Milícias: Carta Capital entrevista José Cláudio Souza Alves
Opinião do transcritor: Enquanto transcrevia Milícias, Carta Capital entrevista José Cláudio Souza Alves, com mais de 90 minutos de duração, a matéria, um filme mental ia passando na cabeça estrelado pelo presidente Bolsonaro. Mas ao mesmo tempo me vinha à cabeça o velho Olavo de Carvalho me advertindo para ter cuidado com o que estava ouvindo.
Desse velho filósofo fiquei sabendo da estratégia de Gramschi de guerra cultural. Entretanto, não pude deixar de me admirar pelas palavras do “Chicão”, como é conhecido o Professor José Cláudio Souza Alves. Escutei com atenção tentando afastar Olavo da cabeça.
Bem, 85% da entrevista faz sentido, só fico um pouco incomodado com a insistência do repórter de querer atacar Bolsonaro, nesse ponto achei pouco produtivo. A entrevista estaria melhor se fosse mais informativa do que com viés antibolsonaro, como soou ser para mim.
Enfim, leitura imperdível tomadas as devidas vacinas contra o vírus do contrabolsonarismo, vale a pena conhecer os mecanismos do crime.
Quem parece estar vencendo são homens que se acham heróis, que combatem um crime praticando outros crimes. Fogo se usa contra fogo?
O Chicão fala sobre legalização de drogas como política adequada de saúde pública em outra entrevista.
→ veja entrevista em que Chicão fala de legalizar drogas aqui
Bem, cabe a você, leitor, decidir. Segue transcrição em estilo editado para blogueiros como eu.
(início da transcrição) [00:00:00]
Carta Capital: Olá, amigas e amigos da Carta Capital, muito bom dia, nesta sexta-feira 26 de junho (de 2020). Eu sou André Barrocal, repórter aqui em Brasília. E esta é mais uma entrevista ao vivo do canal da Carta no YouTube. No outro lado da linha lá no Rio de Janeiro, eu tenho José Cláudio Souza Alves, ele é sociólogo e um grande especialista em milícias, estuda esse assunto há quase 30 anos, ele é professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. E com esse currículo, o professor vai nos ajudar a entender esses cruzamentos familiares e as histórias das milícias propriamente ditas entre os clâs de Jair Bolsonaro, Fabrício Queiroz e Adriano da Nóbrega. Então, professor, em primeiro lugar bom dia, muito obrigado pela gentileza de nos atender. [00:00:58]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Bom dia André Barrocal, obrigado a vocês pelo convite pelo trabalho que vocês vêm realizando. Fico feliz em poder contribuir com essa discussão.
Carta Capital: Antes de começar a conversa com o professor, um recado para quem nos vê, quem tiver interesse em fazer perguntas a ele pode enviá-las na caixa de comentários ao lado do vídeo, tem no YouTube. E para quem está nos assistindo ainda não é inscrito no canal da Carta no YouTube, aproveite para fazer isso agora, você pode curtir, comentar, compartilhar os nossos vídeos.
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Carta Capital: E quem gosta do nosso jornalismo, gostaria de nos apoiar, apoiar a nossa continuidade, e ainda não é assinante, pode fazê-lo, informe-se sobre as condições especiais de assinatura da Carta no site:
Carta Capital: Em primeiro lugar, queria que o senhor nos explicasse o que são as milícias do Rio de Janeiro? [00:01:59]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Como eu estudo há muito tempo os grupos de extermínio que começaram com muita força e se mantiveram na Baixada Fluminense? A Baixada Fluminense é uma região a Oeste da capital do Rio de Janeiro, é uma região composta por 13 municípios e quase 4 milhões de habitantes atualmente. Essa região já desde o final dos anos 60 em plena ditadura empresarial militar de 1964, ela passou a desenvolver com muita intensidade a atuação de grupos de extermínio e, nos meus estudos eu vou perceber então uma linha de continuidade entre esses grupos de extermínio e a formação das milícias. Então eu tenho dito que as milícias são uma nova fase desses grupos, eu costumo dizer que são a fase miliciana dos grupos de extermínio. Por que é que eu digo isso? Porque existem cinco elementos que fazem perfeitamente a ligação entre os grupos de extermínio e as milícias.
Primeiro: Os seus líderes, os seus organizadores que estão à frente dos grupos de extermínio e das milícias são agentes públicos, eles são vinculados diretamente ao Estado, são servidores públicos. Então essa é a primeira grande característica. Eles são o Estado, não é nada de paralelo, não é nada de forças ocultas que tomaram o Estado. É o próprio Estado, são agentes que atuam por dentro da estrutura estatal, do aparelho estatal.
Segundo: Eles são especialistas em provocar dano à vida dos outros, são especialistas em torturar, infringir ferimentos e matar pessoas, por que? Porque eles ocupam os espaços dentro do Estado que atua nessa prática. São os extratos da segurança pública, são policiais militares, policiais civis, bombeiros, em alguns casos guardas municipais. Enfim, você tem esses vínculos dos agentes de segurança pública que estão atuando dentro das milícias.
Terceiro: Eles têm uma base territorial. Os grupos de extermínio tinham uma base mais fluida, eles se comportavam com trajetórias e percursos mais fluidos na Baixada e fora da Baixada também. As milícias têm uma característica mais localizada, mais fixa e mais detalhada desse controle territorial. Mas isso se explica pela mudança dos seus negócios e de sua rede de obter ganhos. Mas enfim, ambos têm uma base territorial, ela existe, ela é real, você não pode desconhecê-la.
Quarto: Eles possuem financiamento empresarial e comercial, então eles possuem uma base financeira que vem de taxações para comerciantes, taxações para empresários ou que esses empresários e comerciantes buscam esses serviços da milícia para financiar esses serviços. Então tem esse duplo acesso à base financeira.
Quinto: Tanto o grupo de extermínio como os milicianos, eles se projetam politicamente, eles vão galgar espaços pelo voto. Então os matadores, membros de grupos de extermínio na Baixada, eles começaram a se eleger no início dos anos 90, eles vêm se elegendo prefeitos, vereadores e deputados estaduais no Rio de Janeiro. As milícias que vão ganhar um perfil dito polícia, eles estão sujeitos no final dos anos 90, estão se elegendo a partir desse final dos anos 90.
Professor José Cláudio Soouza Alves: Então, essas são as 5 características maiores. O que diferencia a fase miliciana da fase grupo de extermínio? O grupo de extermínio, ele se focava muito na eliminação e execução de pessoas, matar pessoas a partir do financiamento de empresários, comerciantes, políticos, enfim, quem pagasse pela morte, contraventores do jogo do bicho sempre utilizaram também os serviços dos grupos de extermínio. Então o grupo de extermínio se focava em matar pessoas como contratados, eram matadores de aluguel. A milícia, além de serem matadores de aluguel, tem essa prática da execução sumária, que é a base deles, eles vão avançar para vários outros negócios. Por isso que eles acabaram ganhando essa repercussão toda, porque a movimentação territorial financeira econômica deles é muito maior. Então eles vendem gás, água, terrenos, casas, imóveis, eles lidam com transporte clandestino de pessoas, de serviços de gatonet, de acesso a televisão e internet de forma clandestina. Combustível adulterado, constroem aterros sanitários clandestinos, enterram lixo a partir do pagamento para enterrar esse lixo. Enfim, eles vendem votações inteiras de áreas que eles controlam. Então eles têm, digamos assim, um leque de negócios que eles montaram e isso superou em muito a 1ª fase deles, a fase que eles se limitavam apenas a matar pessoas, e passaram a ganhar grandes espaços. Hoje se falou lá no passado em um total de 2 milhões de habitantes em uma área de 348 quilômetros quadrados que eles atingiam foi uma matéria jornalística do Henrique Coelho.
Professor José Cláudio Soouza Alves: Hoje o Ministério Público já trabalha com 11,4 milhões de pessoas atingidas pela atuação miliciana, pelas informações que o próprio Ministério Público começa a obter, e o tamanho dessas áreas, elas cada vez mais são mais amplas, são maiores, você tem notícias em Angra dos Reis, região dos Lagos, essa área de expande no Rio de Janeiro. E a movimentação financeira que esses grupos realizam é algo absolutamente expansivo, porque a meu ver é algo muito grande.
