Reticências como usar em transcrição
O elemento reticências é o mais versátil na transcrição. Para provar, eis que mostramos o pau que matou a cobra. As reticências podem ser reticências de reticência ou outra coisa.
Representaremos entre ‘aspas simples’ – usei somente aqui, na transcrição nunca use aspas simples para esse fim –, a ‘forma do som’. Se é que posso usar essa expressão, se isso não for assassinar aurélios.
((comentários serão sinalizados com dois parênteses, igual a voz de fundo em filme))
Alongamento vocálico
A… ‘aaaa’
((sem comentários))
Gaguejamentos
O… o… o… o… ca… os caras me… me… me… assaltaram. – disse a Petrobrás, aturdia após constatar rombo em sua carteira. – use somente no Tipo 1 – ‘Ipsis Litteris’.
O… os caras me… me assaltaram. – disse a Petrobrás… – gaguejamentos, repetir uma vez, evitar corte de palavras. – use esse format no Tipo 2 – padrão.
((PêTêrobrás – raça de ‘PeTerodáctilos sindicalensis’ que se acreditava extinta após a Queda do Muro. A subespécie brasileira, entretanto, desenvolveu incrível adaptabilidade e capacidade reprodutiva. Seu princípio ativo tem proliferado pelo mundo afora, pertencendo ao topo da cadeia alimentar, derrubando até mesmo o poderoso regime da monarquia leonina. Voraz consumidor, entra como a oitava praga, superando em devastação as 7 pragas do Egito juntas. Sofre mutações de dois em dois anos e seu período de acasalamento ocorre a cada 4 anos, com postura de milhões de ovos em qualquer tipo de líquido, seja água ou não. Particularmente nocivo quando arremessado contra ventiladores, o ancestral do vírus infectou e dizimou população europeia em diversas ocasiões, na variante ‘Pes-T bubonicae’ e ‘Gripp espanholensis’. Seus genes se sobrepõem como predominantemente dominantes, habilitando-o a se cruzar com qualquer espécie, produzindo indivíduos híbridos que por sua vez se reproduzem por mitose. O fator DNH-R do gene G-R-ANA, parece ser o responsável pela capacidade de promiscuidade, sobrepondo-se até mesmo à barreira gênica imposta pela seleção natural entre as espécies. Darwin se espantou ao saber disso. Atualmente estabilizou a variante P-13t, a mais promíscua de todas. Acredita-se que essa mutação surgiu nas imediações do ABC paulista no último quinto do século passado)) – só para descontrair.
Interrupção ou tentativa de
P: Fulano está perguntando alguma coisa…
R: Que sicrano interrompe.
P: … e fulano termina de perguntar.
((quer saber? Normalmente o cara não está nem aí com a interrupção da pergunta, des-con-si-de-rou))
Mudança de curso do discurso
Que mensalão? O mensalão é uma coisa que… o parlamento… sabe de um negócio, condes e vice-condes? Eu não sabia de nada. Estou pasmo. Que instaurem a comissão parlamentar, deixe a oposição se agitar. E que esses operadores safados sejam punidos.
((frase imaginária atribuída a um monarca imaginário falando a seus nobres pares no País de Alice. É inquérito para lamentar))
Pergunta incompleta
P: E você nasceu em Brasília no ano de…?
((foi um recurso que um transcritor usou certa vez e adorei))
Curiosidades
((uso dois parênteses para comentários)) por que? Para diferenciar do uso de parênteses simples que representa (hipótese de escuta / hipótese plausível alternativa). Se penso que ouvi (Cauan) mas não tenho certeza da escrita, o uso de parênteses é o recomendado.
Mas o principal motivo é que parece com ondas de propagação. Quando vejo o recurso de wi-fi, (((i))) parecem ondas se propagando, não é verdade? Então é como se fosse uma voz em ‘off’, como o Chris falando no seriado “Todo Mundo Odeia o Chris”.
((não perca o próximo episódio de “Todo Mundo Odeia Transcrever”))
Vale a pena você ler uma brincadeira de Luís Fernand Veríssimo poc poc poc como curiosidade. LFV é um expert em transcrever diálogos de forma brilhante.
Por hoje é isso