40 anos. (ininteligível). Eu chegava para os meus colegas do Anglo: “Leia Eu, Robô“. “Que é isso? Autobiografia do Maluf?”. Não, é um livro de ficção fantástico, meu Deus do céu.

(gargalhada)

[01:25:00]

Moral da história, ele devorou 1.200 páginas: “Ô pai, tem mais alguma coisa do gênero?^”, falei “Que tal a história do Rei Arthur, Mago Merlin, cavaleiros da Távola Redonda?”. “Ah, é?”.

[01:25:14]

Quatro volumes das Brumas de Avallon, alguém leu aqui? Deovoru! “Pai, tem mais alguma coisa do gênero?”, falei: “Adriano, vamos mudar de gênero? Senão daqui a pouco vou ter um Gandalf andando de cajado pela casa”, né? As Aventuras Compltass de Sherlock Holmes, lembra desse? Tijolão desse tamanho, devorou!

[01:25:36]

Bom, para encurtar a história, hoje essa peça que está aqui, ele ele fluentemente em português, italiano, espanhol, francês, inglês, está começando alemão. Pelo menos foi para Frankfurt. Serviu para alguma coisa.

[01:25:52]

É formado em administração de empresas e virou diretor de uma editora, tamanho amor que ele pegou pelos livros. Livro muda muito as pessoas, muda demais as pessoas!

[01:26:03]

Uma professora de literatura de Santa Cruz do Rio Pardo chegou para mim e falou: “Ô, professor, eu sou professora de literatura e adoro ler”, quase que falei: “Ainda bem, cê tá na profissão certa”. “O nosso irmão é professor… a minha irmã é professora de história, adora ler e nosso irmão não é professor, é uma besta! O cara não lê nem bula de remédio, professor, além de tudo o engraçado é corintiano, mas aí a minha irmã foi numa livraria e encontrou um livro inditulado Aventruas e Desaventuras do Timão.”, disse que o corintiano era tão corintiano, que ao saber que o livro tratava do Corinthians, “Ahh” (suspiro profundo) “tá salvo!”. Descobriu que o livro contava histórias do Coringão muito mais interessantes do que ligar uma TV e ficar ouvindo o Abominável Milton das Neves. O camarada adorou aquele livro! Logo em seguida ele estava lendo a biografia do Rivelino, História das Copas do Mundo. Só que em Piracicaba tem um ditado que diz: “Se abrir a porteira, não passa um boi, passa a boiada”.

[01:27:03]

Ele começou a ler de tudo, e aí a irmã dele me contou tudo, falou: “Professor, adivinha o quê que aconteceu 2 anos depois que a minha irmã encontrou aquele abençoado livro!”, falei: “O que é que houve?”, “O nosso irmão publicou um poesias de autoria dele!”.

[01:27:18]

Gente! Um corinthiano escrevendo poesias! Olha o milagre que o livro fazer uma coisa assim, quase que sobrenatural, uma coisa assim fantástica!

(gargalhada)

[01:27:36]

Moral da história, só para… só para encerrar, como é que nós vamos resolver os 3 problemas?

[01:27:42]

Problema número 1, conversar na aula, o que é que tem que ter? Disciplina não é represessão, é organização. E a disciplina tem que envolver a escola, os professores, a mantenedora, o diretor, os professores, os alunos e as famílias! Isso que é fundamental. Que tem mãe que é terrível!

[01:28:06]

Quer ver uma coisa? Aula dada, aula estudada hoje. Uma escola que faz isso religiosamente, todos os alunos, pode fazer prova surpresa? Alguém se lembra aqui da cena do professor entrando na tua sala de aula e falando: “Arranca uma folha do caderno, guarda o material embaixo da carteira e vamos fazer uma provinha!”. Lembram disso?

[01:28:29]

Tente fazer isso hoje. No dia seguinte tem mãe de tijolo na mão! “Coitado do meu filhinho! Ele foi pego de surpresa! Agora ele ficou traumatizado, agora ele vai ter que fazer terapia senão ele fica hiperativo, com TDA e disléxico!”.

(gargalhada)

[01:28:42]

Eu sempre falo que mãe na escola parece anão em campo de nudismo, mete o nariz onde não deve!

[01:28:48]

Ou seja, enquanto vocês não convencerem as famílias, não vai adiantar absolutamente nada.

[01:28:55]

2º problema: estudar para a prova. Vocês sabiam que por lei a escola é obrigada a publicar um calendário de prova? Ou seja, essa é a lei mais burra que eu já vi na minha vida, é burra essa lei! Estudar para a prova o que é que significa? É convencer o aluno a estudar pouco mas todo dia.

[01:29:14]

3º problema: não ler livros. Lembre-se, por favor, de uma coisa. Você pode levar um cavalo até a água, você não pode obrigá-lo a beber. E se você enfiar a cara do cavalo no balde, não só ele não bebe como nunca mais ele chega perto do balde.

[01:29:25]

Portanto, pelo amor de Deus, professores, nunca obriguem um aluno a ler um livro! Pelo amor de Deus! Não façam mais isso! Não escolham por ele!

[01:29:37]

{Degustimus et coloribus disputandum estado. cor e gosto não se discutem. Cada um tem o direito de gostar do que quiser. Vocês, se eu te dou o direito de achar que Machado de Assis é um genio, você, por favor, me dê o direito de achar que Machado de Assis é chato!

[01:29:58]

Então, qual é o truque? Dê um leque! “Escolha. Não está bom? Começa outro. Não está bom? Começa outro, até você achar o teu livro”. Muitas escolas já estão fazendo isso e quando o aluno acha o livro sabe o que ele faz quando ele gosta? Ele vai na frente e conta para os amigos por que é que aquele livro é fantástico.

[01:30:18]

Quantos amigos ele convencer a ler o mesmo livro, maior é a nota dele. Ele ganha nota de marketing, que é merecidíssima, na minha opinião, porque está transformando os outros em leitores.

[01:30:32]

E finalmente, esse é um ditado, um velho ditado chinês que o meu desenhista resolveu transformar numa figura. Alguém lembra? Se você vir um homem com fome, não lhe dê um peixe, e sim, a pescar.

[01:30:48]

O nosso dever é ensinar os nossos alunos a pesccar. A aula é dar peixe. Mas o estudo solitário é quando ele está pescando. Está claro, isso? Está entendido isso?

[01:31:00]

Aliás, eu gostaria de mostrar para o Lula.

(risos)

[01:31:06]

É, investe um pouco mais em educação, pelo amor de Deus, né? E um pouco menos nessas bolsas famílias que vão parar para a pessoa que inclusive nem precisam disso, muitas precisam, mas muitas não.

[01:31:17]

(…) (corte) (fala sobre sessão de autógrafos do livro)

[01:31:40]

Professor, só para encerrar, a gente sempre fala para os alunos a palavra errada, que eu acho que é errada: “estuda!”. “Estuda”. Se você tentar resumir tudo em uma única palavra para subir a escada da inteligência, uma única palavra: “Leia!”, nem que seja para ler Júlia, Bianca, Sabrina, mas pelo amor de Deus, “leia!”.

(Fim da transcrição) [01:32:06] 

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