Carta Capital: Professor, se o senhor me permite, eu quero entrar nesse ponto, até para reforçar o que o senhor disse, esse aspecto homicida vai se convertendo num aspecto empresarial. O ano passado, em janeiro de 2019, houve a Operação Intocáveis, uma operação que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro denunciou 13 milicianos, e entre eles, apontado como líder da gang estava o Capitão Adriano da Nóbrega. E ali a lista de crimes é muito mais ampla do que homicídio. Na verdade existe um homicídio apontado e o resto é basicamente o que o senhor explicou, negócios. Então a exploração de comerciantes como taxa de proteção, construção, venda e aluguel de imóveis de áreas griladas. E aí eu queria perguntar o seguinte, essa milícia alvo da Operação Intocáveis, em janeiro do ano passado, ela tinha fisicamente a sua atuação na região de Rio das Pedras, Itanhangá e Musema, que são regiões próximas, muito próximas de onde o Presidente Jair Bolsonaro tem a sua casa em um condomínio da Barra da Tijuca. E o QG dessas milícias apontado pela Operação Intocáveis era a associação de moradores de cada uma das três regiões. Então, essa associação controla votos, influencia o eleitorado nessas regiões? [00:10:26]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Sim, é muito comum esse controle que grupos criminosos vão realizar em relação a movimentos sociais vinculados à população moradora. É determinante para o miliciano – e isso é determinante mesmo em termos de negócios – ele saia de um patamar de ser apenas um assassino, de ser apenas alguém que se impõe pela violência, e ele é necessariamente, o sucesso dele próprio, o sucesso dos seus negócios para expansão, ele vai migrar dessa mera imagem de um assassino, de um criminoso que se impõe matando, para a imagem de um bem feitor. Isso é determinante. E para você fazer essa transição, ou para você acoplar a sua imagem de matador à imagem de uma personalidade política, de alguém que é um benfeitor, é necessário que ele vá participar agora de espaços políticos nessas áreas. Então, a obtenção do apoio político, de se eleger, de se projetar, é determinante. Vários líderes, um dos mais famosos foi lá do Rio das Pedras, foi o candidato. Inclusive ele foi eleito inicialmente, e logo depois ele foi assassinado, acho que é o Zuma, se eu não me engano. Não sei se é o Zuma não, o Zuma pode ser lá de outra favela, a de Manguimos. Mas enfim, é muito comum lideranças de associações de moradores vinculados a projetos da milícia, eles se elegerem, mas eles vão enfrentar também as disputas internas por esse poder político. É muito comum em anos eleitorais, como esse que nós estamos vivendo agora, o assassinato entre eles. Eles se matam. Os miliciano em 2016, na Baixada Fluminense, com certeza 13 assassinatos de candidatos a vereadores foram cometidos, então a violência se amplia muito nesse período, e entre eles entre esses 13, 6 eram milicianos que acabaram sendo mortos, eles se matam entre si. Então essa projeção política, essa busca de serem benfeitores, essa relação com movimentos sociais locais para que a imagem desses milicianos que se projetam como personalidades políticas, isso é determinante para a milícia, isso não é algo desprezível. Porque eles sabem que o projeto político os protege mais, dá mais poder e faz com que eles alcancem mais dinheiro, mais recursos, mais negócios para se beneficiarem. Assim que funciona. Tanto com os matadores como com os milicianos, eles vão ter sempre essa face do bem feitor. Por exemplo, você vai lá, Musema, você sabe, é uma área que eles atuam que desabaram dois prédios lá e mataram 24 pessoas, eu acho. A venda de imóveis por parte de milicianos é algo determinante. Eles ganham muito dinheiro, um dos melhores negócios que eles possuem. Quando eles conseguem vender um imóvel ou um terreno, tem otas áreas que eles vendem terrenos, para uma família, essa família saiu de um patamar desesperador, que eles se viam, onde grande parte do seu dinheiro, ele era depositado para pagar aluguel, e esse aluguel não será mais pago. Em determinado momento agora ele vai ter a sua casa própria. Esse miliciano ou esse político que agora conseguiu beneficiar essa família com um imóvel, onde ele não paga mais aluguel, ele é visto como bem feitor. Então pode cair quantos imóveis forem, as pessoas morrerem, isso é uma tragédia, mas o resto da população está ali comprimida no abandono de políticas públicas absolutas e veem na possibilidade de ter uma casa própria onde tem um terreno, a solução da sua família, a solução do sofrimento familiar e de alcançar bem estar. Então esse miliciano ou esse político vinculado às milícias, vinculado a negócios que envolve venda de imóvel, ele vai se transformar num herói, por mais que haja um acidente que traga vitima, os que permanecem vivos vão tratá-los assim, porque de certa forma é a compressão de um mercado que não tem dissolução e um oferecimento de um bem que é muito raro, que é muito difícil de ser obtido nessas áreas, sem contar a proteção pela violência que obriga o morador a votar naquele policial.
Carta Capital: Professor, eu queria citar uns dados aqui que mostram uma coincidência entre os avanços das milícias, dos votos obtidos por Flávio e Jair Bolsonaro, e o aumento patrimonial de pai e filho. Em 2004, havia 6 comunidades no Rio de Janeiro sob controle de milícias. Em 2007 eram 92 comunidades. E em 2014 eram 148. Então o avanço aqui foi notável num período de 10 anos no início da década passada. Em 2006, Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro tinham um patrimônio conjunto de 818 mil reais. Em 2016 o patrimônio conjunto dos dois declarado à Justiça Eleitoral era de 3,4 milhões de reais, era portanto 4 vezes maior. Num período de 10 anos, eles quadruplicaram seus patrimônios. E em relação aos votos de cada um, em 2006 Flávio Bolsonaro se elegeu para a Assembleia do Estado com 43 mil votos e Jair Bolsonaro para deputado federal foi 99 mil. Em 2014 Flávio se elegeu com 160 mil votos, 4 vezes mais do que tinha 10 anos antes e Jair Bolsonaro elegeu-se com 464 mil, também 4 vezes mais do que tinha tido anteriormente. Foi o campeão de votos no Rio de Janeiro naquele ano para deputado federal. Eu queria lhe perguntar: a família Bolsonaro é uma família miliciana? [00:17:08]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Então, você não tem provas de que eles sejam de fato milicianos. O que podemos dizer é que eles convivem com personagens milicianas e eles têm um discurso, eles têm uma prática discursiva e uma prática real política de aproximação e de favorecimento da lógica miliciana. Vou dar alguns exemplos que talvez você deve saber, isso é notório, não estou falando de nenhuma novidade. O fato do próprio Adriano Magalhães da Nóbrega que era chefe um dos chefes da milícia lá em Rio das Pedras, lá do chamado Escritório do Crime, que também além de milícia tinha sua atuação como matador, ele foi homenageado por Flávio Bolsonaro com a medalha Tiradentes, a mais alta comenda dentro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e foi apoiado nesse gesto que fez pelo próprio pai, que defende a figura do Adriano Magalhães da Nóbrega como um homem íntegro, de bem, justo. Nesse mesmo momento, já estão em andamento várias investigações, inclusive ele foi culpado em um julgamento pelo assassinato de um guardador de carros por envolvimento com outro crime que ele cometeu também, que foi investigado, ele tem de fato passagem e envolvimento com a contravenção, com o jogo do bicho na região da Serrinha, lá em Salgueiro, ele tem passagem em relação com a contravenção. Depois Adriano Magalhães da Nóbrega teve a sua então esposa e a sua mãe como membros do gabinete, eram assessores do próprio Flávio Bolsonaro nesse momento. O Adriano Magalhães da Nóbrega pode ter os homicídios identificados, apenas foi acusado por esses. Mas o que a gente sabe é que a figura de um capitão um ex-capitão do BOPE, a figura de um miliciano que está dentro da estrutura do Estado, da segurança pública, ele consegue facilmente manipular processos judiciais ou bloquear a possibilidade desses processos em função da sua proteção. Isso é muito comum dentro do Rio de Janeiro. Então essa figura chave, Adriano Magalhães da Nóbrega, ele é uma figura que faz uma conexão muito profunda com a família Bolsonaro a partir de tudo isso que eu digo. O discurso tanto do Jair Bolsonaro como do Flávio Bolsonaro, discurso de apoio ao bandido bom é bandido morto, vamos matar os bandidos, vamos eliminar, vamos dar arma para a população se proteger e matar esses bandidos, esse discurso do justiçamento, de vamos eliminar, somos justiceiros, vamos proteger a população, esse é o discurso básico tanto dos grupos de extermínio, como da milícia. É um discurso fundamental para eles. Se você se elege com esse discurso, como plataforma política, defendendo excludente de ilicitude, proteção para que policiais matem e não sejam investigados, todo esse recurso em termos de plataforma política, é um discurso que favorece muito a atuação de milicianos. Esse é um discurso já antigo dos grupos de extermínio aqui no Rio de Janeiro, o Sivuca defendia isso, os grandes nomes vinculados aos grupos de extermínio aqui no Rio de Janeiro sempre fizeram esse discurso. Então ele agora é um discurso nacional. Então ao meu ver você tem várias ligações discursivas de práticas concretas de vínculos pessoais, você tem a figura agora do Fabrício Queiroz como outro homem que faz essa conexão, era amigo de Adriano Magalhães da Nóbrega e faz conexão com a família Bolsonaro, você tem a figura do Ronnie Lessa que era amigo do Adriano Magalhães da Nóbrega, amigo de Fabrício Queiroz, está hoje preso, acusado pela morte da Marielle Franco, e aí você tem toda uma investigação sendo conduzida hoje pelo Ministério Público que aproxima miliciano daquela região, dessa mesma região que você está falando aí, miliciano que teriam interesse emmatar a Marielle Franco, porque ela começou a movimentar uma mudança na legislação no Rio de Janeiro para controlar as terras em áreas faveladas, que são as áreas onde eles mais atuam. Então ela queria de alguma forma regulamentar o uso dessas terras e aparece agora esse caso.
Carta Capital: Deixa eu aproveitar que o senhor mencionou a Marielle e a atuação dela para regulamentar áreas griladas. Na Operação Intocáveis, essa que eu mencionei há pouco de janeiro do ano passado, que foi para cima dos milicianos de Rio das Pedras como o Capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, que está morto, morreu num cerco policial em fevereiro na Bahia agora. Mas na Operação Intocáveis, então havia ali a acusação de entre outros crimes, a milícia construía imóveis em áreas griladas, prédios e alugava ou vendia apartamentos. Em dezembro de 2018, um mês antes da Operação Intocáveis, o general que comandava a intervenção federal da segurança pública do Rio, intervenção que existiu em 2002, ele chamava Richard Numes. E ele deu uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, na qual diz: “A Marielle foi morta muito provavelmente por milicianos que não queriam que ela trabalhasse com a legalização ou a regulação das terras que vinham sendo griladas. O senhor acha que essa foi a causa do assassinato dela? [00:23:11]
Professor José Cláudio Soouza Alves: A gente não tem provas para dizer: “Sim, eu tenho certeza disso”. Mas tudo leva a crer, ao meu ver essa é a grande hipótese mesmo. Eu acho que ela começou a mexer com as comunidades, ela já atuava, ela tinha uma penetração muito grande nessas comunidades, ela tinha diálogo com essa população, ela sabia, ela não fazia diálogo por dentro meramente das associações de moradores controladas pelas milícias. Ela atuava junto a grupos políticos coletivos dentro dessas comunidades, ela tinha informação desse comportamento miliciano, e ela começou a atuar em busca de uma regulação. É notório que não há regulação fundiária nessas áreas, é notório. Não só nas favelas do Rio de Janeiro, mas por exemplo, a Baixada FLuminense como um todo, você não tem regulação clara. Então você tem esses negócios se expandindo cada vez mais, com ocupações urbanas de terra e lideranças que emergem dessas ocupações urbanas que vão capitanear essa dimensão da ausência de política habitacional, de ausência de regulação fundiária, para ocupar áreas, invadir áreas de forma ilegal. Tem áreas que são áreas de proteção ambiental permanente, inclusive, ou simples áreas de proteção ambiental, que não podem entrar, como o caso do Musema foi identificado, não podem entrar como parte ou áreas de políticas habitacionais, porque você está incidindo sobre a questão ambiental muito duramente. E esses grupos, eles são capazes de identificar, eles têm informações por dentro do Estado, eles sabem quais áreas são particulares, são privadas, quais áreas são públicas, eles sabem como avançar nas áreas públicas principalmente federais. Eles sabem como avançar porque nem o INCRA e nem o SPU, o Serviço de Patrimônio da União são capazes de fiscalizar essas áreas, e quando são capazes, são facilmente subornadas ou corruptíveis, então a milícia avança muito rapidamente e ganha muito dinheiro com isso. E a partir daí, você tem a possibilidade de avançar nos seus negócios. Lembre-se você também tem que se lembrar disso que a Operação Intocáveis, ela está investigando o envolvimento de verba de parlamentares, especificamente do Flávio Bolsonaro, verbas obtidas a partir de um esquema de rachadinha assim ditas, que são esquemas de se apropriar de parte do salário de assessores pelo próprio parlamentar, ou por um esquema que ele está montando. Quem não me leva a crer que parte desse dinheiro foi empregado em investimentos, em construção de imóveis? Isso é uma hipótese. E se esta construção de imóves está ocorrendo em áreas favelizadas como essas da Zona Oeste, Musema, Rio das Pedras, Gardênia Azul, Jardim Itanhangá, áreas favelizadas dessa área e se nessas áreas você tem investimento financeiro para construção de imóveis clandestinos, ou o retorno financeiro pela venda, é claro, você tem uma evolução de valores aí muito rápida e muito intensa. Então tudo isso está ocorrendo simultaneamente. Então a morte da Marielle Franco, com certeza, ela está ocorrendo no mesmo momento que há essa movimentação financeira para construção de imóveis pela milícia e a venda desses imóveis. A Operação Intocáveis e a morte da Marielle, eles estão ao mesmo tempo e em uma localidade muito próxima, ela está se movimentando. Logo, há uma possibilidade muito grande de elas terem uma conexão, que até agora não veio à tona. Mas é como se você tivesse dois incêndios acontecendo na mesma área, num mesmo momento. Você vai dizer: “Há uma possibilidade de aproximação entre esses dois eventos”. Então é assim que eu vejo, o caso da Marielle, ao meu ver, ela tem uma conexão muito grande. Lembre-se que o Braga Netto, que foi o general que fez todo o processo de intervenção federal, ele recebe agora curiosamente para ser ministro da Casa Civil, ele se torna ministro da Casa Civil, diz-se após o assassinato do Adriano Magalhães da Nóbrega. Então você tem um conjunto de situações ocorrendo que são muito estranhas e muito pouco comuns. Você tem o homem interventor, um homem que não atuou, não tocou nas milícias no momento da intervenção é o momento que a milícia avança e mata Marielle e você tem a ampliação do esquema de venda de imóveis clandestinos nessa região, a atuação da intervenção federal não propiciou avançsos nessas investigações, nos dois casos. Só depois é que essas informações começar a vir agora à baila, a aparecer para a mídia como um todo. Então a meu ver há um fortalecimento, há uma proteção, há o crescimento da milícia por uma conjuntura política muito próxima âqueles que se beneficiam disso discursivamente, e que na prática defendem as milícias, que tem conexões muito próximas, conexões de paroximação, de empregabilidade, de morar no mesmo condomínio, Ronnie Lessa morava no mesmo condomínio que o presidente da república. Você tem um conjunto de indícios muito próximos e que até agora não foram elucidadas e não foram trazidos à tona. E aí, como você diz, sempre há uma protelação, sempre há um jogo na Justiça. A própria Justiça eleitoral e a própria justiça nossa, com os trâmites pelo STJ, pelo STF, são incapazes até o presente momento de trazer maior elucidação, maior celeridade, maior atuação sobre esses casos e assim a gente tem acompanhado.
Carta Capital: Professor, nós mencionamos os negócios imobiliários da milícia do Rio das Pedras. E segundo as investigações Operação Intocáveis, esses negócios servem para lavar dinheiro. Então o histórico que toma dinheiro de comerciantes, como taxa de proteção, vai lá e constrói um prédio, vende um apartamento, dinheiro limpo. E é curiosamente um método usado, segundo o Ministério Público, por Flávio Bolsonaro também para lavar o dinheiro das rachadinhas, segundo as investigações das rachadinhas. Esss rachadinhas, vamos lembrar, para quem não está familiarizado, é aquela prática do parlamentar embolar parte dos salários dos seus funcionários. Isso aí é um crime de peculato, então para lavar esse dinheiro, se egundo o Ministério Público, o Flávio Bolsonaro investiu em imóveis. É outra coincidência aí não só no discurso mas entre milícia e os Bolsonaro, correto? [00:30:29]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Sim, com certeza você tem uma aproximação de discurso, de práticas, de métodos, tudo isso está ocorrendo na mesma área geografica, ao mesmo tempo, é muita… não existe uma coincidência, isso não é uma coincidência. Essas práticas estão muito próximas, estão todas envolvidas nessa dimensão. O mais estranho, para nós o que mais nos chama a atenção, nos impacta, é como é que você não tem investigações decisivas em torno disso. Isso é muito simples. A Polícia Federal tem um know-how imenso se você quer saber, para saber, para fazer toda a monitoração, o acompanhamento, a identiifcação de verba de traficantes, aonde essa verba foi destinada, no nome de que parente, de que pessoas estão envolvidas com esse traficante. A evolução patrimonial de um traficante é monitorada perfeitamente pela Polícia Federal, desde sempre. Então, eles já têm um know-how absoluto sobre isso, eu sei porque já vi debates, já fiz debates inclusive com eles. Como é que numa região como o Rio de Janeiro, com toda especificidade, com tudo isso acontecendo, você não é capaz de fazer uma parceria de investigação? De acompanhamento? Para fazer todo esse levantamento de evolução patrimonial, de ganhos, de movimentação financeira, de envolvimento desses nomes para identificar isso. Você identifica isso muito rapidamente, não precisa de grandes. Você já tem capacidade de levantar isso a partir de fontes seguras por parte dos investigadores. Então, na verdade você tem a protelação disso, você vai procrastinando tudo isso e você vai favorecendo esses grupos no poder, eles não são atingidos, eles se protegem. Então, eles vão cada vez mais criando barreiras, vão criando favorecimentos, e eles permanecem tendo poder, atuando como eles vem atuando. Infelizmente é isso que a gente vê, você não tem a celeridade, o acompanhamento, a investigação consegue chegar, porque agora você tem uma dimensão de poder. Por isso que a milícia quer o poder. Eu, quando comecei a estudar matadores lá em 93, quando eu comecei, eu achava que eles tinham um posicionamento local na Baixada. Posteriormente eu comecei a ver a expansão como deputados estaduais, eles estão avançando, a milícia avança na capital, no Rio de Janeiro. Então você já percebe um avanço significativo. Lógico, estão crescendo, eles têm poder político. Agora, a ascensão, a chegada de obtenção de poder junto ao Governo Federal é um projeto muito mais amplo, muito maior, que pode comprometer a estrutura do país como um todo. O que me chama a atenção é que assim como os grupos de extermínio, lá em 1969, foram favorecidos, apoiados e defendidos pela ditadura empresarial militar daquela época, então eles disseram que eram os paladinos da justiça, eles eram a grande e gloriosa revolução contra a corrupção, contra o crime, mas eles tamparam o nariz, soltaram seus cães assassinos, que são os grupos de extermínio e eles mataram a balde na Baixada, no Brasil como um todo. Hoje se repete, isso se reproduz. Você tem um discurso anticorrupção, você tem um discurso anticrime, antibandidagem, é o mesmo discurso lá de 69, só que você não tem um golpe com tanques nas ruas. Você tem um golpe dado por setores militares, os setores do judiciário, os setores do parlamento fazendo com que essa estrutura de poder hoje estabelecida no Brasil, ela se mantenha e se mantenha graças à atuação de criminosos. Então, o próprio exercício nacional, os notáveis, os nobres generais do Exercício Nacional, eles se vinculam de alguma maneira, de alguma forma eles se aproximam dessa canalha assassina. Eles aceitam. Isso não é uma virtude, ou uma não virtude só do Exército não. Toda classe dominante brasileira sempre se valeu dos canalhas assassinos, sempre. Então, se você for para as grandes manifestações populares de rebeliões – Cabanagem, Balaiada, Farroupilha – todos os grandes elementos, eles foram destruídos em grande parte. Se você quiser mais atrás você vai para Palmares, você vai ver a atuação de capitães do mato sanguinários, assassinos juntamente com o Exercício Nacional para destruir aquele movimento e matar aquelas pessoas. Isso ao longo da história do Brasil, aconteceu. Durante a ditadura militar de 64 isso foi amplificado, e aí você tem os grupos de extermínio. Como eu disse para você no começo do nosso debate, são policiais militares, policiais civis, todos aqueles que o Exército tampa o nariz e diz: “Isso aí é ralé, isso aí é gente que não expressa a nossa nobreza como Exército”. Mas eles vão conviver e vão aceitar que esses sujem suas mãos de sangue e perpetuem essa violência que a gente vive no Brasil. E hoje você tem as milícias atuando dessa mesma maneira com esse discurso de apoio, discurso político, com a prática muito próxima daqueles que estão governantes hoje, no campo federal, são senadores e o próprio presidente da república. Então como é que nós não trazemos elucidação ou explicações para todos esses eventos que nós estamos trazendo aqui? Por que é que não há uma explicação cabal, que a própria Justiça possa trazer isso? Ou para dizer “Eles estão envolvidos”, ou para dizer “Não estão envolvidos”. Por que é que tudo isso paira como uma nuvem nebulosa para todos nós nos amedrontando, e dizendo? Só que hoje eles não precisam botar os tanques nas ruas, prender, me mandar prender, me mover, me botar no calabouço e me torturar, eles não precisam disso. Hoje eles têm fake news, hoje eles têm a mídia, hoje eles têm o Judiciário, hoje eles têm o parlamento, hoje eles têm os próprios ministérios que estão aí a distribuir as verbas, como o próprio Telessaúde para proteger a sua própria base eleitoral para estimulá-la e para se manterem no poder como eles estão se mantendo. O cenário é outro, mas o projeto é o mesmo, pede fechamento de poder político, de vinculação com o crime organizado, especialmente com os grupos de extermínio na sua fase miliciana.
Carta Capital: Professor, duas perguntas do público, pessoas que nos assistem. Em relação com o que o senhor acaba de dizer, Tatiana Nascimento quer saber: é possível dizer que milícia é o Estado? Essa é uma pergunta. E a segunda da Thaís Custódio: o senhor, a partir de algum momento a partir dos seus estudos sobre milícias, sofreu ameaça de morte ou se sentiu ameaçado? [00:37:25]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Então vamos lá, às duas perguntas. A primeira é uma afirmação minha já há muito tempo. A milícia não é um poder paralelo. A mídia, vou dizer para você o que acontece. A mídia, os parlamentares, judiciário, as pessoas que ocupam cargos de autoridade ou que ocupam projeção social, elas vão trabalhar permanentemente a ideia de que o Estado foi corrompido, o Estado foi desviado, o Estado está sendo mal conduzido. Há elementos nocivos que estão dentro do Estado cometendo crime, então normalmente todos esses discursos vão na direção de “vamos preservar a nossa própria imagem”, até porque eles ocupam cargos no Estado. A mídia faz isso porque de alguma forma se vincula a essas autoridades e a essas informações que essas autoridades possuem e fazem esse discurso junto com eles. Então todos eles fazem o discurso de “vamos preservar nós mesmos, a nossa autoridade, o poder do Estado”, até porque eles não são capazes de pensar uma outra forma de Estado, um refundamento da estrutura estatal. Eles colocam ela nessa base que nós somos obrigados a aceitar, uma base toda hierarquizada, de dimensões hierárquicas, de dimensões racionais, de controle pelo Judiciário, dimensões todas elas absolutamente manietadas e incapazes de fazer mudanças significativas na realidade, que vão favorecer quem tem poder econômico, quem tem poder político, é assim que o Estado tem que cumprir o seu papel. E entregue à sua própria sorte, a massa abandonada entregue na bacia das almas, que somos nós. E mais do que nós, a população pobre de periferia, de favelas. Isso que tem acontecido, esse Estado está de costas para essa população distante desse mundo. E é um Estado que vai perpetuar o poder de quem tem poder contra o sofrimento, a dor e a morte dessas populações. Então, essas vão falar “Ah, existe um poder paralelo”. Não há poder paralelo algum. É o próprio Estado, ele é um Estado totalitário. Então é difícil para nós compreendermos isso, mas ele tem uma face legal e uma face ilegal. Ele, ao mesmo tempo, tem essas duas faces. Ele com isso, ele tem muito mais poder. Você vai achando que vai pegá-lo porque ele é um criminoso, ele é um policial, aquele agente de segurança é um miliciano, um criminoso. Quando você tenta tocar nele, ele escapa, ele tem informações privilegiadas. Ele manipula a investigação, ele manipula a operação policial, ele escapa. Ele é um agente da lei, ele dá testemunho como agente da lei, ele mata as pessoas ali, diz que a pessoa reagiu à prisão, então é um antigo auto de resistência, hoje mortes por intervenção policial, e a Justiça o julga e o absolve: “Não, ele cumpriu a função dele como agente público de segurança”. Então ele tem a face legal dele protegida pelo legal. Quando você vai pegá-lo na face legal, vai dizer: “Olha, eu tenho aqui como controlá-lo porque você está dentro do Estado e eu vou controlar você pela hierarquia de comando, pelas normas de funcionamento da instituição, pela forma como a polícia se comporta. Ele burla esse funcionamento internamente ao Estado, ele legalmente se protege, ele vai burlar isso e ninguém vai tocar ele. Por exemplo, os praças estão vinculados ao crime organizado e mesmo os não praças, os membros da hierarquia, eles são capazes de construir uma hierarquia paralela interna aos batalhões, interna às delegacias de polícia. Eles são capazes, a partir dessa hierarquia invertida, dar força aqm tem dinheiro, dar força ao miliciano que tem poder, dar força aos negócios que vão movimentar financeiramente um capital incapaz de ser movimentado pelos salários deles, são capitais muito mais amplos. Então cria uma hierarquia paralela por dentro da instituição, uma cultura institucional outra que não é absorvida, não é pega pelo discurso normal do Estado. Então infelizmente nós olhamos para isso e não somos capazes de interpretar isso. O Foucault, que é um filósofo historiador, ele tem uma expressão para isso, chama-se ilegalismo: o Estado é capaz de gerenciar o crime, ele vai dizer quem eu vou prender e quem eu não vou prender. E ele, ao permitir que o criminoso continue gerenciando seus negócios por dentro do Estado ou com a conivência do Estado, ele amplia o seu poder. Hoje o Estado tem muito mais poder. Vou agora para a 2ª pergunta. Eu posso ser morto por um policial que me aborda na rua e vai me dizer que eu cometi uma infração e vai dizer que eu reagi. Eu posso ser morto, mas aquele policial pode ter vínculos com a milícia. Então ele pode estar ali no papel legal e ilegal ao mesmo tempo e eu seria atingido. Eu vou contar agora um caso que aconteceu comigo. Eu estava malhando na academia antes da pandemia, malhando numa academia onde eu moro, na cidade onde eu moro que é aqui na Baixada Fluminense. Eu não sou correspondente de guerra, eu não moro lá na zona sul do Rio de Janeiro e venho fazer matéria aqui na Baixada Fluminense. Eu moro aqui, eu sou habitante desse lugar, conheço isso aqui como ninguém. Conheço o Rio e conheço a Baixada. Então eu estou exposto. Aí um ex-aluno meu passa por mim na academia e fala assim: “Professor, o senhor sabia que tem um miliciano aqui na academia?”, aí eu falei: “Cara, eu não estou sabendo de nada”. Aí ele comentou comigo quem era a pessoa, quem era o miliciano. Aí eu falei: “Tá bom”. Aí passou um dia, dois dias, eu encontrei o dono da academia e eu falei: “Pois é, esse lugar já foi mais bem frequentado. Eu fiquei sabendo que tem miliciano aqui dentro agora”. Aí ele falou: “Não, como assim? Quem é?”. Aí eu descrevi a pessoa, ele falou: “Não, isso aí é o cara para quem eu pago segurança aqui da academia”. Eu falei: “Ferrou, eu estou num esquema agora, estou no meio de estrutura que eu não tenho o menor controle”. Aí esse dono da academia deu a volta, chegou, voltou e falou assim: “Olha, eu já conversei com ele que malha aqui um dos maiores especialistas sobre milícia aqui do Brasil. Aí ele respondeu para mim ‘Ah, nós sabemos, é um professor da universidade, ele mora num lugar assim, assim, assado’”, é o local onde eu moro. Então eu sei que eles sabem onde eu moro, eu sei que eu posso não ter, até hoje eu nunca recebi uma ameaça formal, por que? Porque eu nunca disse nome de matadores, quer dizer, que alguns eu já citei até, não cito mais porque os médicos dizem que faz mal para saúde ficar citando nome de matador. Mas enfim, eu nunca sofri porque eu nunca avancei nas denúncias, não personalizo as denúncias. Eu mostro a estrutura de funcionamento, e porque eu não causo temor para eles, eu não tenho poder. A Marielle Franco tinha poder, a Marielle podia mudar, aprovar uma lei pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro que regulasse as terras de comunidades faveladas. E isso ia trazer impactos sobre os negócios deles. Eu não tenho esse poder, eu sou um mero professor, pesquisador, então nunca fui ameaçado realmente. Mas eu convivo diariamente com a possibilidade, como que eu ando aonde eu vou, eu tenho certeza de que eu posso ser atingido, eu posso ser assassinado, eu posso ser ameaçado. Tenho família, a minha família pode ser atingida. Por que? Porque eu sei que esses grupos crescem. Se um dia eles me considerarem como algum tipo de ameaça, até agora não sou, não fui, nunca fui, assim, real, isso me deprime também. Porque eu falo: “Pô, pesquiso faz tanto tempo os caras, não dá”.
Carta Capital: Ontem um juiz do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em uma entrevista de televisão, ele foi perguntado sobre a possibilidade de um golpe militar, sobre o papel das Forças Armadas no Brasil, no governo Bolsonaro e ele responde assim: “Não, eu não tenho medo de um golpe das Forças Armadas, mas eu tenho medo de um soldado e de um cabo das milícias do Rio de Janeiro”. Aí vamos explicar para quem não se lembra. Em 2018 um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, disse durante uma palestra que bastavam um soldado e um cabo para fechar o Supremo. Então o que um juiz do Supremo diz hoje é: “Eu não tenho medo de um soldado e um cabo do Exército mas sim de um soldado e um cabo das milícias do Rio”. As milícias são ousadas e violentas o suficiente para praticar algum crime, alguma violência contra algum membro do Supremo Tribunal Federal? [00:46:39]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Bom, até esse momento, pelo que eu saiba, não. Mas creio que são muito fortes e corajosos com a gente pobre e frágil, moradora de periferia, aí eles são da violência, da força. Contra os mais pobres eles são capazes. Contra os que têm poder, dinheiro, projeção política, mesmo membro do Supremo Tribunal, eles nunca atuaram, nunca fizeram. Ameaçaram o Marcelo Freixo porque conduziu uma CPI que indiciou 226, levou a indiciamento de 226 membros de milícias no Rio de Janeiro. Sim, aí eles podem atentar contra o Marcelo Freixo, a Marielle Franco foi assassinada. Um juiz do Supremo Tribunal Federal, é uma última instância ser ameaçada, eles não sentem o efeito do Supremo agora nesse momento. A não ser que o Supremo comece a tomar decisões reais contra esses grupos, e aí decisões. Quais seriam essas decisões? Que restringissem por exemplo a atuação desses grupos aqui no Rio de Janeiro, a partir de investigações promovidas pelo Ministério Público Federal, a implementação pelo próprio STF de uma legislação que atuasse decisivamente contra os membros do Estado envolvidos nisso, com investigações reais. A Raquel Dodge, que foi da procuradoria geral da União, ela chegou para fazer movimentações, mas ela não concluiu isso no sentido de modificar, fazer modificações, de propor modificações nesses métodos de investigação, e da própria jurisprudência que avança nesse sentido. É preciso fazer esse debate. Eu não sei se o STF tem essa interferência direta na milícia, e se a milícia iria atingir o STF. O Exército iria se valer dos serviços da milícia para fazer isso? Eu falei aqui por aproximação entre o Exército e essa canalha assassina. Até hoje ela não existiu, pode ser, também uma hipótese.
Carta Capital: Professor, o que o juiz Gilmar Mendes, no meu entendimento, quis dizer com essa declaração foi que as milícias, diferentemente de o que a gente imagina em relação ao Exército, ou de membros do Exército, sim, responderiam a um comando de cima, nesse caso de quem? Do presidente Jair Bolsonaro. Existe uma dúvida, hoje por exemplo, em relação à ascendência nas polícias militares. As polícias militares, elas respondem aos governadores, isso do ponto de vista formal, mas se houvesse um chamamento de Jair Bolsonaro, elas, as PMs, tem muitos simpatizantes do presidente, ficariam com quem? Não ficariam com ele? [00:49:42]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Esse debate está acontecendo nesse momento e eu tenho visto algumas interpretações. Uma é que a hierarquia, o comando, todo o plano de carreira dos policiais militares, levariam eles a seguirem sim as ordens dos comandantes, as ordens dos governadores, levariam eles a pensar mais na sua própria trajetória como servidores públicos em busca dessa sua projeção (falha do áudio) nesse crescimento dentro de um plano de carreira burocrático, racional, feito pelo Estado. Uns estão dizendo isso, que seria incapaz de ocorrer uma espécie de sublevação dos praças, dos cabos, ou dos níveis mais baixos dessa hierarquia em nome de um possível golpe, eu tenho escutado isso. E o que eu também tenho escutado, e eu faço esse debate pelo outro lado, é os seguinte: de que essa imagem de que a hierarquia, os planos de carreira, a dimensão burocrática racional, meio weberiana do Estado, esse monopólio legítimo da força do Estado que garantiria legalmente esse funcionamento, isso aí está ultrapassado, isso não existe mais. Como eu falei numa resposta anterior, a estrutura miliciana e dos grupos, primeiro assim, eu digo que os grupos de extermínio montaram a milícia. Os grupos de extermínio estão no Brasil como um todo. Todo o aparato de grupo de extermínio hoje no Brasil, ele funciona por dentro do Estado, por dentro da rede de segurança. Então, você vai em Pernambuco, Ceará, você vai no Mato Grosso, aonde você for, que tenha conflito urbano e rural, conflito com favelado, com traficante, com ocupante de terra, de solo urbano, com quilombolas e indígenas, áreas de mineradoras, aonde você for nesse território, os membros dos grupos de extermínio estão matando e são organizados por dentro da polícia. Então aí você já começa a ter uma dimensão ilegal que sempre funcionou e nunca foi desmontada por dentro do Estado. Quando você olha para isso, você já vê uma influência maior. Quando você vê outros negócios onde a milícia entra, e são vários negócios que pode ser com terras, pode ser com empreendimentos, aqui no Rio de Janeiro é a base de financiamento de poder desses grupos. Então quando você olha para isso, você fala: “Eles têm uma autonomia muito grande”. Eu, hoje, essas forças sem contar que os próprios praças, eles desestabilizam os comandantes. Há pouco tempo o comandante da ROTA lá em São Paulo, veio uma matéria grande dizendo que ele foi demitido porque ele começou a ter posições contrárias à abertura, ao fim do isolamento social, que é o que prega o presidente da república, e em função disso os praças, as hierarquias mais baixas começaram a contestá-lo e a desestabilizar aquele comandante, ele acabou sendo removido. Isso é uma matéria recente, isso é possível, isso é muito possível, tem um jogo político aí. Agora, o que acontece talvez nessa sua afirmação, André, é que não é necessário fazer um golpe militar. Eu acho que o pessoal está muito ainda preso numa dimensão histórica passada lá de 64, com tanques na rua, com tropas nas estradas, com as pessoas sendo presas ou com fechamento geral, fechamento do Congresso, do STF. Isso tudo é jogo de cena, o STF não toma posicionamentos reais contrários a quem está no poder, deixou tudo isso seguir, deixou a Lava Jato de forma mais uma vez ilegal, totalmente regular, avançar e confiscar os direitos políticos do principal candidato, foi esse o papel do Moro, foi esse o papel da Lava Jato. O STF aceita e reconhece isso, sem fazer intervenções maiores. O Exército faz hoje um jogo de cena que é moderador do Bolsonaro, que faz com que ele seja mais comedido. Mas o Exército está todo comprometido, tem quase 3 mil cargos em Brasília ocupados pelo Exército que mantém o funcionamento de tudo isso a partir do (ininteligível) é todo um jogo. A meu ver você tem um jogo de cena de fechamento progressivo da estrutura política, de ampliação da violência, da força desses grupos, de tal maneira que você, como jornalista, eu como sociólogo, cada vez mais vamos nos sentir pressionados a não fazer esses trabalhos. A população está cada vez mais assustada com essa estrutura de poder. E daqui a pouco você vai aprovar, como está sendo discutido na lei, na questão das fake news, você vai começar a aprovar um conjunto de medidas para controle, por exemplo, das publicações em redes sociais. E aí você vai fechando cada vez mais, é o que fizeram lá nos Estados Unidos com o Patriotic Act, que é a forma de você controlar a população que está ali desenvolvendo informações ou criando debate. Você pode usar isso não para controlar simplesmente a fake news, mas você pode controlar agora toda a produção de informações num país. Então você não precisa mais daquele modelo, você é democraticamente eleito, entre aspas. Foi um pleito absolutamente ilegal, a meu ver, com a exclusão do principal candidato por um julgamento, a partir de um julgamento dentro do judiciário absolutamente irregular e incabível. E você tem a cumplicidade de um sistema do judiciário que aceitou isso, a cumplicidade das Forças Armadas, que juntas fazem o papel de protetores guardiões da democracia e fazem discursos contra milícia, discursos contra possíveis ataques ou fazem discurso de moderação do presidente, mas no fundo são todos cúmplices de um projeto de golpe que está em andamento. Ele está em andamento, ele está se desenrolando, os dados estão sendo jogados ainda. E eles estão avançando, é isso que eu vejo. Então ficamos assustados e baratinados com o discurso de golpe, mas na verdade o golpe está em marcha há muito tempo, e vem caminhando e vem progressivamente avançando. Eu não vejo eles obterem (ininteligível), e tal. O clã Bolsonaro, os grupos milicianos e suas conexões nos Estados, aqui no Rio de Janeiro você tem o Wilson Witzel, você não vê prejuízos políticos para esses grupos. Eles continuam avançando e crescendo. É assim que eu tenho observado.
Carta Capital: Com essa sua resposta, o senhor atende aqui uma pessoa que nos assiste, a Renata vilela Fernandes que queria saber exatamente se a integração de legalidade e ilegalidade dentro das instituições que detêm o monopólio da violência, poderia ser usado aí para um golpe. O senhor acha que o golpe já está dado? [00:56:43]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Eu acho que sim. Ele já está colocado, ele já foi colocado para nós, ele está em marcha. Esses grupos estão crescendo no Brasil, não estão diminuindo. Eles vão avançar. Esse é um ano eleitoral, você tem que acompanhar, nós temos que acompanhar agora as eleições. Eu tenho informações de miliciano indicando cargos de terceirizados de contratados em prefeituras da Baixada desde meados de 2019. No meio do ano de 2019 eu começo a ter informações de que milicianos vereadores, milicianos deputados aqui no Rio de Janeiro na Baixada, estão indo nas prefeituras e estão removendo todos os nomes de contratados que não são vinculados a eles e colocando novos nomes. Eu tenho exemplo aqui de Belfort Roxo de um prefeito que dá um cargo importante na Prefeitura para um miliciano que está preso. Quer dizer, ele está em regime meio que aberto, então ele ganhou esse cargo na Prefeitura. Então esse ano é um ano eleitoral, é decisivo, é decisivo, milicianos vão se eleger. Membros do aparato policial, policiais militares, policiais civis, policiais federais, eles estão vindo e se elegendo, eles têm um projeto político real. Membros do Exército estão se projetando politicamente, então, ao meu ver eles não precisam dar um golpe estabelecido que nos assuste e diga: “Eles tomaram”. Isso causa muito transtorno para eles, é muito pesado, tem um ônus muito grande de dar um golpe assim. Eles estão praticamente a partir de um projeto que eu falo, há cinco décadas os grupos de extermínio estão avançando no Brasil, é isso que eu escuto. A partir de cinco décadas eles estão mapeando como é que se avança nesse projeto político. E agora eles têm a faca e o queijo na mão, eles têm esse projeto estabelecido. Eles vão agora percolar no âmbito municipal, eles vão avançar com os seus apoiadores, com os seus nomes diretamente vinculado a eles, ou aqueles que são aliados a eles pela extrema direita, pelo discurso moralista, discurso conservador, discurso fundamentalista, todo esse discurso de bandido bom é bandido morto. Eles vão avançar agora no plano municipal para em 2022 eles se reelegerem e continuarem esse projeto. Então não precisão dar golpe nenhum, o golpe está dado, eles estão avançando por dentro da estrutura democrática. A democracia, eu vou fazer uma crítica, a própria esquerda não foi capaz de arranhar isso. O governo Lula e o governo Dilma não arranharam essa estrutura. A estrutura de segurança pública sempre foi mantida com esse patamar. Quando o Sérgio Cabral hoje preso, então aliado político do Lula aqui no Rio de Janeiro, como governador pelo PMDB, quando ele fez a operação em 2007 do Panamericano lá no Morro do Alemão e mataram 19 pessoas, e uma comissão de peritos identificou que 70% das perfurações dos corpos ocorreram na cabeça e nas costas das vítimas, havia um indício muito claro que foi execução sumária, tinha que investigar isso. A declaração do Lula é “Não se combate violência com pétala de rosas”. Ora, isso é declaração de apoiadores do Witzel hoje no Rio de Janeiro. Infelizmente a própria esquerda foi conivente com essa base violenta que foi montada por dentro da estrutura policial, que é a base que alimenta as milícias todas, que alimenta grupos de extermínio todos. Então infelizmente a própria esquerda não foi capaz de agir e hoje nós estamos… agora a dizer: “Ah, nós temos que voltar ao PT, voltar o Lula como solução”. Não foi solução, eles são responsáveis pela criação dessa estrutura que nós temos hoje. É preciso fazer a autocrítica, é preciso pensar uma outra estrutura de sociedade, de Estado e de segurança pública. Nós não somos capazes, nós estamos presos nesse modelo na qual vivemos hoje.
Carta Capital: Professor, o senhor chamou a atenção para o fato de que vai haver eleição esse ano, eleição municipal, o papel das milícias. E aí, eu vou lhe perguntar a pedido de Amarildo Ribeiro: o senhor consegue fazer alguma associação das milícias com movimentos religiosos neopentecostais presentes aí na Baixada Fluminense e na capital, Rio de Janeiro também? E emendo um comentário, só é um comentário, não é uma pergunta, é da Rebecca Santos. O povo das favelas vota nesses caras por medo. [01:00:57]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Por medo? Sim. Esse é um tema muito complexo, que para nós que estudamos, temos que ter muito cuidado em estabelecer uma relação. Eu poderia dizer numa linguagem meio weberiana que há uma escolha, uma eleição efetiva entre esses dois grupos, entre grupos de neopentecostais e os grupos milicianos. Mas isso não é uma coisa simples de se compreender, não há uma ligação direta, não é assim que funciona, ele não vai funcionar assim. Se você vem com essa ideia você não é capaz de compreender. E se você não é capaz de compreender, você vai julgar equivocadamente os pentecostais e aí traz vários problemas. Os grupos pentecostais foram o que surgiram e emergiram nessas comunidades pobres como alternativa real. O Estado, que é ausente, na verdade ele não é ausente, ele não está presente de determinada forma, mas ele está presente de outras formas. Os grupos que tomaram o Estado, que governaram o Estado desde o final da ditadura militar, esses grupos viram numa relação de clientelismo, de troca, de toma lá da cá, como a melhor estrutura para se obter voto no país, no Rio de Janeiro e nas periferias, essa é a verdade. Nessa concepção as igrejas evangélicas, elas emergem como uma estrutura popular, não existe nenhuma outra igreja, movimento social, com a expansão, com o crescimento e com a dimensão dos evangélicos, pentecostais principalmente. Por que? Eles dão voz, eles dão atuação, eles dão capacidade de organização e de poder dentro das comunidades religiosas para as pessoas mais simples e mais pobres, analfabetos, negros, favelados, pessoas miseráveis conseguem ter esse poder e construir a sua solução. Gente que era traficante, gente que era ameaçada de morte, gente que perdeu família porque a família se dissolveu, pessoas doentes, dependentes químicos viram nesses movimentos religiosos a solução do seu projeto de vida, projeto de vida quebrado, destruído, foi reconstruído por essas igrejas. Elas foram o que sobraram para essa população. Sobrou até porque o próprio Estado se distancia dessa população para poder fazer clientelismo e negócios com essa população, os governantes fizeram isso. Então, nesse mesmo local que surgiram as igrejas evangélicas, que elas estão cresccendo, é o local dos grupos de extermínio e da milícia. Então eles coabitam o mesmo espaço. É inevitável, é incontornável, eles vão se encontrar, não há como não se encontrar. E se o grupo miliciano que faz agora, a partir de um debate político, um discurso moralista, um discurso fundamentalista, muitas vezes LGBTIfóbico, racista, machista, contrário a determinados movimentos sociais que estão emergindo na sociedade, eles vão muitas vezes encontrar eco nesses grupos religiosos. Agora quero dizer, nem todas as igrejas evangélicas pentecostais apoiam esse discurso. Tem divergências. Claro que é minoria, claro que a maioria acaba entrando pelo discurso político ideológico favorável a essa percepção mais moralista, mas eles não são ignorantes, não são estúpidos, não vivem das fake news, eles são capazes de racionalizar aquilo que os protege. E quem os protegeu a vida inteira foram aquelas comunidades, aquelas igrejas, foram aqueles pastores que hoje se veem ligados por vínculos territoriais de proteção, por vínculos econômicos financeiros, que milicianos dão dinheiro nas comunidades também, e acaba criando uma eleição efetiva, eles vão se aproximar e vão se conectar, mas não há uma relação direta de apoio, de suporte a miliciano. Não existe isso, o que você vai ver é um conjunto de fatores sociais, econômicos, culturais e políticos que vão aproximar esses dois grupos e os fazem se relacionar nesses espaços. É assim que eu vejo.
Carta Capital: E que curioso, eu acho que as igrejas evangélicas talvez sejam um outro ponto de contato entre bolsonarismo e milícias. Professor, mais uma pergunta que vem aqui do público. Essa aqui é do Carlos Cunha. Existe uma aliança entre milícia e tráfico de drogas em alguns segmentos e territórios? Ou isso é lenda? [01:05:28]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Não, isso não é lenda. Eu vou falar do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense que eu conheço muito bem. Isso não é lenda. Então, vou falar aqui dos três principais grupos organizados criminosos do Rio de Janeiro, eu não vou falar dos menos importantes. Você tem o que a gente já falou aqui, grupos de extermínio na sua fase miliciana, as milícias, é o grupo mais forte hoje que cresce, que avança dentro do Estado com proteção, se projetando politicamente, esse é o grupo. E depois você tem duas facções do tráfico de drogas: o Comando vermelho que é a maior que hoje existe no Rio de Janeiro. E o 3º Comando Puro. O Comando Vermelho, a sua origem, o seu nascimento está vinculado à um momento do final dos anos 70, era um momento da ditadura empresarial militar de 64, estava no ocaso mas ainda estava existente ali. Eles foram tratados, membros do Comando Vermelho no seu início, tratados pela Lei de Segurança Nacional. E foram presos, foram torturados e que foram mantidos como presos nessa lógica, porque eles eram assaltantes de banco inicialmente. E a ditadura atuou contra isso. Eles, portanto, construíram uma identidade política como facção criminosa na contraposição do Estado. Eles veem o Estado como inimigo mesmo, eles veem como (ininteligível), eles querem matar os membros do Estado. Isso está na origem do Comando Vermelho. O Terceiro Comando Puro, ele vem de uma outra origem, também no mesmo momento, só que eles têm uma relação muito forte desde a sua origem com a estrutura policial. Alguns jornalistas no Rio de Janeiro chegam a dizer que o Terceiro Comando, antes de virar Terceiro Comando Puro, na primeira fase dele, depois vai dar origem ao Terceiro Comando Puro, que esse Terceiro Comando foi criado por policiais, têm jornalistas que vão falar isso no Rio de Janeiro. Então o Terceiro Comando, ele sempre teve Terceiro Comando Puro, ele sempre teve um comportamento de negociação, de pagamento de arrego, de aceitar um suborno, de fazer mediações com a estrutura policial, raramente eles vão para o confronto com a polícia, raramente. A partir disso, você tem hoje no Rio de Janeiro uma conjuntura muito interessante. Você tem a milícia tomando áreas do Comando Vermelho, que é o principal, que o Comando Vermelho sabe que miliciano está vinculado à estrutura do Estado, ele tem vínculo com a polícia, e esse Comando Vermelho tem ele como principal inimigo, só que nessa atuação da milícia contra o Comando Vermelho, a milícia vai se aliar com o Terceiro Comando Puro, e aí nós vamos chamar de uma Aliança 5.3, Terceiro Comando é 3 e milícia é 5, e o Comando Vermelho é 2. Então a Aliança 5.3 é uma aliança entre a milícia e o Terceiro Comando Puro. Isso está ocorrendo muito na Zona Oeste ali, Praça Seca, Jacarepaguá, naquela área você tem muito isso ocorrendo. E isso já ocorreu aqui na Baixada Fluminense, na região aqui de Nova Iguaçu já temos notícia sobre isso, e você vai ter esse perfil dessa aliança milícia-tráfico de drogas para lutar contra uma outra facção, que é a facção hegemônica, dominante, mas é a que vem sofrendo o maior número de baques. Veja, as operações policiais com mortes ocorrem na sua grande maioria esmagadora, mais de 80% das operações ocorrem nas áreas do Comando Vermelho, minoritariamente milícia quase você não vê, Terceiro Comando é muito pequeno, algo em torno de 13% das operações vão ocorrer em área de Terceiro Comando Puro. As UPPs, esmagadoramente foram estabelecidas em áreas do Comando Vermelho, e os confrontos com milícias se dão nas áreas do Comando Vermelho. É de tal maneira hoje no Rio de Janeiro que você tem uma geopolítica hoje do crime organizado no Rio de Janeiro com dois grandes vetores. Você tem a Zona Oeste do Rio de Janeiro, então você tem, nós falamos ali Rio das Pedras. Rio das Pedras, Musema, Gardênia Azul, ela faz uma conexão. E o Adriano Magalhães da Nóbrega foi o agente de integração disso. Faz uma conexão dessa área com Campinho. Campinho é uma área intermediária da Zona Oeste, e dessa área intermediária você vai ter a conexão agora pelo Adriano Magalhães da Nóbrega com a Liga da Justiça, ou A Firma, que é a milícia mais forte hoje no Rio de Janeiro, então você tem um eixo da Zona Oeste que já está toda tomada pela milícia. Para não dizer que está todo tomado, a Cidade de Deus ainda é do Comando Vermelho, ainda pertence ao Comando Vermelho, mas está progressivamente sendo destruída. E outras áreas na Praça Seca, no Tanque, aquela área do Jacarepaguá está sofrendo um impacto grande da Aliança milícia com o Terceiro Comando Puro. Então o Comando Vermelho vem perdendo espaço nessa área da Zona Oeste. E esse eixo vai até Itaguaí, Itaguaí é Baixada Fluminense. E o outro eixo vem pelo Arco Metropolitano, pega Duque de Caxias com presença fortíssima da milícia, vendendo terra, com uma Prefeitura que tem vínculos reais de apoio a essa prática de venda de terrenos pela milícia. Você tem Nova Iguaçu, Belfort Roxo, Japeri, tudo área de atuação miliciana. Esses dois, Zona Oeste e Arco Metropolitano, se encontram no Porto de Itaguaí. E o Porto de Itaguaí vira hoje uma base estratégica. Se a milícia for avançar no Rio de Janeiro e no Brasil, ela avança para o exterior, como a máfia italiana fez, a parte de negócios internacionais. E isto na geopolítica está sendo construída hoje no Rio de Janeiro.
Carta Capital: Professor, olha que interessante. Nessa geopolítica particularmente da Zona Oeste, Jacarepaguá tem o seu 18º Batalhão da Polícia Militar localizado, ali foi onde se conheceram em 2003 Fabrício Queiroz, o ex-PM que estava escondido na casa do advogado de Flávio Bolsonaro e Adriano Magalhães da Nóbrega, em 2003. E naquele momento, naquele ano, os dois participaram de uma ação policial na Cidade de Deus que terminou no assassinato de um negro de nome Anderson, um caso até hoje não esclarecido. Ali perto do batalhão fica a Associação de Moradores de Rio das Pedras, que era segundo a Operação Intocáveis, o QG da milícia liderada por Adriano da Nóbrega. E dali a 10-15 quilômetros está a casa de Jair Bolsonaro em um condomínio e do lado, ao lado do condomínio, um prédio onde tem um apartamento, o Flávio Bolsonaro. E o senhor mencionou o Porto de Itaguaí. No ano passado, quando o presidente da república quis a demissão do chefe da Polícia Federal no Rio, em agosto, houve uma tensão muito grande para que houvesse a troca do chefe da Receita Federal no Porto de Itaguaí. Que agora o senhor explica que é uma espécie de ponta de lança para o exterior da atuação de uma milícia! [01:13:02]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Com certeza. De uma milícia não, de todas as milícias nesses dois grandes deles. Eu estou falando aí algo em torno de se a Baixada hoje tem, vamos falar aí, nesses municípios que eu falei, algo em torno de 2, chega quase a 3 milhões de habitantes e a Zona Oeste um patamar mais ou menos estou falando de minimamente 6 a 7 milhões de habitantes, que hoje convivem nesses dois eixos que podem ter uma implementação de negócios internacionais. É um supermercado de venda de tudo que você possa imaginar. Hoje a milícia vende cigarro que vem do Paraguai, clandestinamente. Não precisa de porto, é verdade, Paraguai vem via terrestre. Mas qualquer outro negócio que possa ter vínculos com clandestinidade, com contrabando, com crime organizado, drogas por exemplo, você pode ter, qualquer outra mercadoria que possa entrar por ali, o Porto de Itaguaí é um porto chave, é ponta de lança de qualquer grande negócio em termos internacionais. Então controlar a Receita no porto, controlar as autoridades que fiscalizam e acompanham porto é algo chave nesse negócio, é um grande negócio. E não há coincidência nisso, nós estamos falando de uma região muito próxima que monta uma geopolítica da estrutura da milícia e da estrutura também do próprio tráfico de drogas, do crime, já que você tem uma aliança entre milícia e uma das facções do tráfico aqui no Rio de Janeiro. Então você configura o próprio tráfico a partir dessa atuação da milícia e do Terceiro Comando. Não é à toa que agora no âmbito nacional as duas grandes facções do tráfico que é o PCC, o Primeiro Comando da Capital] e o Comando Vermelho, eles desde 2017, eles estabeleceram uma trégua, eles começaram a fazer um grande acordo entre eles e o próprio Comando Vermelho começa a diminuir a sua dimensão de confronto interno com as outras facções aqui no Rio de Janeiro, porque ele está percebendo que ele, nesse processo, ele vai ter que mudar o seu próprio perfil de confronto, eles devem partir agora para uma outra estratégia que o PCC é o principal agente dessa estratégia e o Terceiro Comando aqui no Rio de Janeiro, que é a estratégia do acordo, da hegemonia, do suborno, esta tese da cooptação, eles não querem confronto, eles não querem guerra. Você tem por exemplo de 2018 para 2020 aproximadamente 20% na redução de homicídios no país. Ora, isso não é explicado em um ou outro grande fator. Fala-se em mudança da faixa etária, fala-se em mudança do perfil de políticas públicas, eu não vejo que essas políticas públicas tenham se modificado. Eu acho que o que ocorre hoje é que há essa maior negociação entre as grandes facções, a busca de negociação e a busca de projetos políticos que não querem… o discurso é do bandido bom é bandido morto, é o discurso que dá voto. Mas na prática você tem a milícia e facções fazendo acordos para se manterem e para de uma certa forma protegerem projetos políticos. Isso responde um pouco a outro comentário. As pessoas nas favelas votam por medo nessas pessoas, eu acho que sim, há o medo, é um fator. Mas existe um outro fator que não é o medo, esses grupos, eles começam a trazer projetos reais de ascensão social e econômica e política para membros dessas comunidades que acaba comprometendo, por exemplo, as pessoas que estão no tráfico, eu tive informações que muitas do tráfico votaram no Bolsonaro. Votaram porque há uma conexão com a estrutura miliciana, há uma conexão do tráfico de drogas que se apoia junto com a milícia e que apoia esse projeto político e se vê beneficiado com ele. E aí você tem conexões com membros da comunidade que vão votar não só pelo medo, mas também pelo interesse de ganhos com essa estrutura, isso também pode acontecer. Então acho que sempre tem os dois elementos, o medo e o consenso pela obtenção de algum tipo de ganho.
Carta Capital: Tem aqui a Cristina Borges diz: “Excelente entrevista. Trabalho na Baixada há 30 anos e observei todo esse processo que o senhor menciona”. Temos aqui também um outro elogio de Pen Neves: “Excelente análise do sociólogo sobre esse acúmulo de poder por meio da violência e o caráter miliciano dessa violência”. Eu quero lhe perguntar também a pedido aqui do público em relação com o que o senhor acaba de dizer, voto, medo e o outro lado. O atual governador do Rio, Wilson Witzel, essa pergunta é da Gisele Saviani, o governador Witzel surgiu do nada. Como ele conseguiu ser eleito? Houve alguma ameaça para a população votar nele? [01:18:11]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Não. E aí não precisa de ameaça. (riso) Aqui no Rio de Janeiro o discurso que ele trouxe, discurso colado, primeiro ele grudou, ele se grudou no Jair Bolsonaro que vinha com um discurso de ascensão dentro do 2º turno, principalmente, ele então se projeta junto com Bolsonaro. E se projeta num campo que é o campo do Rio de Janeiro, aonde o discurso da letalidade, do aumento da força policial, de matar bandido, bandido bom é bandido morto, esse discurso que deu a vitória para o Bolsonaro também, a Baixada e a Zona Oeste tem regiões que deram 75% da votação para o Bolsonaro. Então essa projeção desse discurso político carreou também, carregou consigo o Witzel, um desconhecido, aquele discurso que a gente sabe que o cara é muito bom, ele elege até um poste. Então, ele pode eleger também o cachorro que mija no poste, quando o cara é muito bom você tem esse fenômeno. Esse “muito bom” que eu estou falando significa capacidade de convencimento da população que está votando. E essa capacidade vêm, claro aí sim, vem pelo medo, o medo da população como um todo que é estimulado, que é instigado. A ausência de políticas públicas na área de segurança que controle a milícia, que controle a atuação da corrupção policial, que controle também o tráfico de drogas que de certa forma só existe com base na corrupção policial. Uma política de habitação adequada para essa população que sofre, que é entregue à sua própria sorte, uma política de saúde que agora essa população é a que mais morre, o pessoal fala: “Ah, o coronavírus mata indistintamente pobres e ricos”. É mentira, os pobres estão morrendo muito mais. Os mortos pelo coronavírus tem cep, isso a gente sabe, é Baixada, é Zona Oeste, são as favelas, são as áreas mais pobres. Então, o abandono da saúde, o abandono da educação pública, tudo isso é um grande projeto. E esse projeto que não ouve a população, não incorpora a população criativamente na construção de políticas públicas adequadas, é a mesma política que vai dizer então quem vai dominar, quem é mais forte. O mais forte aqui é a milícia? Então ela que vai dominar e determinar quem vai mandar aqui, quem vai seguir no poder aqui. E essa milícia vai se aliar com esses grupos, e aí você tem essa projeção. O witzel fez o discurso da milícia, o Bolsonaro fez o discurso da milícia. A milícia se projeta, ela se elege, senão ela mesma elege aqueles que os apoiam, que têm vínculos com eles. Então foi assim, a meu ver, que em 2018 o próprio Witzel se agarrou no discurso vitorioso que vinha trazendo Bolsonaro, percebeu ali uma chance, um grande oportunista, se abraçou com isso e começou a defender esse discurso e ele se projeta a partir daí. Agora, esse discurso, ele se dá porque o medo está instalado, as populações entregues à própria sorte, desenvolvem um medo cada vez mais e você, com medo, você não é capaz de pensar mais. Qual é a maior resposta ao medo? Quando você está submetido a uma situação de medo, qual é a resposta automática que você praticamente vai acessar? A raiva. A raiva é a melhor resposta ao medo, você desenvolve uma raiva brutal contra aquilo que te ameaça. A milícia é a raiva, a raiva cega, solta por esses grupos para matar pessoas envolvidas assim ditas em crimes, eles são transformados em inimigos, os inimigos públicos número 1 hoje são traficantes, ladrões, assaltantes. Então eles são tachados com inimigos. Em 64 os inimigos eram subversivos, comunistas. Hoje você até acopla comunista, subversivo e esquerdista com o traficante, eles são os grandes inimigos, e aí você solta os cães assassinos da própria milícia para atuar e matar essas pessoas. Então a morte da Marielle, a morte de pessoas das comunidades pobres, você vê agora criança sendo assassinadas, tudo isso sob o beneplácito de um discurso de que você tem que acabar com o seu inimigo. E aí tudo isso vai se homogeneizando. Por isso que eu digo, não é prciso golpe militar algum, não é preciso botar tanques na rua. Basta você implementar política de execução sumária como política pública de segurança, que é o que o Witzel faz hoje no Rio de Janeiro, basta você matar essas pessoas indefesas nessas comunidades, você controla cada vez mais, dá mais poder às milícias, eles se projetam politicamente e progressivamente você vai democraticamente pelo voto colocar essas pessoas no poder e assim que eles estão aí. O Witzel está assim, Bolsonaro está assim, e outros tantos seguirão assim. Então você não tem a necessidade do ônus de um golpe militar antidemocrático, fechamento de Congresso, fechar o Judiciário, você não precisa mais disso. Você tem a conivências dessas estruturas e elas vão favorecer um projeto constante, permanente e a médio… curto, curto agora, curto e médio prazo de poder no Brasil, você não precisa do medo imediato para se impor, você tem o medo construído progressivamente e a violência como uma solução para esse medo: a raiva como solução desse medo.
Carta Capital: Professor, queria só para terminar, nós falamos pouco de um personagem importante nessa história entre bolsonarismo e milícias, que é Fabrício Queiroz. Fabrício Queiroz foi chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro durante muito tempo, recolhia o salário de parte dos funcionários, embolsava uma parte, repassava outra parte para a família Bolsonaro, é isso que apontam as investigações das rachadinhas. Mas agora, na operação que o prendeu, prendeu Queiroz na semana passada, nós temos um relato do Ministério Público sobre uma conversa tida por ele, Queiroz, com a esposa Márcia Oliveira de Aguiar. A Márcia Oliveira envia para o Queiroz em 14 de dezembro de 2019 o áudio de uma pessoa que pede ajuda para o Fabrício Queiroz junto a milícias da região de Rio das Pedras, Itanhangá. Nesse áudio o rapaz não identificado diz assim: “Eu tive um problema ao estacionar o meu carro, houve uma discussão e aí os meninos – ele usa essa expressão – os meninos daqui levaram isso aí para o pessoal que manda, e eu precisava agora resolver a minha situação”. E o Queiroz responde da seguinte maneira: “Olha, eu não posso falar com essa pessoa porque tá todo mundo grampeado – ou melhor – eu não posso falar com os meus contatos porque tá todo mundo grampeado. Eu resolvo isso pessoalmente”. Então, eu acho que esse é um exemplo que mostra que Queiroz também é outro personagem dessa história: Bolsonaro, milícias. O senhor concorda? E quem é o Fabrício Queiroz aí, segundo o seu acúmulo de conhecimento? [01:25:34]
Professor José Cláudio Soouza Alves: Então, essa figura chave é a figura que vai fazer… eu chamo ele de dobradiça, são os caras que vão fazer a conexão entre a dimensão legal e ilegal. Ele é o cara que opera na legalidade, as (falha no áudio) esquema de rachadinha. Mas por outro lado, ele é essa figura que vai fazer essa conexão (falha de áudio).
Carta Capital: Nós tivemos um problema técnico aí com o professor, a internet dele travou enquanto ele falava sobre o Fabrício Queiroz, esse personagem importante no caso das rachadinhas de Flávio Bolsonaro. O Queiroz está preso desde a quinta-feira, 18 de junho (2020). Sua esposa teve a prisão decretada, Márcia Oliveira de Aguiar, mas ela está foragida. Nos últimos dias houve uma operação policial e do Ministério Público em Minas Gerais para tentar localizar, achar a Márcia. Foi uma operação realizada em Belo Horizonte, em vários endereços de Belo Horizonte, e ela podia estar escondida por lá, porque o Queiroz, seu marido, é de Belo Horizonte, tem familiares por lá e então podia ser um local de esconderijo da Márcia. Ela continuará sendo perseguida para ser presa, apesar da decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que ontem tirou o caso de um juiz de 1ª instância, o caso das rachadinhas, o juiz Flávio Itabaiana Nicolau, mas manteve todas as decisões tomadas até agora pelo juiz, inclusive a decretação da prisão preventiva do casal Queiroz, Fabrício Queiroz e Márcia Oliveira de Aguiar. Mas essa decisão do Tribunal de Justiça desafogou um pouco a situação do Flávio Bolsonaro e do Queiroz porque havia, era iminente uma acusação criminal por parte do Ministério Público contra os dois após a prisão do Queiroz e a reunião de todas as provas que nós já temos até agora, e com essa decisão do TJ do Rio o caso ficará em suspenso por um tempo. O próprio TJ vai reavaliar as provas reunidas aí pelo juiz, e pode decidir ou não validá-las, o que até o momento foi feito ou revogá-las. A defesa de Flábio Bolsonaro já pediu imediatamente que o novo relator do caso, o relator que tomará conta no TJ do Rio, mantenha todas as provas. Então foi isso, o Professor José Cláudio Souza Alves teve esse problema, não foi possível a gente restabelecer o contato até o momento, mas depois de uma hora e meia de conversa, a gente já caminhava para o final. Gostaria de agradecer à audiência de todos, encaminhamos as perguntas que foram possíveis encaminhar para o professor.
(…) (agradecimentos, comunicados e despedidas) [01:29:13]